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Combate ao coronavírus evidencia disparidade entre países do Oriente Médio

Em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, os motociclistas que realizam entregas em domicílio ganharam mais trabalho desde o início do toque de recolher e do fechamento do comércio para conter o novo coronavírus. Na Síria, a guerra civil continua e muitos sírios deslocados não têm acesso a condições básicas de saúde e apenas uma parte do território adotou medidas contra a pandemia. O combate à covid-19 no Oriente Médio evidencia a disparidade entre os países da região.

“Há uma tendência de se imaginar o Oriente Médio com aquela visão das monarquias do golfo, ricas em petróleo, mas na verdade há vários países muito pobres, sem condições sanitárias boas, como a Jordânia, Egito, Síria. Essa doença vem afetando de forma diferente quem tem mais dinheiro e quem tem menos dinheiro”, afirma o professor de Relações Internacionais da ESPM-SP Gunther Rudzit.

Em um extremo, as cenas registradas nos Emirados mostram esses trabalhadores em meio ao vazio das grandes avenidas e prédios luxuosos. Desde o começo de abril, o governo realiza uma desinfecção de locais públicos, restringindo o acesso da população e o país registra 7.200 infectados pela doença e 43 mortos.

Do outro lado, em cidades sírias pessoas relatam que andam por horas até encontrar um hospital funcionando para tratar alguma ferida de guerra. “Continuam ocorrendo confrontos, apenas 50% das instalações de saúde estão funcionando, há quase 1 milhão de deslocados que continuam fugindo de suas cidades e de seu país”, diz Sara Alzawqari, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Oriente Médio. A organização tem distribuído kits de higiene para 750 mil deslocados internos e adota medidas preventivas em hospitais.

Enquanto em Israel o governo começa a fazer liberações na quarentena, após considerar que a doença está mais controlada, e nos Emirados alternativas surgem para atender à população composta em sua maioria por estrangeiros, os países em guerra do Oriente Médio têm apenas mais um problema para contabilizar.

No Líbano, os primeiros casos de infectados pela covid-19 em campos de refugiados palestinos foram divulgados na semana passada. A primeira paciente, uma palestina, havia fugido da Síria. “Manter a distância social é quase impossível nos campos porque as tendas são próximas e muito cheias. Para pegar água ou ir ao banheiro, você vai a espaços comunitários”, explica Sara. O país tem 677 casos do novo coronavírus, com 21 mortes.

“De forma geral, a região tem recursos escassos e mesmo depois da pandemia, conseguir retomar a dinâmica da economia vai ser muito complicado. Não dá para tratar a região como um todo, mas os (países) mais pobres sairão mais prejudicados do que os mais ricos”, afirma Rudzit.

Em toda a região, há 6.122 mortes em razão do novo coronavírus e 146.298 casos confirmados. “O impacto do sofrimento não é o mesmo nesses países em guerra, apesar de a doença ser a mesma no mundo todo”, lamenta Sara.

Ramadã

Além das questões políticas, a religião é fator importante a ser considerado na luta contra a pandemia nessa região. “Em parte, a religião muçulmana ajuda nesse combate com o afastamento que existe pela religião entre homens e mulheres. Se for para países onde algumas práticas são levadas ainda mais a sério, com o uso de burcas e véus, isso também é um fator que ajuda a conter a propagação do vírus”, diz Rudzit.

Os líderes religiosos muçulmanos têm também orientado os fiéis sobre as condutas a serem tomadas nesse período. E o resultado já aparece com o começo do Ramadã, que esse ano ocorre sem grandes reuniões para as refeições da noite, sem orações noturnas nas mesquitas e sem viagens às cidades sagradas do Islã.

A famosa cena da Grande Mesquita de Meca, na Arábia Saudita, lotada não ocorreu desta vez como resultado da proibição da Umrah, a peregrinação a Meca e Medina.

Em Jerusalém, onde fica a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local sagrado do Islã, restrições similares para a oração do Ramadã foram anunciadas.

Por Fernanda Simas

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