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‘Governo ficou ensandecido para pegar o dinheiro’, diz Luciano Bivar

Presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE) sustenta que foi o dinheiro público destinado ao partido o real motivo do racha entre os grupos liderados por ele e pelo presidente Jair Bolsonaro. Com a eleição de 52 deputados, o PSL passou da condição de nanico para detentor da segunda maior fatia do Fundo Partidário – só em 2019, a legenda recebeu mais de R$ 87 milhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A cúpula do governo ficou ensandecida para pegar esse dinheiro”, disse Bivar em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo. “Acho uma coisa abominável”, completou, ao falar sobre a crise que rachou o partido e levou à desfiliação de Bolsonaro.

Agora, ele tece críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e engrossa o coro dos que apontam falta de habilidade da gestão Bolsonaro. “O governo se preocupa mais com os costumes e o conservadorismo do que com a economia”, disse. A seguir os principais trechos da entrevista:

O sr. sente saudade da época em que o PSL era nanico?

Olha, há quem diga que o dinheiro traz tudo, mas o dinheiro traz também um pouco de maldição. As pessoas ficam ensandecidas. Não era esse (conseguir verba do fundo partidário) o objetivo do PSL. Era alcançar o poder para realizar as reformas. No momento em que o PSL tem um fundo partidário, a cúpula do governo ficou ensandecida para pegar esse dinheiro. Acho uma coisa abominável isso. Se eu pudesse hoje renunciar a tudo isso, eu faria.

Se os deputados bolsonaristas saírem do PSL e entrarem com ações para tentar levar o dinheiro do fundo, o sr. vai ser contra?

Olha, eu moro no Brasil e vou continuar morando no Brasil porque eu acredito no direito objetivo, no Estado de Direito, nas cortes que regem esse País. Por mais agredido que eu tenha sido na minha vida – de viver numa planície, às custas e riscos do meu próprio esforço, sem nunca ter tido dinheiro público nas minhas empresas – não significa que eu desacredite no Estado de Direito. Existe uma legislação, um Supremo Tribunal Federal. O dia que eu não acreditar nisso, é melhor ir morar em um país ditatorial. Critico muito quando você ataca as instituições.

Em 2019, o ataque a muitas instituições, como o Congresso e o STF, partiu justamente do governo federal. O que acha disso?

Acho que o Brasil é muito feliz porque as suas instituições estão funcionando. A preocupação que nós temos é que querem realmente comprometer as instituições desse País.

Acha contraditório o sr. ser considerado “queimado para caramba”, como citou Bolsonaro, por causa das suspeitas de candidaturas femininas laranjas e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que também é investigado, não?

Isso não tem nada a ver com esse distanciamento que teve uma ala radical – e de viés autoritário – de uma ala liberal e consciente. Essas questões de candidaturas masculinas que presumivelmente se beneficiaram de candidaturas femininas – acho que isso não tem repouso no bom senso. Oxalá eu tivesse no meu partido várias Joices Hasselmann, várias Janainas (Paschoal), várias Dayanes Pimentel, várias doutoras Sorayas (Thronicke). Mas a gente não tem. Temos que ser muito pragmáticos. Existem poucas mulheres ativas na política nacional. Determinada por lei, essa cota de 30% para gênero vai gerar distorções. Quem sabe em duas décadas as mulheres passem a ter uma participação mais ativa na vida nacional. Acredito muito nas mulheres, elas eram mais de 50% dos gerentes das 19 que eu tinha nas minhas empresas (Excelsior e da Brasitec, de gerência de risco).

Como ficou a relação com Bolsonaro depois de tudo que aconteceu?

O meu objetivo, os meus esforços foram para que a gente alcançasse o poder sem nos aviltarmos. Passei mais de 15 anos de um socialismo moreno no nosso País, sem arredar o pé das minhas convicções liberais e achei que esse governo poderia dar esse viés. Mas as coisas não estão andando. Você vê que o governo não tem a habilidade para fazer as reformas que a gente precisa por uma questão de que se preocupa com coisas que não fazem sentido. Se preocupa mais com os costumes e o conservadorismo que com a economia propriamente dita.

Bolsonaro vai conseguir criar o Aliança Pelo Brasil a tempo das eleições deste ano?

Olha, eu acho que não tenho mais que ter mais nenhum tipo de especulação com relação ao presidente, sabe? Ele escolheu o caminho dele e para mim só resta fazer o que eu sempre fiz nesses 20 anos, lutar pelos ideais que eu sempre tive. Acho que a gente teve uma oportunidade agora de mudar muitas coisas no País. Não estão acontecendo (as mudanças). É uma pena. A gente, por inépcia do governo federal, não tem conseguido levar adiante as reformas que poderiam ser feitas.

Mas saiu a reforma da Previdência. Fala de outras?

A da Previdência podia ser mais larga ainda, ela não atingiu os Estados. Não atingiu o seu objetivo.

O sr. se preocupou mais com a pauta do liberalismo do que com outras bandeiras do governo. O que acha do pacote anticrime?

O liberalismo econômico precede qualquer outra reforma. Se você mantiver uma economia perfeitamente liberal, onde você incentiva o empregador e a livre iniciativa, você não posterga o País. Por outro lado, a nossa economia tem que ser menos financista, sabe? Olhar o aspecto macro.

Então o sr. é crítico da atuação do ministro Paulo Guedes?

O Ministério da Economia está muito financista. O governo tem que se desprender de ficar só em uma conta aritmética.

Pode dar um exemplo?

Veja essa questão agora do DPVAT. Você não pode seguir com as seguradoras há oito anos indenizando o mesmo valor a uma pessoa que é atropelada. Isso diminui mais ainda a capacidade da continuidade da vida econômica – é um sentido muito pequeno, muito financista. Nos Estados Unidos, acontece o oposto. O IPVA é muito menor que o prêmio de seguros. A indenização vai a US$ 1 milhão. É importante que, se alguém for atropelado na rua, não cesse a sua atividade econômica.

Uma empresa do sr. era operadora do DPVAT. Critica a extinção do seguro pelo governo?

Acho que as seguradoras deveriam pagar uma indenização maior, e não diminuir o prêmio. A indenização máxima é R$ 13 mil. Isso acontece há oito anos. O que vai fazer um pai de família que perde as pernas em um acidente de moto? Com R$ 13 mil?

E a extinção do DPVAT contribui para a redução?

Contribui para que a indenização continue pequena. Pífia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Paula Reverbel

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