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Após decisão do Fed, economistas passam a prever novo corte da Selic

(Foto: Shutterstock)

A decisão extraordinária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de reduzir os juros em meio ponto percentual na manhã da terça-feira (3) deveria ter provocado um movimento de euforia no mercado. E provocou, mas por pouco tempo. Os índices de ações americanos chegaram a subir 1% logo após a decisão. No entanto, menos de uma hora depois, os mercados já embicavam para baixo. O índice Standard & Poor’s (S&P) de 500 ações fechou em queda de 2,81%. No Brasil, o movimento foi o mesmo. O Ibovespa fechou com queda de 1,02%. E, no mercado de renda fixa, os juros caíram a mínimos históricos. Pela primeira vez, a remuneração dos títulos de dez anos do Tesouro americano recuou para menos de 1%, fechando a 0,91% ao ano.

O que provocou a turbulência foi uma convicção dos investidores de que as coisas podem piorar. A atuação inesperada do Fed indica que o impacto econômico do coronavírus pode ser muito pior que o previsto. Ou seja, o corte inesperado dos juros indica que retração da economia devido à expansão da epidemia pode ser muito mais grave do que se supunha anteriormente. Com isso, profissionais do mercado ao redor do mundo refizeram as contas e viram que tanto os preços das ações quanto as taxas de juros poderiam cair.

Esse movimento chegou ao Brasil. Tanto que, no fim da noite, o Banco Central (BC) divulgou uma nota em que preparou o espírito dos investidores para novos cortes da taxa Selic. Segundo a nota do BC, a definição dos juros vai depender da situação do surto de coronavírus nas próximas duas semanas, período até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 17 e 18 de março. Na mais recente reunião, realizada em 4 e 5 de fevereiro, o BC sinalizou que a trajetória de queda da Selic seria interrompida, após cinco cortes seguidos na taxa.

No entanto, na nota de ontem, o BC comunicou que “monitora atentamente os impactos do surto de coronavírus nas condições financeiras e na economia brasileira”. O BC rememorou o 15º parágrafo da Ata da 228ª reunião que diz: “O eventual prolongamento ou intensificação do surto implicaria uma desaceleração adicional do crescimento global, com impactos sobre os preços das commodities e de importantes ativos financeiros.” E acrescentou que “à luz dos eventos recentes, o impacto sobre a economia brasileira proveniente da desaceleração global tende a dominar uma eventual deterioração nos preços de ativos financeiros.” Ou seja, uma indicação clara de que a taxa Selic vai retomar seu movimento de queda ainda neste mês de março.

Ainda ninguém sabe qual será o ritmo dessa queda. No entanto, já na noite da terça-feira (3), as apostas nas mesas de operação eram de um corte de meio ponto percentual ainda nesta reunião, reduzindo a taxa Selic para 3,75% ao ano. Vale lembrar que, no início da semana (antes da decisão do Fed) havia uma conversa insistente entre os profissionais de mercado de que o Copom poderia cortar mais 0,25 ponto percentual da Selic. Esse corte ocorreria em dois movimentos sucessivos, um agora em março e outro na reunião seguinte do Copom, agendada para maio.

Agora, o que era sussurrado passou a ser comentado em voz alta. Na avaliação mais agressiva, o corte pode ser de meio ponto percentual, para 3,75%, e de mais 0,25 ponto em maio, reduzindo a Selic para 3,5% ao ano, colocando, pela primeira vez, os juros reais brasileiros (aqueles superiores à inflação) no território negativo. E nada impede que uma continuidade da desaceleração econômica leve a Selic para inéditos 3% ao ano. Vale a frase de um operador de mercado americano ao perceber que os juros, lá, tinham caído a patamares baixos como nunca dantes: “estamos percorrendo um território que nunca foi mapeado.”

Indicadores

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na manhã desta quarta-feira, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019. Oficialmente, o PIB cresceu 1,1% no ano passado, para R$ 7,257 trilhões. Foi o terceiro resultado positivo, após as altas de 2017 e de 2018, ambas com o mesmo percentual de 1,3 por cento. Segundo o IBGE, o PIB per capita variou 0,3% em termos reais, alcançando R$ 34,5 mil em 2019. “São três anos de resultados positivos, mas o PIB ainda não anulou a queda de 2015 e 2016 e está no mesmo patamar do terceiro trimestre de 2013”, diz Rebeca Palis, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE. “A maior contribuição para o avanço do PIB vem do consumo das famílias, que cresceu 1,8 por cento. Pelo lado da oferta, o destaque foi o setor de serviços, que representa dois terços da economia”, disse ela. O setor externo prejudicou os resultados, com uma queda de 0,5%, ao passo que a demanda interna respondeu por 1,7% do resultado.

O comportamento do mercado tornou-se menos previsível. No entanto, apesar da incerteza, nesta quarta-feira (4) os mercados começam o dia em alta, animados em parte pela alta dos juros e em parte pelo avanço do ex-vice-presidente americano Joe Biden na preferência dos eleitores do Partido Democrata. Na avaliação de analistas,  no curto prazo, o movimento das ações deve ser para cima.

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