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As três barreiras ao crescimento da economia

Automóveis no pátio: demanda fraca nos mercados interno e externo. (Foto: Divulgação)

Daqui a 17 dias, na quarta-feira, dia 4 de março, o IBGE poderá confirmar que a retomada da economia brasileira é a mais lenta em quase um século. Naquela data, o Instituto vai divulgar o resultado oficial para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2019. A pergunta é se o número definitivo do PIB vai confirmar as projeções do mercado e do próprio governo (que são ruins) ou se vai frustrar até mesmo essas expectativas.

As estimativas “oficiais” mais recentes do Ministério da Economia, divulgadas em meados de janeiro, indicam um crescimento de 1,12%. Na última edição do boletim Focus de 2019, o prognóstico do mercado era muito parecido, de 1,17%. No entanto, no dia 14 de fevereiro o Banco Central (BC) divulgou o IBC-Br referente a dezembro de 2019, indicando um crescimento de 0,89% na economia no ano passado.

O IBC-Br é uma prévia do PIB calculada pelo BC. É menos abrangente do que o cálculo oficial realizado pelo IBGE. Também é um indicador mais volátil, pois é calculado mensalmente a partir de alguns dados que são trimestrais. No entanto, no médio e no longo prazo, o IBC-Br tem uma aderência muito grande ao número do IBGE.

E o fato de o resultado final ter ficado 0,23 ponto percentual abaixo da estimativa do governo e 0,28 ponto percentual aquém do prognóstico do mercado não é um bom sinal. Mostra que a tragédia em Brumadinho em janeiro, a guerra comercial entre China e Estados Unidos que se arrastou por todo o ano passado e a desaceleração da indústria e do varejo no fim do ano cobraram seu preço em preciosos centésimos de ponto percentual no cálculo do PIB.

Ao contrário do que se imagina, cada pontinho conta aqui. Em 2018, segundo o IBGE, o PIB brasileiro somou R$ 6,889 trilhões. Um crescimento “oficial” de 1,12% elevaria essa cifra para R$ 6,966 trilhões. Um crescimento de 0,89% como sugerido pelo BC representaria um PIB de R$ 6,951 trilhões. Ou seja, uma diferença de R$ 15 bilhões entre os dois resultados. Assim, cada centésimo de ponto percentual vale, na estimativa mais conservadora, R$ 695 milhões.

DEVAGAR – O que justifica essa economia tão em baixa? Não há uma única razão, mas é possível indicar alguns motivos. O que justifica o aquecimento da economia é o aumento da demanda. Nenhum empresário vai se arriscar a produzir e estocar se não tiver certeza de que haverá compradores. E os compradores estão escassos. Há três grandes grupos de compradores para o que é produzido no Brasil (e esse raciocínio vale para produtos e para serviços): o setor externo, com as exportações, o setor público, com as compras dos governos, e o setor privado, com as compras das famílias e das próprias empresas. Esses três grandes compradores têm se mostrado arredios.

Começando pelo setor externo. Os dois principais parceiros comerciais do Brasil, China e Estados Unidos, se engalfinharam durante quase todo o ano passado em uma guerra comercial de resultados imprevisíveis. Quando finalmente foi assinado um acordo, a epidemia do coronavírus afetou em cheio a economia chinesa. O isolamento de cidades inteiras levou à interrupção de cadeias produtivas e forçou o fechamento de fábricas nos dois lados do Pacífico.

Os números provam isso. Nesta segunda-feira, o Ministério da Economia divulgou que a balança comercial registrou superávit de US$ 52 milhões no acumulado do ano até 16 de fevereiro. Para comparar, no mesmo período de 2019, o superávit acumulado havia sido de US$ 2,613 bilhões. Ou seja, o superávit comercial recuou 98,01% em relação ao ano passado.

DESEMPREGO E GOVERNO – O cenário não é muito melhor no front interno. No fim de 2019, o desemprego recuou 0,6% para 11%, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE na terça-feira dia (14). O número de desempregados caiu 520 mil em comparação com o fim de 2018. O desemprego diminuiu pouco. Segundo o economista Hélio Zylberstajn, professor da Universidade de São Paulo, isso é explicado pela substituição do emprego formal pelo informal. O trabalho sem carteira assinada cresce ao mesmo tempo que a taxa de desocupação permanece estável.

Há outro problema. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados não está crescendo. A mesma PNAD levantou que o rendimento médio real de todos os trabalhos na média nacional foi estimado em R$ 2.340 no quarto trimestre de 2019. Isso representa uma estabilidade estatística tanto em relação aos R$ 2.317 do terceiro trimestre, quanto em relação aos R$ 2.332 do último trimestre de 2018.

Finalmente, os gastos do governo têm estado apertados. Em 2018, as despesas do governo central foram de R$ 1,35 trilhão, e em 2019 houve um crescimento de 6,7% para R$ 1,44 trilhão. Apesar do número polpudo, o crescimento foi incapaz de injetar ânimo na economia.

Sem sinais claros de aquecimento da demanda tanto internacional quanto doméstica, e com o setor público sem capacidade financeira de efetuar políticas contracíclicas, é muito improvável que o crescimento econômico mostre algo acima dos números anêmicos que têm sido publicados.

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