Em sua primeira aparição pública desde o diagnóstico de covid-19, Donald Trump realizou neste sábado, 10, na Casa Branca, um comício para uma plateia selecionada. Na reta final da disputa, em queda nas pesquisas, ele ficou afastado por oito dias em razão da doença. Mesmo sem a confirmação de que ele não está mais contagioso, o presidente organizou um evento para centenas de pessoas para marcar a retomada da campanha.
Na quinta-feira, o médico da Casa Branca, Sean Conley, informou que Trump estaria apto a voltar aos compromissos públicos. Trump está ávido para retomar os comícios, que são seu grande ativo político junto aos eleitores, e tem pressionado para ser liberado. O presidente chegou a anunciar que iria à Flórida e à Pensilvânia no fim de semana, mas foi desaconselhado pela equipe de médicos.
Sem poder sair de casa, Trump trouxe a campanha para dentro da residência oficial. “Estou me sentindo ótimo”, afirmou. Ainda não se sabe, no entanto, se o presidente deixou de transmitir o coronavírus. A Casa Branca não informou se o presidente já teve um teste negativo depois do diagnóstico da doença.
Trump fez um discurso de 16 minutos com tom político a partir da varanda da fachada sul da Casa Branca. Mais de uma vez, ele chamou o coronavírus de “vírus da China” e disse que a pandemia “desaparecerá”. “A medicina erradicará o vírus da China de uma vez por todas. Vamos acabar com isso. Vai desaparecer, está desaparecendo”, disse o presidente.
O comício foi chamado pela presidência de “um protesto pacífico pela lei e pela ordem”. O apoio à polícia, em oposição aos protestos contra ao racismo e a violência policial, é uma das principais plataformas de campanha de Trump, que busca um contraste político com os democratas.
No gramado da Casa Branca, a plateia foi formada apenas por convidados, principalmente por integrantes de um movimento negro chamado “Blexit”, fundado por Candace Owens, ativista conservadora. O grupo foi criado para incentivar os negros a abandonar o Partido Democrata.
Alguns eleitores do presidente ficaram do lado de fora, como Scott Knuth, que carregava um mastro com bandeiras dos EUA, com palavras como “honra” e “coragem”, e uma bandeira da campanha de Trump. Ele foi um dos que foi até a porta do hospital militar Walter Reed demonstrar apoio ao presidente, mas disse que não se importa em ter ficado fora do evento da Casa Branca porque já foi a 32 comícios do americano.
O Distrito de Colúmbia, onde fica a Casa Branca, é majoritariamente democrata. Mais de 90% dos eleitores da capital votaram em Hillary Clinton em 2016. Portanto, aqueles que ficaram de fora eram poucos. Eles se acomodaram no gramado próximo aos tapumes instalados para limitar o acesso ao comício. Antes de o evento começar, eles foram afastados para quase 1 quilômetro da residência oficial.
Angela Weatherly foi uma das que tentou entrar, sem sucesso. Moradora de Ohio, ela já estava em Washington neste fim de semana e foi dar apoio a Trump porque se diz “contra o socialismo”.
No discurso deste sábado, o presidente voltou a dizer que a oposição democrata é “comunista” e disse que voltaria a fazer comícios para impedir que o país se torne uma nação socialista – palavra usada seis vezes por ele. O pontapé da retomada de campanha nos Estados-chave começa amanhã, na Flórida. Nos dos dias seguintes, Trump irá aos Estados da Pensilvânia e Iowa.
O comício deste sábado aconteceu exatamente duas semanas depois do evento na Casa Branca que pode ter espalhado o coronavírus entre a cúpula do governo, incluindo o presidente e a primeira-dama. A recepção em homenagem à juíza Amy Coney Barrett, indicada por Trump à Suprema Corte, contrariou as recomendações de saúde do Centro de Controle de Doenças (CDC) e, ao mesmo tempo pode configurar uma violação da lei americana pelo uso da residência oficial em evento político-partidário.
No comício, a Casa Branca tentou passar a imagem de que não era um evento de campanha, mas sim um ato da presidência – apesar de os convidados, o discurso e a motivação do encontro terem clara mensagem partidária. Assessores de Trump afirmaram que ninguém da equipe de campanha esteve envolvido na organização e afirmaram que o público foi convidado pela Casa Branca.
A legislação americana conhecida como Lei Hatch impõe restrições à participação de funcionários do governo federal em eventos de campanha. Não foi a primeira vez, no entanto, que Trump usou a residência oficial para atos políticos. Na convenção republicana, Trump usou a Casa Branca duas vezes, para o seu discurso e o da primeira-dama.
Por Beatriz Bulla, correspondente
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