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Investimentos ficaram abaixo do mínimo necessário de 2016 a 2019, diz Ipea

A forte recessão de 2014 a 2016 e a estagnação que se seguiu por três anos até a economia entrar este ano em novo ciclo recessivo, por causa da pandemia de covid-19, fez com que, pela primeira vez desde, pelo menos, 1947, os investimentos “líquidos” tenham ficado no negativo, mostra um estudo divulgado nesta terça-feira, 8, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso significa que, entre 2016 e 2019, os investimentos feitos na economia brasileira não foram suficientes sequer para garantir a manutenção de estradas, pontes, portos, fábricas e maquinário.

Os investimentos “líquidos” são a medida dos investimentos totais – ou a formação bruta de capital fixo (FBCF), no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) – menos o montante desses aportes que cobrem apenas a manutenção do “capital” – a “estrutura” usada para produzir. Isso porque ferrovias, aeroportos, shopping centers e máquinas se deterioram com o tempo. Depois que uma estrutura dessas é inaugurada, se nada mais for investido, ela envelhece, se deprecia e, portanto, perde a capacidade de produzir.

Assim, os investimentos “líquidos” apontam quanto, de fato, está sendo aportado na ampliação de capacidade produtiva. Essa capacidade será maior quanto maior for o “estoque de capital”, ou seja, o valor total dos capitais disponíveis numa economia.

Todos os trimestres, ou todos os anos, os dados do PIB informam o fluxo da FBCF. Esse fluxo é o montante investido nesses períodos, de forma contínua. Quando o investimento “líquido” é positivo ao longo do tempo, vai se acumulando no “estoque de capital” e, portanto, ampliando a capacidade de uma economia crescer. Com o investimento “líquido” negativo, também pela primeira vez, o “estoque de capital” do Brasil encolheu de 2016 a 2019.

Em 2019, o investimento total na economia brasileira somou R$ 674 bilhões, em valores de 2010 já corrigidos, nos cálculos do Ipea. Só que esse valor ficou R$ 104 milhões abaixo do necessário para repor a depreciação do capital naquele ano. Em 2018, o quadro foi ainda pior, pois os R$ 658,5 bilhões investidos ficaram R$ 66,3 bilhões abaixo do necessário. O estoque de capital terminou o ano passado em R$ 9,960 trilhões, ante R$ 10,082 trilhões em 2015, sempre a valores de 2010.

As estimativas mais recentes do Ipea, também divulgadas nesta terça, apontam que, no início deste ano, mesmo com a nova recessão causada pela pandemia, o investimento “líquido” voltou para o terreno positivo, quando se olham os dados no acumulado em 12 meses. Ou seja, os investimentos totais voltaram a ficar acima do necessário para repor a depreciação do “estoque de capital”. Isso significa que levou dois anos para a tímida recuperação dos investimentos totais, em 2018 e 2019, surtir algum efeito.

“Apesar da recuperação do crescimento dos investimentos brutos ter se iniciado em 2017, somente no início deste ano, o investimento bruto voltou a ficar maior que o investimento necessário para repor da depreciação – indicando o aumento da capacidade instalada do estoque de capital”, diz um trecho de um dos relatórios divulgados pelo Ipea.

Com base no estudo inédito que estimou o “estoque de capital” e o investimento “líquido” na economia brasileira desde 1947, o Ipea passará a divulgar dados trimestrais sobre esses indicadores. Eles são importantes para ajudar a calcular o “PIB potencial”, como os economistas chamam o ritmo em que uma economia pode crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação. Embora haja diversas metodologias para calcular o PIB potencial, o indicador é importante na tomada de decisões de política econômica.

Apesar da divulgação trimestral, o Ipea frisou que os dados mais recentes sempre estarão sujeitos a revisões. Isso porque as complexas estimativas para chegar aos cálculos do investimento “liquido” e do “estoque de capital” ficam mais precisas com as informações definitivas do PIB anual, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com defasagem de dois anos – este ano, ainda serão divulgados os dados definitivos de 2018.

Por Vinicius Neder

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