A pressão externa em um ambiente já estressado por causa das preocupações com o descontrole fiscal que permanecem no radar manteve o dólar em trajetória ascendente frente ao real durante toda a sexta-feira, 21, e levou a divisa americana a acumular alta de 3,31% na semana, 7,47% em agosto ao encerrar o dia avançando 0,98%, a R$ 5,6066 – o maior nível desde o dia 20 de maio passado (R$ 5,6890).
Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos, ressalta que, mesmo que a Câmara dos Deputados tenha mantido o veto do presidente Jair Bolsonaro segurando o reajuste do salário do funcionalismo na noite de quinta-feira, o entendimento foi o de que a base do governo não está tão sólida assim para, inclusive, passar aprovações importantes da agenda do ministro da Economia, Paulo Guedes.
“A percepção é de uma base mais fraca tanto no Senado quanto na Câmara, pois nessa última só se conseguiu segurar o veto após uma articulação com promessas de verba orçamentária ainda para este ano”, diz, lembrando que permanece o risco político, uma vez que se enxerga uma fragilidade da base maior do que se espera.
Do exterior, veio a força da divisa americana sobre as moedas de economias desenvolvidas e boa parte de países emergentes, pares do real, após indicadores de atividade mostrarem que a dos Estados Unidos está superando a Europa, notou Edward Moya, analista de mercado financeiro da Oanda em Nova York. “Uma expansão mais forte do que o esperado na produção do setor privado dos EUA em agosto foi uma surpresa agradável para ativos de risco. O rendimento do Tesouro dos EUA em 10 anos reduziu as perdas para negociação quase estável na sessão em 0,649%. O dólar norte-americano estendeu os ganhos”, avaliou.
O Dollar Index (DXY), que mede a variação do dólar ante uma cesta de moedas fortes, operou em alta desde a manhã, refletindo justamente o cenário de desvalorização do euro e da libra esterlina. Às 17h05, o índice mostrava ganho de 0,46%, a 93.221 pontos, na contramão do comportamento visto na maior parte da semana.
Musa complementa que a discussão ainda existente entre democratas e republicanos sobre o valor do pacote trilionário nos Estados Unidos acende a uma luz também sobre as contas públicas americanas. “Lá, assim como aqui e guardadas as proporções, também há uma preocupação com o fiscal e isso permeia o movimento da moeda.”
No entanto, para Moya, qualquer que seja o impulso que o dólar tenha, deve ter vida curta. “Os preços do ouro estão lutando contra o forte movimento do dólar de hoje, conforme os investidores começam a recuar antes do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no Simpósio anual de Jackson Hole. A opção de venda do Fed será confirmada e detalhes sobre sua nova estratégia de inflação deverão ser revelados”, afirmou em relatório.
No Brasil, pouco antes das 13 horas, com a cotação do dólar persistindo acima dos R$ 5,61, tendo chegado mais cedo a R$ 5,6329, na máxima do dia, o Banco Central entrou vendendo US$ 650,0 milhões em leilão à vista. A taxa de venda da moeda americana foi de R$ 5,5930. O BC informou que foram aceitas dez propostas.
No meio da tarde, já com o ritmo de alta do dólar mais comedido, foi vista como positiva a declaração do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, de que a nova prorrogação por dois meses do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEM) não exigirá acréscimos no orçamento original da medida. Para Musa, o mercado está atento aos valores gastos nos programas de benefícios dentro do contexto da pandemia, em especial o auxílio emergencial. “Se o valor sair dentro do que o Guedes estimou, o mercado entende bem.”
Por Simone Cavalcanti
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