Em um ano, entre agosto do ano passado e julho deste ano, os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram um aumento de 34,5%, na comparação com os 12 meses anteriores. É o maior valor dos últimos cinco anos, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira, 7, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Dados do sistema Deter indicam que foram desmatados 9.205 km² entre 1º de agosto de 2019 e 31 de julho de 2020, ante 6.844 km² observados nos 12 meses anteriores – que também já era o maior número da série histórica até então.
Com isso se encerra o chamado ano de referência do desmatamento da Amazônia, medido sempre nesse intervalo e que fornece a taxa anual oficial de devastação da floresta. O Deter é um sistema dinâmico de monitoramento por satélite, que fornece em tempo real alertas para orientar a fiscalização em campo. Por conta disso, ele só indica uma tendência do que está ocorrendo. Quem traz a taxa oficial de desmatamento é outro sistema no Inpe, o Prodes, que “vê” mais e faz um retrato ainda mais dramático.
No período de agosto de 2018 a julho de 2019, o Prodes apontou que a Amazônia perdeu 10.129 km². O valor representa uma alta de 34,41% em relação aos 12 meses anteriores. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, a perda havia sido de 7.536 km².
Foi a maior taxa de devastação da Amazônia desde 2008. Com a alta já indicada pelo Deter, a expectativa é que o Prodes deste ano também feche com uma nova alta. De acordo com o Observatório do Clima, “se a variação entre os dados do Deter e os do Prodes ficar na média histórica, poderemos ter cerca de 13.000 quilômetros quadrados de desmatamento, a maior taxa desde 2006”. O dado deve ser apresentado em novembro
O Brasil tinha como meta internacional, como forma de ajudar a conter o aquecimento global, fechar o ano de 2020 com uma taxa de menos de 4 mil km² e zerar o desmatamento ilegal até 2030.
A devastação da floresta entrou em ritmo acelerado desde maio do ano passado, o que vem gerando pressão por parte de investidores estrangeiros e nacionais. Por 14 meses, os valores registrados foram superiores aos observados nos mesmos meses do ano anterior. Em sete deles, o valor foi o mais alto da série histórica.
Queda em julho
Julho apresentou a primeira queda no comparativo. O mês passado registrou uma perda de 1.654,32 km², ante 2.255,33 km² em julho de 2019. Ainda assim, trata-se do segundo pior julho da série histórica do Deter, de cinco anos. Em julho de 2016 a perda registrada foi de 739,46 km²; em 2017 foi de 457,53 km² e em 2018, 596,27 km².
Julho do ano passado teve o pior dos registros para todos os meses e foi considerado catastrófico por especialistas – 200% acima do pior valor para julho até então (2016). O mês representou sozinho 33% de todos os alertas observados entre agosto de 2018 e julho de 2019. Mesmo os mais pessimistas não acreditavam que este ano repetiria aquele resultado, de modo que uma queda para o mês já era esperada.
Desde maio, está em vigor uma operação do Exército para impedir crimes ambientais na Amazônia. É a Verde Brasil 2, iniciada em 11 de maio pelo Conselho da Amazônia e liderada pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
O general se adiantou em relação à divulgação do Inpe e antecipou os dados de julho em sua conta no Twitter na quarta-feira, em tom de comemoração. O valor indicado por ele foi um pouco menor do que o apresentado nesta sexta pelo Inpe.
“A diminuição do desmatamento no #BiomaAmazônia ficou caracterizado pelo início da inversão de tendência como mostra o gráfico abaixo, revelando resultados positivos da #OperaçãoVerdeBrasil2”, escreveu Mourão.
Especialistas ponderam, no entanto, que para falar em inversão de tendência é preciso observar um período mais longo. Isso porque, por ser um sistema rápido, a visibilidade do Deter pode ser afetada se houver muitas nuvens no período. Por isso, ele pode não ver coisas em um dado mês que vão aparecer nas imagens somente no seguinte.
O próprio Inpe recomenda que não seja feita uma comparação mês a mês, mas por períodos mais longos, para compensar essas eventuais imprecisões. Assim, os dados de agosto e setembro vão conseguir mostrar se há uma queda sustentada no desmatamento ou não.
Por Giovana Girardi
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