A abertura do B-20, fórum de empresários dos países e das regiões representados no G20, ocorreu nesta quinta-feira, 24, em São Paulo. Pela primeira vez, o Brasil é sede do evento, uma consequência de ser, também neste ano, o anfitrião do G20, que ocorrerá em novembro no Rio de Janeiro. O evento é uma maneira de reunir líderes empresariais do mundo inteiro e atrair atenções para os temas que o setor privado acredita que devem fazer parte das discussões dos governos do G20.
Presente na primeira mesa de discussões do B20 Summit, a empresária Luiza Trajano foi contundente ao cobrar, de seus pares, mais do que apenas um diagnóstico dos desafios. “Gostaria que saíssemos desse B-20 sem o mundo das teorias, sem o mundo de diagnóstico, e no mundo de fazer acontecer. A gente sabe tudo o que tem de fazer. Todo mundo aqui falou que só a união entre o governo, sociedade, empresários vão fazer isso dar certo, só que a gente não consegue fazer isso no mundo”, afirmou Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. “Temos de partir para fazer acontecer. O diagnóstico todo mundo sabe: que os empregos vão mudar”, disse a empresária.
Ela disse que empresários e políticos precisam estar conscientes de que o mundo mudou e que o empresariado precisa se posicionar ao dizer que não vai haver aumento de desemprego, em razão das mudanças. O fim de determinadas funções em razão da maior digitalização, segundo ela, não necessariamente significa desemprego. Ela defendeu que as pessoas sejam capacitadas profissionalmente e alocadas em outras posições. “Nós temos de dizer que não vai ter desemprego”, disse Trajano.
À plateia de empresários, Luiza Trajano também disse que combater a desigualdade não é só responsabilidade dos governos. “É uma responsabilidade de todos nós que estamos nessa sala”, disse. Trajano participou da mesa de abertura sobre potencial humano e empoderamento das pessoas diante dos desafios globais.
Antes, organizadores do B-20, diplomatas e alguns empresários fizeram as saudações iniciais. Neste ano, o fórum é coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirmou que “o Brasil e o setor privado estão preparados para dar importantes contribuições ao debate global”. O empresário Dan Ioschpe, conselheiro da Iochpe-Maxion e chair do B-20, disse que, ao longo dos últimos meses, os grupos de empresários buscaram criar propostas que fossem “acionáveis e mensuráveis”. “Construímos as propostas com base em princípios sólidos para que cada sugestão se traduzisse em ações concretas e de impacto”, afirmou Ioschpe.
Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que a sequência de eventos internacionais sediados no Brasil, como o G20 e a COP30, mostra “o interesse, a vontade e o engajamento do Brasil nas causas internacionais”. “Como disse nosso presidente quando tomou posse: o Brasil está de volta ao mundo, tentando colaborar com as grandes causas mundiais. A causa da sustentabilidade e de um crescimento que, sem inclusão, não propiciará um futuro próspero para todos os habitantes do planeta”, afirmou o industrial.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi representado pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Jorge Lima.
O diplomata Felipe Hees, ministro e sous sherpa (negociador) do Brasil no G-20, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao Ministério de Relações Exteriores fazer os dois universos do fórum multilateral se comunicarem melhor: financiamento e políticas públicas. “Essa preocupação norteou os trabalhos do G20 neste ano na nossa presidência”, disse. O diplomata também disse que comumente a sociedade civil tem sensação de que debates do G20 são descolados da realidade, do dia a dia. “Nossa preocupação foi estreitar os canais, a coordenação, com os grupos de engajamento, do qual o B-20 é um dos seus principais pilares..”
Pouso suave na economia global
Em paralelo ao evento do empresariado, em São Paulo, as prévias para o G20, de novembro, ganharam tração. Em Washington, o comunicado conjunto dos ministros das finanças do G20, divulgado nesta quinta-feira, 24, confirmou as boas perspectivas de um pouso suave da economia global e informou que os ministros devem continuar a promover um crescimento “forte, sustentável, equilibrado e inclusivo”.
O documento também manteve o pedido por taxação de grandes fortunas, defendendo que a tributação progressiva é uma das principais ferramentas para reduzir as desigualdades domésticas, fortalecer a sustentabilidade fiscal e facilitar a consolidação orçamentária.
Na capital americana, Haddad, afirmou que a África do Sul sinalizou que vai carregar a agenda brasileira ao assumir a presidência do G20 no próximo ano. “Sem prejuízo das marcas que a própria África do Sul certamente vai querer imprimir à sua presidência, a África do Sul deixou claro que recebe o bastão com compromisso de levar adiante a agenda brasileira”, afirmou.
Por uma reforma no comércio global
Em Brasília, o vice-presidente Geraldo Alckmin participou, nesta quinta-feira, 24, do encontro de ministros do Comércio e Investimentos dos países do G20. Na ocasião, defendeu uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Destaco mais uma vez o compromisso do Brasil com o fortalecimento de um sistema multilateral de comércio que defende uma reforma e a modernização da Organização Mundial do Comércio, que assegure que as questões do próprio desenvolvimento que aqui defendemos e que permaneçam centrais para todos os países”, afirmou Alckmin. “Apoiamos, assim, um sistema multilateral do comércio, capaz de contribuir para um comércio global mais justo, inclusivo e eficaz”, continuou.
Alckmin participará do segundo dia de discussões do B20, nesta sexta, em São Paulo. Ele tem sido a ponte do empresariado com o governo Lula e foi o responsável por articular a reunião, no Planalto, em agosto, na qual Ioschpe e líderes empresariais apresentaram ao presidente as 24 recomendações feitas pelo B20. Além de Lula e de Alckmin, participaram do encontro, também, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa. (Colaboraram Aline Bronzati, Amanda Pupo e Célia Froufe)
Por Beatriz Bulla
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