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Entrevista: Kepler prevê mais investimentos com preço do aço estável em 2022

Atualmente, a Kepler é líder no setor de soluções para armazenagem e pós-colheita na América do Sul (Foto: Kepler Weber/Silo/Divulgação)

Vindo de um ano em que investiu R$ 34 milhões em aumento de capacidade fabril, a Kepler Weber (KEPL3) afirma que o movimento de investimentos tende a se repetir para 2022, disse o CFO Paulo Polezi, em entrevista ao Mercado News. “Temos mais um ano de expansão de capacidade para atender o mercado”. Além disso, o executivo conta que sua carteira de pedidos vira o ano “bastante” robusta, indicando um 2022 bom para a líder do setor de soluções para armazenagem e pós-colheita na América do Sul.

Depois de ter sofrido nos últimos dois anos com a inflação do preço do aço – principal matéria prima da Kepler – Polezi observa que a commodity já está estável e que estão com o abastecimento “em dia”. Assim, esperam que o próximo ano seja de crescimento equilibrado. “Tendência é que a gente cresça um pouco mais em volume até do que crescemos e vamos crescer em 2021”, contou o CFO.

Atualmente, a Kepler possui 40% do mercado em seu setor, e vê oportunidades na digitalização dos silos que armazenam grãos, com a tecnologia chamada sync. De acordo com Polezi, a plataforma permite monitorar o processo, gerar dados e controlar a planta com eficiência, sem necessidade humana, traduzindo isso em ganho de produtividade. Assim, de cerca de 3% de grãos que são perdidos nos silos, esse número é reduzido para 0,5%.

Além disso, a empresa busca uma diversificação maior em sua oferta, com equipamentos de maior valor agregado, por exemplo com máquinas selecionadoras. “Isso faz com que aumentemos o portfólio, melhore a presença perante o produtor e traga equipamentos que aumentam a margem também”, concluiu.

A seguir, leia a entrevista completa:

Mercado News – Como você apresentaria a empresa nas suas palavras?

Paulo Polezi Antes da Kepler ser uma empresa, ela representa uma marca muito forte, uma líder de mercado. O que oferecemos para o produtor rural, no final do dia, são soluções de pós-colheita de grãos para o agronegócio. Mas ela vai muito além disso, porque oferece muita segurança. Quando você contextualiza a segurança da marca Kepler para um produtor rural, cooperativa, cerealista, até para uma indústria de processamento de grãos, isso vale muito hoje. A Kepler completou 96 anos de história, então daqui a pouco vai se tornar uma empresa secular. É uma empresa que foi se reinventando ao longo do tempo, não começou fazendo armazenagem, começou fazendo produtos mais básicos, metálicos ligados ao agronegócio, mas depois foi se refinando e se especializou nessa área de pós-colheita.

Hoje ouvimos que é uma conquista ter a marca Kepler dentro do seu processo. Porque é um equipamento que dura mais, passa mais segurança. Por ser empresa líder temos 40% do mercado, uma base de manutenção muito grande, centros de distribuição espalhados pelo Brasil. Então tudo isso faz gerar valor.

Por fim, a empresa anunciou há pouco tempo a sua entrada no mercado digital e como se conecta a digitalização dos nossos equipamentos para a parte do produtor rural.  Então é o conjunto da obra, mas se no final do dia eu pudesse resumir em uma palavra, a Kepler significa segurança.

Mercado News – Poderia falar mais sobre a nova área de negócios focada em Internet das Coisas?

Paulo Polezi – A companhia armazena os grãos e para preservar seu valor nutritivo, proteico, industrial, tem que ser bem conservados. O grão está vivo, respira, transpira, então precisa ser bem conservado. Hoje, as soluções de armazenagem da Kepler permitem que os grãos sejam conservados. Tem soluções de automação que vão junto com o equipamento.

Quando o grão sai da propriedade rural, da colheita, ele vem muito úmido, sujo, misturado com impurezas. Então você tem que limpar, purificar o grão, secar, e vai para a última etapa ser armazenado nas condições certas. Tem um padrão de temperatura e umidade correto. Não é de hoje, já há muito tempo alguns mecanismos conservam o grão como se fosse uma geladeira. Quem faz isso em uma propriedade rural é o próprio dono.

A Kepler vende o equipamento e o dono, a cerealista, o produtor rural cuida dali para frente. Damos a assistência, mas quem opera é o próprio produtor. Ele tem pessoas treinadas e capacitadas para fazer isso. Mas são seres humanos e sujeitos a erros. Aí que vem a oportunidade digital. Em 2019 a companhia lançou – anunciou em uma feira em Cascavel que é uma das principais feiras de negócios – o produto chamado “sync”. É uma plataforma que permite você conectar os equipamentos de automação, que já são instalados na planta através de sensores. Nesses sensores você monitora o processo, gera dados, esses dados vão para uma nuvem e depois para uma base. Essa base é trabalhada e permite que você controle a planta com eficiência, sem necessidade humana, traduzindo isso em ganho de produtividade.

Para dar um exemplo prático, estimamos que cada vez que um silo é carregado e descarregado, isso acontece algumas vezes durante a safra, em torno de 3% é perdido, quer seja em umidade, temperaturas erradas de conservação.

Os dados que dispomos dos silos são controlados pela digitalização. Você reduz essa perda, não zera, mas reduz para 0,5%. Então é uma economia muito grande cada vez. Porque o silo é cheio e esvaziado. Isso, quando você coloca na ponta do lápis, o preço que estão as commodities agrícolas, a soja, o milho, entre outras, vira muito dinheiro. Então isso é o que se propõe essa tecnologia digital. Nos organizamos, nós temos o produto, a tecnologia. Hoje, todos os equipamentos que são vendidos que saem da fábrica “zero quilômetro” saem com essa tecnologia embarcada. Então isso é um processo. No Brasil de em torno de 500 plantas de armazenagem por ano, da Kepler sai entre 250 e 300. Então já tem uma parte do mercado que recebe essa tecnologia. Isso é uma oportunidade.

Uma outra oportunidade – nós exploramos bastante esse conceito no Kepler Day – é a base existente. Estimamos, dados da própria Conab, que existem no Brasil 17 mil plantas de armazenagem. Essas plantas não têm essa tecnologia e o silo pode durar algumas décadas, às vezes 30 anos, pode durar 40 anos. Você tem no Brasil muitos silos comprados anos atrás, décadas, e que é possível você fazer a instalação dessa tecnologia e o silo passar a ser digitalizado. Isso é uma outra oportunidade que são receitas diferentes.  Uma receita quando você vende o equipamento e essa outra oportunidade é uma receita de serviços. Você precisa vender algum equipamento para conectar, mas se transforma em uma receita de serviços de manutenção, de oferta desse trabalho, que vai permitir que o produtor rural tenha esses ganhos a partir da digitalização mesmo sendo um silo antigo.

Mercado News – Como a empresa está tentando driblar o problema de falta de contêineres?

Paulo Polezi – A gente e acredito que a maior parte de empresas do mercado vem sofrendo desde o início da pandemia. Desestabilizou as cadeias de abastecimento em vários níveis. O primeiro baque que sentimos foi no risco de abastecimento de aço. Felizmente, nós antecipamos um pouco esse problema. Vimos que isso ia acabar acontecendo, reforçamos os estoques. Temos parcerias de longo prazo com os fabricantes e conseguimos passar o primeiro semestre de 2021 por esse problema, mas de um jeito menos pesado, de forma que nosso cliente não sentisse na ponta o atraso. Gostamos de lembrar que não atrasamos nenhuma obra. A pior coisa que acontece no nosso setor. Entregamos o equipamento, mas é uma obra montada que leva em torno de seis meses. A última coisa que o cliente quer é que o produto dele seja atrasado. Porque ele precisa para a safra e colheita. Nós não atrasamos nenhuma obra.

Uma vez estabilizada essa cadeia do aço que foi muito relevante para nós no primeiro semestre – hoje as entregas estão em dia – os preços se estabilizaram. Isso traz uma certa tranquilidade. O problema vai mudando de lugar. O último movimento agora foi exatamente para logística, a questão da falta de contêineres. E não é só a falta. É a falta junto com majoração do preço. Víamos no começo desse ano o preço médio de um contêiner em torno de US$ 2 mil, hoje passa de US$ 10 mil. Então junta as duas coisas. Estamos procurando agir da mesma forma que agimos da outra vez, antecipando as questões. Se eu sei que vou fazer uma exportação daqui a 4 meses, já vamos procurar achar o contêiner agora. Obviamente tem um impacto no custo porque para reservar tenho que pagar um pouco. Mas temos que administrar as coisas. O que impacta mais para o cliente é o atraso, então de repente pode ser que paguemos um pouco mais caro. Na próxima venda talvez corrija esse preço. Mas o que vamos trabalhar é para que o cliente não perceba. Temos conseguido sim. Um caso ou outro, você tem que negociar alguma coisa com o cliente. Mas eu diria que hoje a variável que está mais atrapalhando é a falta dos contêineres.

Mercado News – Como a empresa está posicionada neste cenário de maior diversificação da logística brasileira, com uso de hidrovias e ferrovias além do caminhão?

Paulo Polezi – No Arco Norte, há a estimativa de que as exportações vão crescer mais de 50% em três anos. Porque é uma região que não era assistida por ferrovias e hidrovias, e investimentos nessa área. A região sul, que é mais tradicional, vai crescer 12%. Menos, mas já é uma região mais bem explorada então é natural que não cresça tanto. Esses canais novos são muito importantes, tanto para melhorar a rentabilidade do produtor rural do Brasil em si. Porque o custo da logística do frete é relevante no produto final. Então o Brasil como um país de dimensões continentais, a grande parte da produção está na região central, e essa infraestrutura não é hoje desenvolvida. Então estão acontecendo investimentos importantes, de vários players no Brasil. Conhecemos o caso da Rumo, a própria Hidrovias.

O Brasil já é muito competitivo na questão da produção, da colheita e no melhoramento genético. Mas na parte de infraestrutura não somos competitivos. Não somos competitivos na armazenagem que temos um déficit, e da parte do custo de exportação que também não somos eficientes. Com esse investimento que está sendo feito no Brasil e será feito pelos próximos anos, para a Kepler gera oportunidade. Porque cada ponto desse de conexão de uma ferrovia com uma hidrovia ou de uma rodovia com uma ferrovia, é necessário você fazer o transbordo do grão, de um caminhão para alguma outra coisa. Então você precisa dos silos para serem os pulmões disso. E isso gera oportunidade de investimento para a Kepler, nos dois lados, tanto na chegada quando você sai do campo e vai para a rodovia, ferrovia e hidrovia, quanto na saída para o oceano, que são as soluções de uma unidade de negócios que nós temos chamada de portos e granéis que fazem essa questão de carregamento dos navios. São investimentos maiores que o navio precisa ser carregado com muita rapidez. O navio pode ficar pouco tempo parado. Então isso gera oportunidades para a Kepler. É um déficit que o Brasil tem de infraestrutura, está sendo corrigido. Vai levar muitos anos e beneficia muito a Kepler nessa área de negócios.

Mercado News – Os custos têm subido no setor, na parte de insumos, combustíveis… Como isso afeta a Kepler e como a empresa tem conseguido atuar frente a isso?

Paulo Polezi – As matérias primas estão mais caras. A inflação das commodities veio e está se perpetuando. De certa forma, temos que olhar de dois ângulos isso. Um lado do custo, e outro lado da venda. Estamos expostos pela commodity dos dois lados. Um lado que é aço, que é a principal commodity que usamos para o nosso equipamento. Outro lado são os nossos clientes, que estão expostos a outra commodity. Preço de commodities agrícolas, soja, milho, café, outras, tem o preço internacional e são dolarizadas. O que estamos vendo hoje é o preço internacional em alta. Esteve mais em alta, reduziu um pouco, mas o dólar, o real se desvalorizou. Então o produto do produtor rural ainda está muito valorizado. Nas matérias primas acontece a mesma coisa, elas acompanham essa tendência.

Temos que trabalhar bem essas duas questões. Como temos um mercado que está se expandindo, questão de armazenagem, o produtor percebeu que agrega muito valor. Esse exemplo do digital é um, mas tem outros. A questão do produtor rural puder armazenar o grão, a quantidade de ganhos de escala. A competitividade que ele traz para dentro é enorme. Ele passa por exemplo a escolher o momento que ele vai fazer a colheita. Estava seco o tempo, então ele vai colhendo. Começou a chover ele para porque tem o silo e sabe que pode controlar. Mesma coisa na hora de vender ou entregar, está muito caro o frete, não tem caminhão na estrada, ele segura para pagar menos no frete. Ele consegue administrar melhor a riqueza dele, que é o grão. Isso dá um poder de ganho para ele muito grande. Percebemos que a questão de armazenagem não era uma prioridade para o produtor rural. Há um déficit neste ano de armazenagem no Brasil de R$ 76 milhões de toneladas.

Uma coisa é você ter a capacidade no Brasil inteiro, aí você tem governos, grandes empresas fazendo. A outra é você olhar o que está armazenado na fazenda, na origem, que isso faz muita diferença. Você vê que os países desenvolvidos são valorizados, eles armazenam quase que a maioria de tudo que o país gera de produção de grãos dentro da fazenda, na origem. Quando você olha o Brasil é só 14%. É muito ineficiente você armazenar lá no fim. Você armazenando na origem, o desperdício é muito menor. Até a Argentina, que é um país que sofre muito por questões econômicas principalmente, tem uma armazenagem muito maior no campo [40%].

Então isso é o que está acontecendo no Brasil. Hoje é pequeno. Imaginamos que esse índice vai subir. E à medida que o produtor rural percebe que ele ganha eficiência, aumenta a renda, a questão de capacidade, isso vai fazendo armazenagem ao todo.  Acreditamos que para tirar esse déficit de armazenagem vão pelo menos 10 anos de investimentos sucessivos. Então o gap é muito grande no nosso país. Isso vai crescendo de acordo com o agronegócio.

Mercado News – A empresa teve um valor expressivo de investimentos neste ano. Esse é um movimento que continua no ano que vem?

Paulo Polezi – A companhia está em um momento muito bom, de crescimento de receitas, crescimento de volume. Não é deste ano, ela vem em um crescente, para trazer mais para o curto-prazo, desde 2019. Teve em 2020 a pandemia, todo o mercado retraiu um pouquinho. Retraímos os investimentos. Mas na medida que a demanda se manteve aquecida, tivemos que fazer investimentos em 2021, que são esses números. R$ 34 milhões de investimento em aumento de capacidade fabril dentro de um programa que o conselho de administração aprovou em torno de R$ 50 milhões. A maior parte dos investimentos vão para aumento de capacidade. O restante desses investimentos é importantíssimo também, mas eles vão para outras áreas. Áreas como segurança, meio ambiente, normas legislativas que você tem que atender para o teu equipamento ser seguro. Mas a maior parte foi em aumento de capacidade, para podermos endereçar essa demanda do mercado. Então isso é o que explicou. Uma parte deles, 12 milhões foi para uma das plantas, a companhia tem duas plantas. Planta é quando você tem várias fábricas agrupadas. Temos no processo, parte de dobra, de corte do aço, de solda, de pintura de montagem. Então são várias fábricas integradas que viram uma planta. Temos uma planta no Rio Grande do Sul em Panambi, outra planta no Mato Grosso do Sul em Campo Grande. Então, R$ 12 milhões foram para a planta de Campo Grande inicialmente, porque ela tinha um gap maior de capacidade, foi corrigido. A segunda leva de investimentos foi para Panambi que estava mais organizada.

Essa é a beleza do nosso negócio. Para o investidor, não é um tipo de empresa que eu preciso prever a demanda do mercado de dez anos para frente para ver quanto que eu vou investir hoje. Consigo olhar um ano, dois para frente e aumentar um pouco a minha capacidade para atender. Isso é bom porque mostra que eu não preciso investir grandes montantes e segundo que eu não deterioro o ROIC [Retorno sobre capital investido], que é um dos principais indicadores de retorno de bens de capital que é o nosso caso. Porque eu vou fazendo investimentos marginais, então o ROIC se mantém de certa forma estável. Então é um diferencial do nosso negócio.

Fizemos esses investimentos para permitir esse crescimento. Se olharmos os números aqui do terceiro trimestre, dos nove meses acumulados, temos por exemplo, crescimento de receita de 91%. Para podermos fazer essa entrega, investimos nesse aumento de capacidade. Para o ano que vem, de certa forma se repete a dinâmica. Se repete porque, por um lado, a demanda se mostra renovada. Ou seja, o mercado se mostra comprador de armazenagem. Obviamente estamos em um momento agora que você tem um pico no meio do ano, por conta do Plano Safra. Agora estamos no fim do ano, então os pedidos começam a entrar mais intensamente no começo do ano.

Mas viramos o ano com uma carteira de pedidos bastante robusta. Indicando que vamos ter um ano de 2022 bom também. Por conta dessa visão que temos por causa da carteira, a indicação de um ano bom, estamos neste momento negociando com o conselho de administração um novo plano de investimentos. O que posso adiantar é que eles tendem a se repetir para o próximo ano. Temos mais um ano de expansão de capacidade para atender o mercado. Então temos a tendência de que tenhamos mais um ano de investimentos novamente.

Mercado News – Qual a perspectiva para a próxima safra?

Paulo Polezi – Monitoramos muito as condições de mercado macro. De um lado a questão básica das commodities. As commodities perderam um pouco o valor, depende muito de qual você está falando. 20% em relação ao pico que foi na metade do ano. Mas quando você corrige pelo dólar, no final em reais para quem produz e comercializa o grão, contínua de igual lucratividade ou até mais. Então isso é um fator positivo para o ano que está entrando. Um outro fator que olhamos é a questão climática. Hoje os modelos meteorológicos são muito eficientes, permitem antecipar bastante o que vai acontecer. O Brasil vem de um ano muito difícil da parte climática, o que mistura as secas, a questão da bacia hidrográfica bem fraca, então foi um ano que teve quebra de safra e isso atrapalhou um pouquinho. Já para 2022 esses mesmos modelos meteorológicos indicam que vai ser muito mais favorável, mais chuvas. Já vimos que as chuvas já permitiram plantar na data correta, os grãos tão se desenvolvendo na maior parte do Brasil corretamente.

Então indica que esse ano o Brasil terá safra recorde novamente. Isso é animador para nós. Isso nos ajuda a ser otimistas e projetar mais um ano de crescimento. Obviamente temos essa visão. Mas somos uma empresa na Bolsa, não trabalhamos com guidance.

Temos uma variável importante, tem preço e volume. Estamos crescendo nos nove meses, 90%. A maior parte disso vem de preço, tivemos inflação alta e uma parte menor de volume. Para o próximo ano achamos que será mais equilibrado, a inflação pelo menos do aço está se estabilizando, então achamos que deve ser um ano de crescimento mais equilibrado. Tendência é que a gente cresça um pouco mais em volume até do que crescemos e vamos crescer em 2021. Mas é um ano promissor de crescimento para os nossos negócios e para isso procuramos nos reforçar.

Atuamos em quatro segmentos de negócios. Vou falar o nome anterior, e passo para o nome novo. Armazenagem, que é o grande segmento, é o carro-chefe dos nossos negócios. Movimentação de granéis, que são os negócios dos portos. Exportação, que seria a combinação dos dois. Exportamos para vários países, especialmente América Latina. Reposição e serviços, que é a unidade que tem os centros de distribuição, perto da fazenda do cliente. Esses são os quatro segmentos.

A companhia fez um redimensionamento e o que fizemos foi criar um quinto segmento. Desmembramos a armazenagem, naquela armazenagem que é do campo, do produtor rural, e a armazenagem que vai para as grandes indústrias e cooperativas. Estamos chamando isso tudo de pós-colheita, e abre a questão do produtor rural, que são os projetos de uma complexidade menor. Abre um outro braço que seria para a agroindústria, que são grandes projetos. Estamos falando de clientes como uma Bunge, Cargill, Coamo, uma cooperativa Lar e assim vai. São grandes cooperativas, projetos de grandes envergaduras.

Essas movimentações de granéis não mudamos, estamos chamando só movimentação e portos, para ter um nome mais fácil para o mercado identificar. Exportação, estamos fazendo um trabalho no começo, mas renomeamos para negócios internacionais porque hoje produzimos silos, secadores, máquinas de limpeza, e a questão da distância faz diferença. Então somos muito competitivos nos equipamentos, nos secadores e nas máquinas de limpeza.

Quando você traz isso para o silo, de repente fica caro o frete do aço e tudo. Então poderíamos ir além nesse negócio se nós fizermos parcerias ou pudéssemos comprar as matérias primas como o aço na origem, por exemplo, em países da Europa ou da Ásia ou da África. Então gostaríamos de expandir nossa atuação, exportando do Brasil equipamento de maior valor agregado. Então usar uma parceria local para fazer um silo lá. Estamos chamando esse segmento que era só exportação para negócios internacionais para podermos agregar mais equipamento. Então é uma estratégia mais de longo prazo. E reposição e serviços estamos mantendo o nome, vamos abrir mais centros de distribuição para ter uma cobertura ainda maior. Somos a empresa que tem maior cobertura entre todas do segmento e vamos expandir essa área. Mas fizemos um trabalho esse ano para melhorar, estar mais perto do cliente e perceber as tendências, para onde está indo o mercado.

Mercado News – Como a alta no preço do aço afeta a empresa?

Paulo Polezi – Temos em torno de 50% do nosso custo variável composto de aço e matérias primas correlatas ao aço. Como qualquer commodity, o preço oscila ao longo do tempo, tem momentos de alta e de baixa. Se eu pudesse escolher, preferia até o momento de alta porque indica que o mercado está aquecido, está comprador. Quando é momento de baixa é porque o mercado está um pouquinho mais fraco, não quer dizer que vamos vender menos, mas quando o aço está subindo é sinal que a demanda está aquecida.

Então foi o que aconteceu nos últimos dois anos, o aço veio em altas sucessivas. Mesmo efeito que ajudou na parte dos grãos, de certa forma prejudicou aqui, que foi a elevação da commodity em dólar e a desvalorização do real. Como compramos em reais, ficou mais caro. Como eu disse, essa dinâmica teve um efeito ruim. Somos uma empresa que entregamos projetos, vendemos hoje para entregar o silo em seis meses. Trabalhamos muito “arrediado”. Se eu faço uma venda, calculo o preço da matéria prima, o preço de venda e a margem é 40% por exemplo. O que eu já faço: vou no mercado, compro a matéria prima, ponho ela para dentro de casa e vou nos seis meses usando essa matéria prima. Quando chego lá eu entrego e vou receber por um custo que já tenho, tenho de fato essa margem garantida. O que aconteceu com a gente no começo desse ano foi que nós vendemos na perspectiva de ter a matéria prima para comprar e não havia. Ou não havia a quantidade que precisávamos. Vendemos e quando fomos comprar subiu o preço. Então compramos mais caro. O segundo trimestre foi o trimestre de margem mais fraca.

Falamos: “Olha, daqui para frente ou vendemos quando tiver a matéria prima e temos certeza da margem, ou combinamos com o cliente um mecanismo, um gatilho de preço, que se o aço subir pagamos mais”. Foi o que fizemos. Isso nos protegeu por um período. Fomos vendendo e recuperando a rentabilidade ao longo do semestre. Só que em julho o aço parou de subir, estabilizou.

Como colocamos esses mecanismos de proteção de preço, conseguimos entregar um preço mais alto. Então estamos tendo uma rentabilidade melhorada no segundo semestre.  Quando você olhar na média, o primeiro semestre é uma margem menor por conta do aço, o segundo semestre é uma margem maior. Elas meio que se ajustam quando o ano fechar. Mas essa parte do segundo semestre é um pouquinho mais dilatada. Então tendemos a ter esse ano um ano de expansão de rentabilidade. Um ano de expansão de margem. Mas o aço hoje felizmente está estável. Estamos com os estoques em dia, abastecimento em dia. Os preços pararam de subir desde o mês de julho.

Mercado News – A que o senhor atribui essa alta de 20% das ações da empresa no ano?

Paulo Polezi – Então, é difícil tentarmos colocar na nossa boca as palavras do mercado. O mercado é soberano e tem sua ideia. A leitura que eu faço é que a empresa vem de um processo de melhoria geral. Se você olhar há cinco anos, a companhia fez um investimento que talvez explique mais essa valorização. Foi um investimento muito forte na sua base, que foi o investimento no processo produtivo, mas a companhia adotou o conceito do lean manufacturing. É como se montássemos um grande lego. Montar um grande lego é muito complexo, você tem muito estoque intermediário, muita dependência de um processo para o outro. Quando você põe o lean, que é a manufatura enxuta, trouxe muita eficiência para a gente. Começamos a produzir com baixo custo, encurtar os prazos de entrega para o cliente. Então estou melhorando a percepção para o cliente ao mesmo tempo que a rentabilidade foi subindo. Acho que o mercado percebeu isso. Uma melhora da eficiência operacional da empresa. Tanto que veio esse “boom” agora pós-pandemia, da demanda, e nós conseguimos aproveitar.

Essa valorização vem de um processo mais longo. Não parou aí. Veio do lean, passou pela estabilização da empresa em rentabilidade, crescimento, e agora estamos nos estruturando para entrar no digital. Digital é outro jogo. Um jogo em que você tem receitas menores, mas margens maiores. Você tem muito mais serviços. Então na medida em que conseguirmos trazer mais receita recorrente, estabilizamos o crescimento da empresa. Um dia que o mercado cair evitamos que caia porque temos receita recorrente. E tem uma margem maior porque essa parte digital permite uma margem maior. Então esse é o movimento que estamos fazendo. Acredito que o mercado tenha percebido a somatória deles. Acho que é por uma soma de razões.

Mercado News – Há algum esforço para melhorar a liquidez das ações em Bolsa?

Paulo Polezi – Muitos esforços. Tudo que a empresa tem feito, se mostrar mais transparente, atrair mais investidores, mais coberturas de analistas. Isso traz mais interesse.

Também investimos no Kepler Day. Foi o primeiro evento aberto que a companhia fez na sua história. Já estamos listados há 40 anos e ela até então não tinha feito. E o momento do agro, vimos que ajuda a melhorar a liquidez. Vimos algumas empresas do setor puramente agro como a Kepler entrando no mercado. Acho que isso traz também interesse para o produtor nesse segmento mais do agro. Somos um player mais fácil, mais conhecido. Tudo ajuda a melhora da liquidez. Mas temos trabalhado, não estamos satisfeitos ainda, achamos que tem espaço para melhorar mais.

O lado positivo é que demos um salto na liquidez. Dobramos o índice do começo do ano para cá. Isso nos fez entrar nas carteiras de small caps, estamos em três carteiras. Estamos aparecendo recomendação de algumas casas como “compra”. Então isso tem ajudado bastante a melhorar a liquidez. Agora, fizemos grandes distribuições de dividendos, que também ajudam na liquidez. Entramos no radar de algumas casas que olham bastante essa questão do dividendo. Como aumentamos a lucratividade, o caixa subiu, e tudo permite que paguemos mais dividendos. Isso também entrou no radar desse público que gosta mais de empresas que pagam dividendos.

Mercado News – Qual o principal objetivo da empresa daqui para frente?

Paulo Polezi – São três grandes objetivos. O primeiro é a questão de ajudarmos o Brasil a aumentar essa questão de armazenagem, o déficit. Somos uma empresa líder de mercado, temos 40% do mercado. Temos que usar a nossa marca e liderança para fazer com que o mercado invista mais em armazenagem através de participação das entidades setoriais, através de fomentar o mercado de armazenagem. Fazer com que puxemos esse mercado.

Temos 40% do mercado, mas tem 60% que está aí. Entendemos que puxar vai ser benéfico para o país. Essa é uma vertente de crescimento orgânico. Tem uma outra vertente – que é o nosso grande objetivo – que é aumentarmos a oferta de produtos, de equipamentos com maior valor agregado. O silo é a parte central da armazenagem, você tem muito equipamento para antes do grão chegar no silo e depois. Temos algumas linhas de produtos nessas áreas, mas tem muito mais potencial.

Por exemplo, no final do ano passado, fazendo um ano agora, anunciamos um investimento em uma companhia que faz equipamento de seleção ótica dos grãos. Então agregamos para o nosso portfólio. Nosso cliente já queria comprar, mas ele não comprava da Kepler porque não tinha. Então se ele já compra o silo, máquina de limpeza, secador, vai poder comprar máquina selecionadora também. Isso faz com que aumentemos o portfólio, melhore a presença perante o produtor e traga equipamentos que aumentam a margem também.

O terceiro maior objetivo é justamente acelerar a inserção dos negócios digitais. Tanto aumentar a oferta digital dos nossos equipamentos, quanto fazer com que o cliente perceba o valor e queira fazer o investimento. Hoje temos que convencer ainda alguns clientes. Então estamos trabalhando muito no detalhe para acelerar o processo da digitalização no processo de pós-colheita. Essas seriam as três frentes: crescimento orgânico, sendo um player de expansão da armazenagem no Brasil de grãos, a segunda que é a questão do aumento de oferta de produtos de maior valor agregado, e a terceira a aceleração na oferta das soluções digitais de pós-colheita.

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