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Entrevista: Orizon avança em conversas para ampliar “banco de lixo” e valorizar resíduos

Após IPO, Orizon quer concluir aquisições de aterros sanitários (Foto: Orizon/Divulgação)

A Orizon Valorização de Resíduos (ORVR3) anunciou a construção da maior unidade de triagem mecanizada (UTM) do País em Pernambuco, com tecnologia alemã, investimento de R$ 70 milhões e capacidade de tratamento de 500 mil toneladas de resíduos sólidos ao ano, em mais um passo da estratégia contada pelo CEO da companhia Milton Pilão, em entrevista ao Mercado News, de acelerar projetos em 2021.

Há “diversas negociações avançadas, visando a concretização de nossas aquisições de aterros sanitários. Trazer banco de lixo – banco de matéria-prima – para nossa base ao longo de 2021”, segundo o executivo da Orizon, uma das empresas que estrearam, recentemente, na B3 e ganha dinheiro com a transformação de resíduos (lixo) em energia limpa.

“É uma receita que é recorrente, garantida, não sofre variação porque o lixo independentemente de crise financeira – foi o caso da Covid – está sempre sendo gerado pela população, não importa a situação político-econômica do País”, afirma Pilão a respeito do suprimento de resíduos que os aterros sanitários proporcionam.

O modelo de negócios chamou a atenção de investidores e o papel ORVR3 já recebeu cobertura de analistas de XP Investimentos, Credit Suisse e BTG Pactual, pouco tempo depois de movimentar, aproximadamente, R$ 460 milhões em seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) em fevereiro.

A seguir, leia a entrevista:

Conte-nos sobre a atuação da empresa e o mercado de tratamento de resíduos.

O mercado de tratamento e valorização de resíduos tem enormes possibilidades. Se você fizer um benchmarking, o Brasil está 30 anos atrasado em relação ao que se faz no mundo. E essa foi a principal razão de nós termos entrado nesse negócio em 2013. A gente vem de outros ramos, e entramos porque olhamos o que se fazia lá fora – Estados Unidos, Europa e Ásia – e percebemos que o mundo já estava valorizando os seus resíduos por meio da geração de energia, geração de biogás, ativos ambientais, reciclagem, transformação de resíduo em matéria-prima. E o Brasil, por outro lado, na época, além de não fazer nada disso, mais da metade de seus resíduos eram enviados para lixões. Lá fora, em um mundo desenvolvido, não existe esse tipo de destino.

A gente olhou e falou “nesse mercado tem tudo para se fazer” e a nossa  forma de entrada foi através do controle proprietário de aterros sanitários. O aterros sanitários são áreas de quase 2 milhões de metros quadrados que demoram entre 6 a 10 anos, uma média de 8 anos, para serem licenciados. Isso traz a ele uma grande barreira de entrada. É como se você tivesse uma mina, comprando um direito minerário, porque o aterro sanitário primeiro tem essa barreira de licenciamento que é super complexa e quando você o licencia, por seu tamanho, acaba tendo uma vida útil de dezenas de anos – normalmente 30, 50 anos. E tem, basicamente, a exclusividade de recebimento do resíduo gerado naquela região porque o lixo não anda: tem uma barreira logística muito grande, custa mais caro para transportar do que para destinar. Você pega num raio de 100 quilômetros em torno dos nossos ecoparques, todo o lixo que é gerado ali pela população, pelas indústrias e pelos grandes geradores (shopping centers , comércio) acaba tendo que ir para aquele lugar, porque para mandar para outra localização custa mais caro o transporte do que o destino. Você acaba garantindo com a propriedade dos aterros sanitários um suprimento de resíduos. Todas as plantas de valorização – que transformam o resíduo em algo de valor que seja revendido e que cria receita – precisam da matéria-prima.

Hoje a gente tem 5 ecoparques em operação no Brasil, que recebem um lixo de, aproximadamente, 20 milhões de habitantes, mais de 700 indústrias e também por volta de mil grande geradores desses comércios e shoppings centers. E é uma receita que é recorrente, garantida, não sofre variação porque o lixo independentemente de crise financeira – foi o caso da Covid – está sempre sendo gerado pela população, não importa a situação político-econômica do País. A partir do momento em que você controla os ativos, você vai instalando neles essas plantas de valorização e vai entrando em ramp-up. Esse é mais ou menos o panorama do negócio que a gente pensou e que acabou sendo blindado aí pelo IPO. Um acesso ao mercado de capitais que vai acelerar a implantação dessas plantas.

A Orizon está entre as empresas que estrearam na B3 em fevereiro e movimentou, aproximadamente, R$ 460 milhões em seu IPO. Qual a perspectiva que isso dá para a empresa no cenário atual?

Permite acelerar essa implantação das plantas de valorização, sejam elas plantas de geração de biogás, plantas de geração de energia, os projetos de crédito de carbono – com enquadramento no mercado de desenvolvimento limpo -, ou as plantas de UTM (unidade de triagem mecanizada) de separação de reciclados. Hoje a gente vem, nos últimos 4 anos, implantando essas plantas, mas em uma velocidade que o nosso capital permite. Quando você acessa o mercado de capitais por meio do IPO, você acelera fortemente essa capacidade porque dado que eu já estou com a matéria-prima toda dentro de casa – não preciso angariar novos clientes – é só uma questão de capacidade financeira de colocar essas plantas mais rápido para gerar mais valor.

Essa foi uma das grandes belezas que os nossos investidores viram na companhia: a gente não estava vendendo um futuro incerto, a gente já tinha toda a matéria-prima dentro de casa. Essas plantas nos trazem um crescimento orgânico sem depender de aquisição de nossos aterros. Da mesma ordem que a gente vem crescendo nos últimos anos, 2 dígitos, acima de 20%, 25% ao ano, sem precisar ganhar nenhum novo contrato, só instalando as plantas. Por isso que o mercado acabou vendo com bons olhos um negócio de infraestrutura que cresce sem precisar depender de incertezas. É isso que a captação do IPO nos trouxe de benefício.

Qual o principal objetivo da empresa para 2021?

O principal objetivo da empresa neste ano eu coloco em 2 pilares. Primeiro, aceleração da implantação dos projetos. A gente já vem fazendo desde a data do IPO: aceleramos uma série de projetos, e vamos estar divulgando a aquisição de uma grande planta que valoriza os nossos resíduos, ampliando as nossas instalações de energia de biogás. Isso já é uma realidade. É uma expectativa que nós tínhamos e que vem acontecendo desde a abertura de capital. E eu espero ainda para o segundo semestre deste ano a gente ter a concretização também de aquisições – boa parte dos recursos do IPO que está no nosso caixa vem para aquisições. Então a gente também está aí com diversas negociações avançadas, visando a concretização de nossas aquisições de aterros sanitários. Trazer banco de lixo – banco de matéria-prima – para nossa base ao longo de 2021.

Questões relacionadas à pandemia, como aumento do lixo doméstico e o isolamento social, afetaram de alguma forma as operações da empresa?

A gente não teve nenhum impacto financeiro na companhia porque analisando um pouco o que aconteceu com a geração de resíduos: o lixo migrou de lugar. Como os escritórios e os comércios – grandes geradores – acabaram tendo os lockdowns e fechamentos, houve diminuição de resíduos, mas a gente percebeu um aumento de geração de resíduos nos domicílios. Um acabou substituindo o outro, o que acabou não gerando impacto na receita de recebimento de resíduos e é com ele que a gente gera energia. Passamos o ano passado sem nenhum impacto financeiro em relação a Covid.

Obviamente, uma empresa como a nossa é considerada serviço essencial e não pode parar – trabalhamos 365 dias por ano, 24 horas. O grande desafio foi proteger a saúde dos nossos colaboradores, dado que todos precisavam sair de casa. Adotamos uma série de protocolos para preservar a saúde deles. E dentro do espectro geral a gente acabou tendo sucesso.

Como que o Novo Marco Legal do Saneamento Básico afetado a Orizon?

O Marco do Saneamento significa para nós um grande avanço para o nosso mercado. Uma quebra de paradigmas, um momento muito importante para o mercado de água e esgoto, mas igualmente para o mercado de resíduos. Hoje existem 3 mil lixões em operação no Brasil, para você ter ideia do tamanho crime ambiental que é isso. O lixão é uma área onde você joga lixo a céu aberto, a partir do segundo dia que ele está lá, já começa a gerar gases que vão para a atmosfera e pelos ventos vão para a cidade e gera um líquido que permeia e vai para o lençol freático e contamina a água que vai para essas cidades. O lixão é um inimigo silencioso. Às vezes, a população mal sabe o quanto está sendo afetada porque tem um lixão ali a 10 quilômetros escondido atrás do morro ou em um terreno baldio. O Marco do Saneamento traz esse regramento para o fechamento desses 3 mil lixões ao longo dos próximos 4 anos, regras de financiabilidade que vão ajudar, principalmente, aquelas cidades pequenas que não tinham recursos para tratar o seu resíduo da maneira correta e legal, metas para a geração de biogás renovável e metas para reciclagem.

O mercado vai migrar para isso. Primeiro, para a Orizon, é extremamente positivo porque a gente já dizia isso desde 2013, esse é o nosso negócio: tratar o lixo de maneira correta. Então, o Marco do Saneamento é música para nós. Vai trazer uma visibilidade desse problema para a sociedade brasileira e uma maior visibilidade aos investidores, o que traz mais recurso, mais investimento. A gente espera que com o Marco do Saneamento, ao longo dos próximos anos, o nosso setor participe de um booming (crescimento) como houve na área de saneamento de água e esgoto nos últimos 5 anos – e agora mais ainda com essas privatizações de Cedae e etc.. Vemos com bastante satisfação e felicidade a assinatura finalmente desse Marco do Saneamento no ano passado.

Quais os principais desafios para uma empresa de tratamento e valorização de resíduos?

O nosso maior desafio é conseguir da maneira mais eficiente possível absorver as oportunidades que nós temos. Dado o fato de o Brasil estar tão atrasado, há tantas oportunidades que o grande desafio nosso é gerenciar da melhor maneira possível a captura dessas oportunidades na velocidade que a gente quer. A matéria prima está aqui, a tecnologia é dada, as oportunidades estão na mesa. A gente vem desde o IPO se reestruturando com pessoas para que a gente tenha equipes preparadas para tocar esse volume de oportunidades simultaneamente.

Gostaria de acrescentar que o nosso trabalho protege o meio ambiente e a saúde da população. Temos uma missão de mudar a situação brasileira de destinação de resíduos sólidos. No lado ambiental, somos uma empresa que, além de tratar o resíduo de mais de 20 milhões de habitantes, é hoje o maior gerador de energia renovável do País advinda de biogás de resíduo e o maior gerador de crédito de carbono certificado do País.

Além disso, no quesito governança nós somos uma empresa que sempre teve fundo de investimento desde o princípio e com acionistas minoritários. Temos uma cultura de governança muito forte. E com o pré-IPO acabamos melhorando ainda mais isso. Trouxemos conselheiros independentes aqui para dentro como o Jerson Kelman, ex-presidente da Sabesp, e temos comitês de ética, de auditoria e de investimento.

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