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Bolsa: O que esperar da retomada da economia?

Analistas já preveem um crescimento de 5% no PIB neste ano (Foto: Gerd Altmann/Pixabay)

É quase impossível conter a empolgação agora que, finalmente, conseguimos enxergar no horizonte o fim da pandemia. “Sempre tivemos uma perspectiva positiva em relação à vacina. O Brasil tem um histórico bom de vacinação, vacinar não é problema, a questão é organizar e ter doses”, explica Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos. “O governo federal talvez poderia ter antecipado a compra das doses, mas o fato é que agora nós temos. Bem atrasado, mas temos.”

Embora em um ambiente ainda incerto, qualquer melhora já anima o mercado. Analistas já preveem um crescimento de 5% no PIB neste ano. Algo impensável no começo do ano, mas que se tornou possível com os surpreendentes números positivos da economia no primeiro semestre.

“Estamos com uma perspectiva muito boa em relação à vacinação, já que com o fim das restrições, muitos setores devem se beneficiar. As medidas restritivas poderão ser retiradas de uma maneira geral, os eventos sociais voltarão a acontecer, como a volta às aulas presenciais, festas, o turismo, o varejo de vestuário”, afirma Serra.

A perspectiva é que os setores mais impactados pela pandemia consigam, a partir da abertura, reverter os prejuízos, refletindo no preço das ações.  O setor aéreo e de turismo do Ibovespa perdeu 27,47% do valor de mercado em 2020, passando de R$ 35,6 bilhões para R$ 25,8 bilhões. No segmento estão incluídas as empresas Gol (GOLL4), Azul (AZUL4) e CVC (CVCB3).

“A CVC, de 2019 para 2020, enfrentou a tempestade perfeita”, exemplifica Beto Assad, analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo. “Não bastasse a pandemia, teve vários problemas contábeis que acabaram com o papel. Para quem acreditou na empresa, e está apostando em uma recuperação a longo prazo, pode surfar muito bem também na retomada da empresa.”

Os shoppings, varejo de vestuário e educacional fizeram movimento semelhante, com perdas respectivas de R$ 16,2 bilhões (-36%), R$ 11,1 bilhões (-23%) e R$ 18,9 bilhões (-50,4%) em 2020. 

Já os segmentos que mais cresceram nos períodos mais densos da crise do coronavírus foram os relacionados à tecnologia e às novas necessidades trazidas pelo isolamento social. O e-commerce, um dos grandes campeões do período de fechamento, saltou mais de 40% entre fevereiro e dezembro de 2020. Por outro lado, as empresas de e-commerce estão no vermelho em 2021, com queda de 12,38% no valor de mercado em comparação com o fim do ano passado.

Mesmo assim, de acordo com Assad, as empresas de varejo podem render bons investimentos nesse momento. “Para o segundo semestre, conseguindo engatar uma vacinação mais ampla, as coisas tendem a melhorar bastante na retomada do ritmo de atividade econômica. O setor de varejo já começou a esboçar uma retomada. Depois de um primeiro semestre um pouco mais difícil”, conta. 

“Ano passado, depois da queda abrupta no final de março, abril, as empresas que conseguiram se modernizar e apostar mais rapidamente no e-commerce, tiveram um desempenho muito bom ao longo do ano”, continuou Assad. “Mas no começo deste ano, com uma segunda onda mais complicada, e muitos investidores embolsando lucros, o setor acabou sofrendo mais. A perspectiva é uma retomada do setor de varejo.”

Incertezas da retomada

A inflação volta a assombrar, e não é só no Brasil. Nos países onde o enfrentamento da pandemia foi sério, como na China, o ciclo de retomada está em estágio mais avançado. Com crescimento recorde no primeiro semestre, já começou a adotar medidas restritivas para conter as altas de preço. 

Nos EUA, as medidas de combate à pandemia e retomada econômica, com trilhões de dólares em investimento, também começam a apresentar resultados. “Enquanto a gente estava patinando, lá fora, principalmente a bolsa norte-americana, que é o termômetro para a economia mundial, estava rompendo máximas históricas consecutivas”, diz Assad. “Os papéis estão caros. O mercado subindo diante de juros praticamente negativos nos EUA, muito dinheiro do banco central de lá, o Fed (Federal Reserve,  banco central dos EUA), jorrando na economia. A hora que fecharem a torneira, o que vai acontecer?”

Já no Brasil, a possível retomada já encontra um ambiente de inflação alta. O agronegócio surfou na desvalorização do real, que tornou o mercado externo ainda mais atraente, e foi o principal responsável pelos números positivos da economia – junto ao aumento do preço do minério de ferro. Mas acabou desabastecendo o mercado interno, provocando uma reação em cadeia que fez subir os custos de todo setor de alimentação.

“Essa inflação, que está em um ritmo galopante. Vem já preocupando a equipe econômica do governo, do Banco Central. A gente já está vendo também esta escalada da taxa de juros, que já deve fechar o ano acima dos 6%”, afirma Assad. “Se por um lado a preocupação é em controlar a inflação, com a taxa de juros, pode afetar um pouco negativamente a retomada.”

Opção segura

Quem deve se dar bem neste cenário são os grandes bancos. Santander Brasil (SANB11), Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) já começam a dar sinais de força na retomada. “A alta de juros pode favorecer os bancos tradicionais. A despeito da concorrência cada vez maior das fintechs e bancos digitais, eles não são carta fora do baralho ainda.“

“Não dá para dispensar empresas com capital absurdo, com capacidade de se reinventar e gerar receita de maneira consistente. Ainda mais agora, com a taxa de juro voltando a subir”, argumentou Assad.

“O Brasil tem um dos maiores spreads bancários do mundo. Mesmo quando a gente estava com a taxa na mínima histórica de 2%, a gente sabe que não se refletia de maneira real para o consumidor final. Com a taxa voltando a subir, o spread pode até diminuir um pouco, mas continua muito alto. Tende a aumentar a lucratividade dos bancos.”

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