A curva de juros sustentou durante a tarde desta terça-feira, 26, a desinclinação induzida desde cedo pela leitura da ata do Copom, que foi reforçada pelo discurso do governo de comprometimento com a disciplina fiscal e pela queda do dólar. O documento, considerado mais “hawkish” do que o esperado, capitaneou o movimento de alta das taxas de curto prazo e forte recuo das longas, ao revelar que os membros do colegiado discutiram a possibilidade de iniciar o aperto monetário já na reunião da semana passada.
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Com isso, as apostas de elevação da Selic ganharam força, com parte do mercado antecipando o cenário de abertura do ciclo para março. Na precificação para o próximo Copom, a curva já mostra maior probabilidade (em torno de 60% de chance) de um aumento de 0,5 ponto porcentual da taxa básica. O IPCA-15 de janeiro veio levemente abaixo da mediana das estimativas, mas com abertura considerada ruim, o que endossou a mensagem do BC.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 3,393% no ajuste de sexta-feira para 3,425% (regular) e 3,400% (estendida) e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 7,508% para 7,300% (regular) e 7,320% (estendida). O DI para janeiro de 2023 fechou a sessão regular e a estendida com taxa de 5,080%, de 5,199% no último ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,62% (regular) e 6,63% (estendida), de 6,80%.
No fim da tarde, a curva já tinha 40 pontos-base de aumento para a Selic em março, segundo a gestora de renda fixa da MAG Investimentos, Patricia Pereira, ou mais ou menos 60% de chance de alta de 0,5 ponto porcentual e 40% de possibilidade de alta de 0,25 ponto. “E a curva tem aumentos na casa dos 50 pontos mais ou menos o ano todo”, explicou.
Na ata, alguns membros do Copom julgaram que o BC deveria reduzir grau “extraordinário” de estímulos e que o início da normalização parcial deveria ser considerado. Várias instituições anteciparam o cenário de início do ciclo de contração monetária para março, entre elas Itaú Unibanco, Credit Suisse e BofA.
Na avaliação do operador de renda fixa da Nova Futura, André Alírio, a ata, mais os discursos do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o alívio do câmbio retiraram boa parte da pressão que as taxas vinham sofrendo na semana passada em função das preocupações com a volta do auxilio emergencial e do processo conturbado de vacinação contra a covid-19. “O mercado está devolvendo o que subia até sexta-feira”, disse.
Enquanto o presidente prometeu manter o compromisso com a regra do teto de gastos e a aceleração da agenda de privatizações, Guedes indicou que, caso o governo tenha de acionar um protocolo de crise, se o quadro da covid-19 no País se agravar, terá de haver contrapartidas. Era o que o mercado, tenso com a cada vez mais elevada chance de resgate do auxílio emergencial, queria ouvir. Tanto ele quanto Bolsonaro participaram de evento realizado pelo Credit Suisse pela manhã.
A terça-feira teve ainda o IPCA-15 de janeiro, que desacelerou a 0,78% (1,06% em dezembro), mais do que apontava a mediana das estimativas, de 0,81%, mas não foi o suficiente para evitar a alta da ponta curta. “Veio mais baixo do que o esperado, mas a abertura trouxe núcleos mais pressionados. Então, acaba indo no sentido do que apontou a ata”, explicou Patricia, da MAG.
Por Denise Abarca
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