O mercado de juros fechou taxas em alta, refletindo a leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e fatores técnicos relacionados ao megaleilão de 5 milhões de NTN-B 15/5/2023. Os vértices intermediários foram os mais afetados, pela percepção de que o documento “corrigiu” o tom “dovish” e, para muitos, equivocado, do comunicado. Com isso, na curva a termo, as apostas em aperto da Selic em dezembro ganharam espaço. As máximas foram atingidas à tarde, passado o leilão, mesmo com a manutenção do cenário positivo no exterior, onde os ativos de risco tiveram boa performance, amparados na ideia de que uma vitória democrata na eleição presidencial americana deve acelerar o acordo para o pacote fiscal nos Estados Unidos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 3,465% no ajuste de sexta-feira para 3,51% no fechamento da sessão estendida. O DI para janeiro de 2023 encerrou a sessão estendida em 5,18%, de 5,056% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 6,92%, ante ajuste anterior de 6,785%, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 7,574% para 7,69%.
Os pontos mais destacados da ata foram aqueles em que o Banco Central discorre sobre o forward guidance, orientação futura de que não pretende reduzir os estímulos monetários se cumpridas determinadas condições que, segundo o BC, seguem satisfeitas: projeções de inflação abaixo da meta no horizonte relevante, regime fiscal não alterado e expectativas de inflação de longo prazo ancoradas. E explicou que sustentar o teto de gastos por si só não garante o forward guidance. “Alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido”, afirma a ata.
Depois da ata, a precificação para a Selic na curva hoje apontava 75% de chance de aperto de 25 pontos-base no Copom de dezembro, ante 67% na sexta-feira. Os cálculos são do Haitong Banco de Investimento.
Vitor Carvalho, sócio-gestor da LAIC-HFM, viu o mercado de juros hoje basicamente reagindo à ata, que, na sua visão, corrigiu “um comunicado que estava fora da realidade”. “O mercado de DI segue zerando posições pela falta de fluxo novo”, disse. Além da questão do teto, Carvalho destaca ainda ter sido importante o BC sinalizar que preservou a frase sobre o espaço remanescente para corte, que já constava do comunicado e ata anteriores, somente por “uma questão prudencial”. “Ou seja não quer dizer nada”, afirmou.
A ata já pressionava os juros de curto e médio prazos pela manhã e, passado o leilão de NTN-B, as taxas deste trecho ampliaram a alta e atingiram as máximas do dia, enquanto os longos zeraram o viés de baixa. Nas mesas, profissionais atribuíram o ganho de ritmo às operações de investidores que, ao participarem do leilão, precisavam se proteger no DI. “O mercado está travando o risco da inflação implícita dos papéis”, disse um gestor, ressaltando que mesmo com oferta grande, de 5 milhões – a maior do ano para um único vencimento de NTN-B -, a operação teve grande demanda.
Por Denise Abarca
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