O Brasil precisará aplicar a Coronavac em praticamente toda a sua população apta a recebê-la (99%) para alcançar a imunidade coletiva – e deter a circulação do novo coronavírus no País. O cálculo é do microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e do Instituto Questão de Ciência. Segundo Almeida, seriam necessários dez meses para que todos recebessem a primeira dose. Ou seja, se tudo der certo, a vacinação só terá detido totalmente o vírus no segundo semestre de 2022.
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A eficácia global da vacina produzida pelo Butantã e pelo laboratório chinês Sinovac é de 50,4%, como anunciado na terça-feira. Por isso, para alcançar a imunidade de rebanho, será necessário imunizar 160 milhões de brasileiros (dos 162 milhões que podem receber a vacina). Segundo o IBGE, o País tem 211 milhões de habitantes. No entanto, os menores de 18 anos, inicialmente, não receberão a vacina.
Especialistas consideram que a imunidade coletiva é obtida quando entre 60% e 70% da população está imunizada. O porcentual da população vacinada e o tempo para atingir a meta seriam menores com vacinas de eficácia mais alta.
Almeida calcula ainda que, no caso da vacina da Pfizer/BioNtech, cuja eficácia é de 95%, seria necessário imunizar metade do público, 81 milhões de pessoas, em aproximadamente cinco meses. No caso da vacina de Oxford (produzida no País pela Fiocruz e que também deve estar disponível no Brasil), com uma eficácia de 62,1%, o porcentual teria que chegar a 80%. Seriam 129 milhões vacinados em aproximadamente oito meses.
“Uma campanha de vacinação tem dois objetivos muito claros: gerar a imunidade de rebanho e a proteção individual”, disse Flávio Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia. “A CoronaVac não consegue cumprir muito bem o primeiro objetivo, mas o segundo objetivo se cumpre muito bem. Diante da emergência e das circunstâncias, é uma ferramenta muito importante.”
Cálculo errado
Cálculos com os dados brutos dos testes da Coronavac apontam uma eficácia de 49,69%, e não de 50,38%, como anunciado esta semana pelo Butantã. Mas o método usado na conta está errado para o caso da Coronavac e não corresponde ao modelo definido pelo Butantã no protocolo de pesquisa para calcular a eficácia da vacina, disse ao Estadão o diretor médico de pesquisa clínica do Butantã, Ricardo Palacios.
Segundo ele, o cálculo que aponta eficácia de 49,69% é inadequado nesse caso por considerar só o total absoluto de infecções em cada grupo do estudo (placebo e vacinado) e deixar de fora outro fator avaliado: o tempo de exposição ao risco de cada participante dos testes até ser infectado.
Em estatística, o método que conta também a variável tempo de exposição ao risco é chamado de análise de sobrevivência e tem como principal medida o hazard ratio (HR). Existe também a análise clássica, que leva em conta só o número de infecções em cada grupo, sem considerar o tempo de exposição. Ela tem como medidas o odds ratio (OR) ou risco relativo (RR). A metodologia deve ficar clara, para não haver desvios dos objetivos iniciais do estudo.
Palacios diz que o Butantã preferiu usar esse método por ser um estudo de curta duração, no qual o tempo de exposição ao risco de infecção de cada voluntário poderia variar muito.
No slide de apresentação dos resultados da Coronavac, além dos números absolutos, consta essa incidência, que seria de 11,74 no grupo vacinado ante 23,64 no grupo placebo.
“Se fosse um estudo em que a análise de eficácia fosse feita após dois anos, por exemplo, não teria tanta diferença porque todos os voluntários ficariam expostos por um tempo similar. Mas nesse caso, consideramos que seria mais adequado atribuir riscos diferentes conforme o tempo porque o risco de um voluntário com duas semanas de exposição após a vacinação é diferente de um que ficou quatro meses exposto”, afirma Palacios.
Ele ressaltou que a escolha do método está no protocolo de pesquisa, de agosto, apresentado à Anvisa para ter aval para a pesquisa e publicado em revista científica revisada por pares. “No protocolo descrevemos com antecedência a forma como a análise será feita justamente para não sermos acusados de mudar a regra do jogo durante a partida”, disse. O documento traz na página 47 a informação de que o método usado seria o do cálculo do hazard ratio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Roberta Jansen e Fabiana Cambricoli
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