A saga do mineiro Carlos Vaz é bem parecida com a de milhares de brasileiros que sonham em fazer fortuna nos Estados Unidos. A diferença é que ele realmente conseguiu. Saiu do Brasil com US$ 300 no bolso para fazer um estágio não remunerado em Boston, trabalhou dia e noite para sobreviver e, quase 20 anos depois, virou um importante empresário no Texas. Em setembro do ano passado, foi considerado um dos 18 executivos mais admirados pelo Dallas Business Journal e sua empresa, a Conti Real Estate Investments, já soma mais de US$ 1 bilhão de ativos negociados em 11 anos de operação.
No total, a empresa tem 31 propriedades, sendo 15 adquiridas por meio de fundos de investimentos – regulados pela Securities Exchange Commission (SEC, a CVM americana). O negócio consiste, basicamente, em captar recursos com os mais diversos investidores para comprar imóveis destinados ao aluguel para classes mais baixas nos Estados Unidos.
Em tempos de juros negativos no mundo, o investimento pode render entre 7% e 11,5% ao ano, em dólar – números que têm atraído brasileiros de olho na diversificação do capital. Em 2016, a participação dos investidores nacionais nas captações da empresa de Vaz era de apenas 10%; em 2019, alcançou 30%.
O interesse dos brasileiros começou em um curso que o empresário fez na Universidade Harvard, em 2016. “Mostrei o modelo de negócios e eles se interessaram; pediram que viesse ao Brasil para apresentar o investimentos para algumas famílias”, conta Vaz, que nasceu em Itajubá, no sul de Minas Gerais. O brasileiro Ricardo Anhesini é um dos investidores que a Conti arregimentou no País. “Queria colocar meu dinheiro num investimento com renda pulverizada e com risco baixo. Estou bastante satisfeito com o retorno que tenho conseguido.”
Para chegar nesse estágio, no entanto, a empresa exigiu muito planejamento de Vaz. Desde jovem, uma de suas principais características era organizar os próximos passos de sua vida. Quando quis aprender alemão e não existia esse curso em Minas, juntou alguns amigos, criou uma turma e ganhou uma bolsa de estudos na escola de idiomas. Nos Estados Unidos, não foi diferente. Desde que chegou, em 2001, após abandonar o curso de Direito na Universidade Federal de Viçosa, sua meta foi ganhar dinheiro e fazer cursos em faculdades renomadas que lhe dessem conhecimento e uma rede de contatos.
Oitavo filho de um total de nove irmãos, o empresário nunca se enquadrou nos planos traçados pelo pai, que tinha aversão à escola. Para o patriarca, os filhos tinham de trabalhar desde cedo para mostrar seu valor – cultura comum naqueles tempos no interior de Minas. Nesse ambiente, aos sete anos de idade, Vaz começou a ajudar o pai no açougue da família, mas continuou na escola. A tradição era estudar só até a 4ª série para aprender a ler, escrever e fazer algumas contas.
Mas ele quebrou essa rotina na família. Estudioso, em pouco tempo, Vaz conquistou uma bolsa numa escola privada e começou a vislumbrar a possibilidade de fazer uma faculdade. Nessa época, o empresário começou a se interessar por línguas, de olho num curso de relações internacionais. Aprendeu sozinho inglês e, depois, alemão. Mas acabou entrando no curso de Direito, em Viçosa. Nessa época, começou a buscar escritórios fora do País para estagiar. Primeiro mandou correspondência para várias empresas na Alemanha, sem sucesso. Depois tentou algumas bancas nos Estados Unidos. Teve resposta de um escritório em Boston, mas sem remuneração.
Sonho americano.
Apesar de alguns conselhos contrários, seguiu a intuição e embarcou no sonho americano. O dinheiro que tinha só deu para alugar o sótão de uma casa – quente no inverno e também no verão. Já na primeira semana tinha em mente que precisava arrumar emprego para se bancar no país, uma vez que o estágio não pagaria nenhum centavo. Trabalhava das 8h às 13h no escritório e de noite trabalhava num jornal da região. Arrumou ainda uma vaga em um restaurante para trabalhar nos fins de semana.
Quase todo o dinheiro ia para fazer cursos. Estudou economia e administração de empresas, até entrar no ramo de construção civil. Aí buscou se especializar e arrumou um emprego na área. Todo dinheiro que sobrava, comprava uma ferramenta nova. Montou uma empresa de pequenos serviços de construção e depois um negócio de compra e venda de imóveis. Em dois anos, comprou e vendeu 32 imóveis. “Mas muita gente começou a fazer a mesma coisa e os bancos começaram a dificultar o crédito. Decidi então sair dessa área e montar outro negócio, ainda sem saber muito bem o que fazer.”
Aposta.
Mas Vaz deu uma reviravolta na sua vida. Mudou de Boston para Dallas e montou a Conti, em 2008. “Não tinha muito dinheiro, mas tinha muito network.” Ele começou comprando 208 apartamentos de um conjunto residencial. “Só tinha dinheiro para o sinal, mas arrumei uns investidores. Eles ficaram com 99% e eu com 1%. O objetivo era ganhar experiência.” Daí para frente, os negócios só cresceram.
Em dezembro do ano passado lançou um novo fundo de investimentos, para nova aquisições. Desta vez, com muito dinheiro de famílias endinheiradas do Brasil que buscam nos Estados Unidos opções para remunerar suas fortunas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Renée Pereira
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