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O impacto do juro abaixo de zero nos investimentos

(Foto: Shutterstock)

Se o Comitê de Política Monetária (Copom) confirmar os prognósticos e reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, o dia 5 de agosto poderá ser considerado uma data histórica. Pela primeira vez desde o início do Plano Real, em junho de 1994, o Brasil terá juros reais (descontada a inflação) negativos.

Pela edição mais recente do Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) na segunda-feira (3), a inflação prevista para 2020 é de 1,63% e a prevista para 2021 é de 3%, sempre considerando-se o IPCA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projetando-se essas taxas para 12 meses – cinco meses em 2020 e sete meses em 2021 – a alta esperada de preços será de 2,43%. Acima, portanto, dos 2% nominais da Selic. Ainda segundo o Focus, essa situação só vai mudar em 2022, quando as expectativas são de uma Selic de 5% e uma inflação de 3,50%.

Pela primeira vez desde o início do Plano Real, quem aplicar sua poupança recebendo 100% dos juros de mercado (que caminham muito perto da taxa Selic) vai perder dinheiro em termos reais. Para termos uma ideia da magnitude dessa mudança, voltemos no tempo. Em janeiro de 2016 a Selic era de 14,25% ao ano e a inflação para 2016 foi de 6,29%. Na ponta do lápis, os juros reais foram de 7,49% ao ano em 2016. Os mais elevados do mundo considerando-se os países com economias relevantes. Ao cair para abaixo de zero, os juros reais brasileiros se alinham com as taxas praticadas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.

Uma face visível do impacto dessa mudança sobre a economia foi o crescimento do número de investidores individuais na Bolsa. No início de 2016 havia 564 mil CPFs ativos na B3. Em julho passado, dado mais recente disponível, eram 2,82 milhões. Um crescimento de 400%, sendo que muitos recém-chegados chegaram ao mercado com poucas centenas de reais, em uma popularização inédita da renda variável. Porém, há outras faces dessa mudança.

Ainda segundo o Focus, o cenário para 2022 e 2023 é de uma elevação gradual dos juros em um ambiente de inflação sob controle, com juros reais projetados de cerca de 2% ao ano. Nada impede, porém, que o BC mantenha a Selic no patamar atual, especialmente se o IPCA permanecer bem-comportado. A longa permanência dos juros reais em patamares inferiores aos do passado vai encerrar o persistente rentismo brasileiro. O investidor terá de correr riscos para obter retorno. Ou seja, o brasileiro terá de aprender a investir.

Isso não vale apenas para as aplicações clássicas da renda variável. Também mudará os parâmetros do capital empreendedor, dos fundos de venture capital e private equity. Levará os proprietários de imóveis a refazer suas contas, mudando totalmente os preços dos ativos. E deverá, de fato, premiar a competência dos gestores de recursos, que serão avaliados e remunerados pela rentabilidade absoluta de suas carteiras.

Internacional
Enquanto as atenções dos investidores brasileiros se voltam para a ata do Copom a ser divulgada no fim da tarde, no cenário internacional há duas forças antagônicas. No lado positivo, o avanço das negociações em relação ao pacote de ajuda econômica nos Estados Unidos anima os pregões. No lado negativo, a repercussão sobre a explosão que vitimou 78 pessoas e feriu outras 4 mil em Beirute na tarde da terça-feira ainda deve pesar sobre o mercado.

A quarta-feira começa com os contratos futuros em alta, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. No Exterior, o que anima os investidores são os avanços nas discussões sobre o pacote de ajuda. No Brasil, além da esperada queda dos juros, o sucesso do BNDES em vender um lote de 8,1 bilhões de reais em ações da Vale (VALE3) animou os investidores.

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