O Ibovespa deve seguir em alta no trimestre que se inicia em julho, mas novos riscos começam a surgir no horizonte. A crise hídrica, a CPI da Covid e a proposta de reforma tributária do governo federal são os temas que devem ditar os rumos dos mercados no período, se tratando do cenário interno. No exterior, investidores continuam atentos às discussões sobre a política monetária norte-americana.
Encerrado o primeiro semestre, o principal índice da B3 acumulou alta de 6,54% desde o início do ano, enquanto o dólar caiu 4,16% ante o real no mesmo período. Ambos os movimentos refletem a expectativa pela reabertura da economia brasileira em meio a um cenário de maior liquidez internacional e maior apetite por risco por parte dos investidores estrangeiros. Pesa também a alta dos preços das commodities, beneficiando grandes empresas brasileiras fabricantes de matérias-primas.
Por outro lado, conforme o Brasil avança no combate à pandemia e enxerga a retomada da atividade econômica cada vez mais próxima, tensões políticas e uma iminente crise hídrica trazem incertezas para os mercados. Em relatório, os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, do banco BTG Pactual, destacam que “depois de um rali de 3 meses consecutivos e um forte desempenho no começo de junho, o Ibovespa encerrou o mês com alta tímida de apenas 0,5%”.
Outro fator de instabilidade é a situação política, com a CPI da Covid instalada no Senado investigando supostas irregularidades na condução da pandemia por parte do governo federal, com destaque para denúncias de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.
Reabertura da economia
Mário de Avelar, sócio da gestora Avantgarde Asset Management, avalia que, apesar das dificuldades, o Brasil se aproxima da reabertura pós-Covid após encerrar o primeiro semestre com 34,7% da população vacinada, mantendo o ritmo de mais de 1 milhão de doses aplicadas por dia no fim de junho. “Imagino que tenhamos novidades ainda em julho, com novas cidades adotando políticas de circulação menos restritivas e, com isso, injetando ânimo no ambiente econômico”, complementa, mencionando ainda que acredita na possível renovação de máximas históricas do Ibovespa.
Geraldo Mellone Jr., analista da Bresser Asset, aborda ainda o fenômeno da alta de preços das commodities, e diz que o crescimento da economia global, estimado em 6% em 2021, deve garantir uma demanda robusta por esses produtos. “As ações das empresas brasileiras dos setores de mineração, siderurgia e proteínas são as mais beneficiadas, mesmo com a tendência de valorização do real.”
Reforma tributária
Sob outra perspectiva, Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP Investimentos, citam em relatório o impacto da segunda fase da reforma tributária encaminhada pela equipe econômica do governo federal ao Congresso sobre o mercado brasileiro de ações. Os pontos mais relevantes da reforma para a Bolsa são a tributação dos dividendos distribuídos pelas empresas em 20% e o fim do Juros sobre Capital Próprio (JCP). “Ao taxar os dividendos, as empresas terão um incentivo maior a reter os seus lucros e reinvestir no seu crescimento futuro. As empresas de baixo crescimento e que pagam muitos dividendos seriam as mais afetadas”, diz o relatório.
Falando sobre o fim do JCP, os analistas concluem que “teria um impacto negativo de 5% a 6% no resultado líquido agregado das empresas sob a nossa cobertura”. Apesar disso, essas perdas seriam em grande parte compensadas pela redução do imposto de renda para pessoa jurídica, de 25% para 22,5% em 2022, e 20% a partir de 2023.
Crise hídrica
Sobre a crise hídrica, Rafael Sales, da gestora Arazul Capital, destaca que “a situação da energia preocupa, principalmente porque o governo preferiu escolher aumentar a tarifa como forma de incentivar a redução do consumo, em vez de medidas não-pecuniárias, como a volta do horário de verão”. Indo além, Sales aponta que a energia mais cara deve refletir em aumento da inflação, já distante da meta, pressionando o Banco Central para elevar a taxa Selic ao patamar de 6,5% ao ano.
Esse cenário tende a tornar os ativos de renda fixa mais competitivos em comparação com os ativos de renda variável negociados em Bolsa, o que pode conter a alta das ações, esperada com a reabertura de diversos setores da economia.
EUA, política monetária e câmbio
Outro tema importante para os mercados globais, e que invariavelmente afeta o mercado de ações brasileiro e a taxa de câmbio, é a política monetária dos Estados Unidos. Na análise do economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos, “a discussão sobre a redução dos estímulos monetários nos EUA pode adicionar ainda mais volatilidade ao mercado, com os dados da inflação norte-americana e com as declarações dos membros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA)”.
Geraldo Mellone Jr., da Bresser, também destaca que o câmbio vem sendo beneficiado pela combinação de juros mais altos no Brasil com o resultado positivo das contas públicas brasileiras. O analista diz que a alta da inflação levou a um aumento inesperado das receitas, fazendo com que o superávit primário do setor público consolidado fechasse em 1,8% do PIB, “acima das expectativas mais positivas”. Com isso, o real teve uma valorização de 4,4% no mês de junho em relação ao dólar. Ainda assim, o Brasil vive uma situação fiscal delicada, com a dívida pública bruta no patamar de 84,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o que implica em altos custos aos cofres públicos.
Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, plataforma de análises independentes, afirma que os investidores devem se manter atentos ao cenário internacional, e cita uma preocupação com a desaceleração do crescimento nos Estados Unidos. “É muito importante acompanhar a votação do plano de investimento em infraestrutura de Joe Biden”, acrescenta. O executivo revela ainda ter uma visão positiva para os mercados globais, mas dá destaque aos mercados da Europa e do Japão em detrimento do norte-americano.
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