O dólar à vista aprofundou o ritmo de queda ao longo da tarde, em meio ao maior apetite a risco no exterior, e encerrou a sessão desta quinta-feira, 8, abaixo da linha de R$ 5,60. As divisas emergentes, em especial as latino-americanas, se beneficiaram do novo recuo do iene e da diminuição de temores de recessão nos EUA, após dados de auxílio-desemprego não ratificarem quadro de desaquecimento mais forte do mercado de trabalho americano.
Nas primeiras horas de negócio, o dólar até ensaiou um movimento de alta e tocou o nível de R$ 5,65 na máxima (R$ 5,6546), em ambiente marcado por queda de commodities, com tombo de mais de 3% do minério de ferro na China, e ajustes após dois pregões seguidos de apreciação do câmbio. A maré virou no fim da manhã, com o real passando a se alinhar ao comportamento de seus principais pares, em resposta a indicadores nos EUA.
Com mínima a R$ 5,5646, o dólar à vista terminou o pregão em baixa de 0,90%, cotado a R$ 5,5741 – menor valor de fechamento desde 22 de julho. A divisa já acumula baixa de 2,37% na semana. No ano, o dólar ainda acumula valorização de 14,85% em relação ao real, que ainda amarga o pior desempenho entre as moedas mais relevantes.
Para o superintendente da Mesa de Derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, a arrancada recente do dólar, que levou a taxa de câmbio a tocar R$ 5,74, foi “atípica e especulativa”. Apesar da leitura fraca do relatório de emprego (payroll) em julho, divulgada na sexta-feira, 2, houve um exagero nas previsões de recessão nos EUA.
“O aumento da taxa de desemprego pegou bastante e deixou a sensação de que o Fed (Federal Reserve) tinha perdido o ‘timing’ correto para começar a cortar os juros”, afirma Chiumento. “Foi um movimento de susto que passou e agora as divisas emergentes estão voltando. Além disso, o real foi ajudado pela ata do Copom, que mostrou o Banco Central aberto a um possível aumento de juros.”
Dados da economia americana divulgados nos últimos dias, como o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços, mitigaram os riscos de queda abrupta da atividade nos EUA. Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos caiu 17 mil na semana encerrada em 3 de agosto, para 233 mil (previsão era de 240 mil). Em relatório, a High Frequency Economics (HFE) afirma que os dados sugerem uma desaceleração econômica modesta, e não uma contração.
As atenções dos investidores devem se voltar agora para a divulgação na próxima quarta-feira, 14, do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, que pode ratificar continuidade do processo de desinflação e, por tabela, a expectativa de que o Federal Reserve comece a cortar a taxa básica em setembro.
“Um CPI abaixo ou até mesmo dentro do esperado devem beneficiar os emergentes, reforçando a expectativa de um Fed mais ‘dove'”, afirma Chiumento, do BS2, que trabalha com “dois ou até três cortes” de juros pelo Banco Central americano neste ano.
Monitoramento do CME Group mostrou uma redução das chances de corte de 50 pontos-base da taxa básica americana em setembro, de perto de 70% para a casa de 56%. A probabilidade maior é de uma redução acumulada de 100 pontos-base até dezembro.
Lá fora, o dólar avançou cerca de 0,30% na comparação com o iene. A divisa japonesa devolve parte dos ganhos recentes ainda sob sinalização do Banco do Japão (BoJ) de que não vislumbra nova alta de juros enquanto os mercados se mantiveram instáveis. Apesar de recuar nesta semana, nos últimos 30 dias o iene ainda apresenta valorização de mais de 9% em relação ao dólar, o que ajuda a explicar o desmonte de operações de carry trade que castigou divisas emergentes.
Por Antonio Perez
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