Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com – O Banco Inter (SA:BIDI11) avaliou como positiva a temporada de balanços do segundo trimestre deste ano, levando em consideração a evolução das receitas das companhias e a recuperação de margens. Para os próximos trimestres de 2021, entretanto, o banco levanta dúvidas sobre o cenário local, em meio à escalada de custos, impactos inflacionários e os riscos políticos e fiscais.
O cenário atual, segundo o relatório divulgado, aponta para a continuidade da recuperação do setor de serviços, por causa do avanço da vacinação e da redução nas restrições de mobilidade. O varejo e a indústria tendem a crescer limitados pela normalização de padrões de consumo, gargalos na oferta e alta nos preços. Já o setor agropecuário seguirá enfrentando condições climáticas adversas.
Sob o olhar da política nacional, a questão orçamentária pressiona as condições financeiras, ainda mais diante da perspectiva de déficit primário nos próximos anos. A possibilidade de parcelamento dos precatórios e os impactos fiscais incertos da reforma do imposto de renda também levantam um alerta, considerando que o próximo ano é eleitoral e pode trazer instabilidade.
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Sobre a inflação, o IPCA acumulou 8,99% nos 12 meses até julho, pressionado principalmente pelo combustível e energia elétrica. A evolução inflacionária desfavorável fez o Banco Central voltar a subir a taxa Selic para 5,25% e deve obrigá-lo a seguir com novas altas até pelo menos 7% no fim do ano, na visão do banco Inter.
Confira agora as análises de cada setor.
Bancos
Os resultados dos bancos no 2T21 vieram de acordo com as expectativas tanto para as receitas de serviços e tarifas quanto para o mercado de crédito que segue aquecido no varejo, puxado principalmente pelas linhas de crédito imobiliário, consignado e crédito pessoal.
Outras linhas de receitas, como as de assessoria financeira e mercado de capitais, também se beneficiaram do bom momento do mercado financeiro no país e apresentaram fortes resultados. A inadimplência segue sob controle em todas as instituições, com níveis de cobertura acima do recorrente.
Apesar disso, o Inter alerta para a pressão nas margens financeiras, que seguem com taxas médias baixas e pressionadas pelo menor spread de crédito com o aumento da taxa Selic impactando o custo de funding.
Entre as empresas do setor, o relatório destaca o Santander (SA:SANB11), que continua com resultados fortes e rentabilidade acima da média das companhias semelhantes. Por outro lado, o Bradesco (SA:BBDC4) é apontado de forma negativa, sofrendo com o forte impacto da 2ª onda de Covid-19 no seu resultado com seguros, no qual a sinistralidade atingiu altos níveis.
Construção
Apesar das incertezas de médio prazo, o setor de construção apresentou resultados robustos no trimestre. Além da forte aceleração nos lançamentos, as construtoras apresentaram bom desempenho nas vendas e mantiveram majoritariamente sua VSO em níveis elevados.
O Inter aponta que com exceção da Tenda (SA:TEND3), que viu a pressão dos insumos reduzir as suas margens, as demais construtoras tiveram êxito na estratégia de repasses e, aliado à boa procura pelos lançamentos, reportaram um inesperado avanço na margem bruta e lucros operacionais sólidos.
Sendo a única companhia a superar as projeções de vendas líquidas e mostrar avanço marginal na velocidade de vendas, a Direcional (SA:DIRR3) foi destacada no setor pelo banco.
Elétricas e Saneamento
O setor elétrico está aquecido pelo aumento no consumo de energia, que demonstra uma recuperação econômica do país. Com isso, as empresas de distribuição têm apresentado resultados melhores, como a Equatorial (SA:EQTL3), que surpreendeu os analistas do banco ao apresentar um EBITDA superior em 25% ao projetado.
Por outro lado, o segmento de geração hídrica segue com cenário desafiador, com o nível dos reservatórios comprometidos e, por consequência, reduzindo a capacidade de produção dessas empresas. Diante disto, a Aes Brasil (SA:AESB3) reportou um 2T21 abaixo de seu potencial, segundo o Inter.
Por fim, na parte de saneamento básico, o relatório destaca os bons números operacionais de Sanepar (SA:SAPR11) e Copasa (SA:CSMG3), principalmente com controle de custos mais estrito. Sabesp (SA:SBSP3), contudo, desapontou, uma vez que a elevação dos custos acabou comprometendo os resultados.
Mineração
Os preços recordes das commodities, especialmente do minério de ferro, nos mercados internacionais impulsionaram as receitas das empresas do setor, junto com o crescimento nas vendas, em razão da demanda aquecida com a forte recuperação econômica global. Assim, as companhias apresentaram recordes de faturamento e boa evolução de margens.
Ambas as empresas cobertas pelo banco Inter, Vale (SA:VALE3) e CSN Mineração (SA:CMIN3), trouxeram excelentes resultados no trimestre, embora levemente abaixo das expectativas. O ponto negativo foi o efeito oposto da alta das commodities, que elevou os custos, em especial combustível e carvão.
O relatório também destaca um ponto de alerta para o segundo semestre, em que com os custos elevados e os preços acomodando, e possivelmente cedendo, é possível que as margens fiquem um pouco mais comprimidas, mesmo com volumes de vendas ainda elevados.
Papel e Celulose
As receitas das empresas do setor refletiram a alta nos preços, principalmente da celulose no trimestre, aponta o Inter. Os maiores volumes e a alta de preços compensaram os custos mais elevados.
Para o próximo trimestre, os analistas esperam por uma demanda ainda em alta, com os drivers do setor mantidos – em especial o movimento de substituição de plástico, avanço do e-commerce e produtos de embalagens, e maior consumo de papéis para fins sanitários. A alta dos custos ainda deve impactar, podendo pressionar as margens no curto prazo.
Saúde
A permanência da pandemia, junto com a retomada de procedimentos eletivos, fez com que as empresas do setor de saúde tivessem um crescimento expressivo das receitas. Entretanto, essa alta foi acompanhada por um aumento nos custos e nas despesas.
O Inter destaca os resultados da Rede D’Or (SA:RDOR3), que apresentou faturamento e Ebitda recordes, impulsionados pelo maior fluxo de pacientes nos hospitais, com manutenção de altas taxas de ocupação e a retomada dos medidas e cirurgias eletivas, que possuem margens mais elevadas.
Seguradoras
O forte avanço nos prêmios emitidos principalmente nos ramos Rural, Empresarial/Massificados e Vida mostram uma recuperação no setor, considerando até mesmo o período pré-pandemia. Por outro lado, a Sinistralidade nos ramos ligados a pessoas como Vida, Prestamista e Habitacional pesou contra os resultados, afetando mais o BB Seguridade (SA:BBSE3).
O ramo de seguro saúde também foi bem comercialmente, com o aumento do número de beneficiários no trimestre, visto nos resultados da Sul América (SA:SULA11). Entretanto, o pagamento de sinistros também pesou contra os resultados, por conta de maiores custos hospitalares em razão da Covid-19 e da volta de procedimentos eletivos.
Entre as empresas do setor, o Inter destaca a Porto Seguro (SA:PSSA3), que apresentou um bom crescimento e lucros acima do esperado, ainda beneficiados pela menor sinistralidade no ramo de automóveis, que segue se normalizando com a retomada gradual das atividades.
Shoppings
Embora as vendas e o fluxo de veículos nos estacionamentos tenham ficado abaixo do esperado pelos analistas do banco, o setor apresentou números operacionais positivos, com o avanço nas receitas de locações. Apesar de algumas administradoras ainda terem locações abaixo do 2T19, algumas já superam o patamar pré-pandemia.
Além disso, as companhias mantiveram estabilidade marginal na taxa de ocupação e boa eficiência nas margens. Com maior alívio no PDD e menores restrições de funcionamento, as companhias tiveram custos diretos menos pressionados.
O Inter aponta que houve um comportamento homogêneo por parte das empresas do setor, mas apontou a Multiplan (SA:MULT3) como destaque positivo, devido às margens mais robustas.
Siderurgia
O setor apresentou resultados acima do esperado, impulsionados pelo aumento dos preços, maior controle dos custos e maior demanda local, onde as margens de vendas são maiores.
Na visão dos analistas do Inter, praticamente todas as companhias tiveram desempenho positivo de volumes e preços, com destaque para os braços de mineração.
Varejo e consumo
A reabertura das lojas, associada ao avanço da vacinação, datas comemorativas e aumento da inflação, fez com que o setor de varejo e consumo tivesse um crescimento sólido em comparação com 2020 e 2019. Porém, se descontar o efeito inflacionário, o faturamento ainda está abaixo do patamar pré-pandemia.
Em comparação com o 2T20, o e-commerce desacelerou, ao passo que o canal de lojas físicas registrou robusto crescimento, em comparação com o ano passado em que elas estavam fechadas.
Para as empresas de alimentos, a alta inflação compensou as receitas, mesmo com a volta de serviços de bares e restaurantes. Por fim, no consumo discricionário, também começou a ser retomada, com a volta de aulas, escritórios e a liberação de atividades sociais e esportivas.
O Inter destaca os resultados positivos da Vivara (SA:VIVA3), que tem como público uma classe social mais resiliente e menos impactada pela pandemia e que ainda vivenciou uma demanda reprimida por joias, em virtude do adiamento de casamentos e nascimentos. Ademais, atingiu 14,7% de market share do mercado brasileiro de joalherias, impulsionada pela operação digital, que representa 17,3% das vendas e pela solidez da marca.
Matéria originalmente publicada em Investing.com