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Recuperação da economia a níveis pré-pandemia não está completa, diz Campos Neto

"Os níveis de confiança no Brasil voltaram a cair.", disse Campos Neto (Foto: Marcelo Camargo / Ag Brasil)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta terça-feira, 6, que a recuperação da economia a níveis pré-pandemia não está completa, lembrando que a segunda onda da pandemia deve ter impactos sobre a atividade em março e abril deste ano. “Os níveis de confiança no Brasil voltaram a cair. Acredito que as pessoas estão tentando entender o que esse novo movimento de distanciamento social significa para os negócios e quão tempo ele deve durar”, avaliou em participação em evento virtual promovido pelo Itaú Unibanco.

Ele reforçou que o BC está preparado para tomar mais medidas de liquidez, caso seja necessário. “Mas acreditamos que o sistema financeiro segue com bastante liquidez e bem capitalizado”, completou.

Lockdown e vacinação

O presidente do Banco Central disse que há estudos que mostram que as medidas de lockdown adotadas em algumas cidades tiveram pouco sucesso em reduzir a mobilidade nessas localidades. Ele voltou a defender uma aceleração no processo de imunização contra a covid-19 para possibilitar a reabertura da economia.

“As pessoas não estão ficando em casa, por um motivo ou outro, mas acreditamos que essas medidas (de lockdown) terão curto prazo. Nossas simulações mostram que é necessário vacinar mais pessoas e mais rápido. Se passarmos de 1 milhão para 2 milhões para doses aplicadas por dia, o impacto na economia é enorme. Temos que seguir nessa direção”, afirmou, em participação em evento virtual promovido pelo Itaú Unibanco.

Campos Neto repetiu que há um aumento de infeccções e mortes por covid-19 no Brasil e citou o esforço de diversos países na compra de vacinas contra a doença. “O Brasil tem uma história de sucesso na vacinação. O Brasil vem acelerando o programa de imunização e finalmente esta vacinando 1 milhão de pessoas por dia. Os Estados Unidos e o Reno Unido têm tido bastante sucesso em seus programas. Estimamos que 10% do mundo estará vacinando no fim deste mês”, afirmou.

Segundo Campos Neto, a queda no número de óbitos nos países que avançaram mais na aplicação das vacinas demonstra a eficácia da imunização. “Em julho, a maioria das pessoas com maior risco já terá sido vacinada e no segundo semestre devemos ver uma reabertura da economia. Mas as coisas podem ser diferentes. No Chile, apesar da aplicação das vacinas, os casos estão aumentando, mas achamos que o Chile não é um bom exemplo para o Brasil, que teve um grau de isolamento social diferente nos últimos meses”, comparou.

‘Reflação’

O presidente do Banco Central repetiu também que a cenário de “reflação” em diversas economias tem levado a um processo de aumento nas taxas de juros por vários bancos centrais. Para o presidente do BC, essa reflação leva a uma reprecificação dos ativos, enquanto os estímulos financeiros persistem em meio à retomada econômica.

Campos Neto reiterou que a inflação de alimentos está rodando acima da meta de inflação em diversas economias emergentes, com destaque para o Brasil e a Turquia.

Mais uma vez, ele apontou o tamanho do pacote fiscal brasileiro em 2020 para o enfrentamento da pandemia de covid-19, que resultou em um endividamento que está entre os maiores dentre os emergentes. “Considerando este grupo, a dívida bruta brasileira só é menor em proporção do PIB do que a de Angola”, repetiu, em participação em evento virtual promovido pelo Itaú.

Política monetária

O presidente do Banco Central disse também que o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou um processo de “normalização parcial” da taxa de juros porque o cenário básico passou a apontar que a inflação ficaria mais alta.

“Muitos criticaram que devíamos ter reduzido ainda mais a Selic. Mas quando baixamos a Selic para 2,00% (em agosto de 2020), projetávamos um cenário que nunca se realizou. Então o BC sabia que deveria iniciar alguma normalização em breve (da Selic)”, afirmou ele. “Vemos uma alta dos preços locais das commodities, que têm efeito sobre a inflação”, repetiu.

Mais uma vez, Campos Neto avaliou que aumentar a Selic em um ritmo mais forte – com uma alta de 0,75 ponto porcentual, para 2,75% em março, já prevendo nova alta de 0,75 p.p. em maio – pode significar uma alta total menor da taxa até o fim desse ciclo.

Por Eduardo Rodrigues e Fabrício de Castro

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