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‘IPOs devem ficar suspensos até cenário se normalizar’, diz gestor

(Foto: Divulgação)

O sócio da gestora Ibiúna Investimentos, André Lion, acredita que o movimento de abertura de capital das empresa na Bolsa deve ser interrompido até que o cenário global fique mais claro. Segundo ele, o mais provável é que as empresas esperem o mercado se normalizar para fazer seus IPOs (oferta pública de ações). Mas, se precisarem da operação no curto prazo, terão de revisão os preços.

Sobre o processo de migração que o investidor brasileiro vinha fazendo nos últimos meses, ele avalia que o cenário de diversificação continua correto. Mas o investidor precisará fazer uma autoavaliação de quanto, como e em qual produto colocar seu dinheiro. “Não voltamos a ter taxas de 12% ou 14% ao ano. Então o cenário de diversificação continua correto.” Veja a seguir a entrevista:

A volatilidade do mercado pode atrapalhar o processo das empresas que estavam se preparando para abrir capital?
Sim, muito. Havia uma fila de empresas que estavam prontas para abrir o capital nas próximas semanas e meses. Agora elas ficam suspensas. Na verdade, há duas alternativas: ou esperam o mercado normalizar um pouco mais e tentam voltar nas condições anteriores ou vão ter de revisar o nível de preços que elas querem se vender. É mais provável é uma espera. Elas têm um prazo na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para completar a emissão planejada. Se passar esse prazo, elas podem postergar o processo. O mais provável e que vamos ver esse monte de empresa esperando. No mês de março, se o cenário continuar desse jeito, acho pouco provável ter qualquer IPO (oferta pública de ações).

O investidor brasileiro, incluindo pessoa física, estava num processo de migração da renda fixa para outras modalidades. Esse movimento será interrompido?
Vamos ter um teste. O cenário de diversificação e migração da renda fixa para outros ativos de risco, continua válido. Não voltamos a ter taxas (de juros) de 12% ou 14% ao ano. A diferença é a composição e o mix de investimentos. Todo mundo gosta de risco quando o mercado sobe. A questão é entender o risco quando sobe e quando cai. Por exemplo, estamos aproveitando esse processo de incerteza para, cuidadosamente e seletivamente, aumentar ou montar posições em ativos que achamos extremamente atrativos. Tem de tomar cuidado para não repetir erros do passado. Lá atrás, o investidor pessoa física sempre comprava na alta e vendia na baixa. Tem de ter calma para não fazer isso novamente. Nos próximos 60 dias, talvez um pouco mais, teremos um teste para esses investidores que estavam fazendo a migração. Esse processo continua correto, mas eles precisam ter o autoconhecimento de saber quanto, como e para que tipo de produto migrar.

Os preços estão atraentes para investir agora?
A precificação dos ativos está sendo impactada pelo premio de risco, que subiu demais por causa da incerteza. Na hora que conseguirmos entender melhor para que lado a crise vai e qual a intensidade, esse prêmio de risco vai reduzir. Naturalmente, vamos ter preços convergindo para os níveis corretos, sejam eles quais forem. Hoje vemos empresas com preços que, apesar das incertezas para as próximas semanas, estão começando a ter valor relevante. Empresas domésticas, cujo impacto do câmbio e do petróleo é marginal ou nenhum, caindo 20% ou 30%. Lógico que é um processo de crise e vários agentes que estão investidos na bolsa (pessoa física, fundos multimercados e fundos de ação) estão tendo de readequar o perfil de risco à nova realidade. Então ele é obrigado a reduzir, a vender ou tomar alguma decisão neste momento. Mas o que está ocorrendo é que estamos começando a ver preços de empresas que não víamos há bastante tempo.

Como vocês avaliam a evolução dessa crise?
A gente tem uma crise que vem de algumas semanas, que é a disseminação do coronavírus. Isso gera uma incerteza muito grande sobre qual será o impacto do vírus tanto do ponto de vista de saúde – não conhecemos o vírus, o que ele pode fazer e quais as consequências – como econômico. Não sabemos como as diversas economias do mundo vão reagir à crise e à pandemia. A gente tenta usar o processo mais adiantado que é o da China para entender o que ocorreu. Basicamente uma das coisas que olhamos é justamente o ciclo de contaminação e queda de novos casos ao dia. Logicamente que há algumas diferenças quando trazemos isso para o mundo ocidental. Aqui não temos o poder e a discricionariedade de fechar cidades e regiões inteiras como na China. Por outro lado, temos a vantagem de ter visto o que está ocorrendo lá. Então o sistema de saúde e os médicos já estão um pouco mais preparados do que na China, que foi pega de surpresa. Isso é um parâmetro para tentar prever o que está ocorrendo. Isso é uma indicação vaga, mas é o que estamos usando.

E qual o impacto da guerra de preços do petróleo na economia?
Na sexta-feira, tivemos a frustração de um acordo entre Rússia e Opep. No fim de semana, os árabes avisaram que iam produzir a capacidade máxima. A consequência disso é uma guerra de preço e o grande perdedor é o óleo de xisto, em especial dos Estados Unidos. Lá, eles têm custo de produção em torno de US$ 45 o barril. No nível de preço do petróleo de hoje, claramente o pessoal está embaixo d’água, está negativo. Na verdade, o pânico da segunda-feira foi o somatório dos dois eventos (coronavírus e petróleo) em cima de um cenário de incerteza sobre a economia mundial.

Essa crise é pior do que se imaginava?
Na verdade a gente não sabe o que vai ocorrer. A situação objetiva hoje é que tem uma crise localizada na Itália e na China. O resto dos países do mundo está ok. O que está ocorrendo é que todo mundo está cauteloso em relação ao que pode ocorrer. É cedo para dizer se é mais grave do que o previsto inicialmente. É essa incerteza que está criando a volatilidade no mercado. Alguns analistas e especialistas fazem projeções tranquilizadoras, de que é uma gripe mais forte e de que quando começar o verão no Hemisfério Norte a incidência do vírus vai diminuir. E há especialistas dizendo que vai haver um colapso generalizado do sistema de saúde. A análise inicial é que será algo no meio do caminho. Vai ter um estresse do sistema de saúde, mas não terá nada muito mais grave do que isso. A gente não consegue medir e prever qual o impacto nas economias. Esse é o grande problema.

Mas já há previsão de uma recessão global.
Acredito que ainda é cedo para falar isso. O que temos certeza é que o crescimento do mundo e do Brasil vai ser impactado por isso. Temos algumas análises sobre o assunto. No início do ano, já enxergava o Brasil crescendo entre 2% e 2,1%. Com as esperadas interrupções em fábricas no futuro (porque agora ainda temos estoque) e uma redução de viagens aéreas, estamos revisando para algo em torno de 1,5%. Já é dado que haverá o impacto em crescimento. Mas 0,5% de impacto é algo que machuca, mas a vida segue. Não é recessão. É diferente de começar a perceber dois trimestres de recessão e depois uma retomada muito lenta. Com as informações que temos hoje não dá para dizer que vai ocorrer isso. Em 30 dias vamos ter ideia da amplitude e intensidade dessa crise.

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