O dólar à vista subiu na sessão desta terça-feira, 23, e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,60, em sintonia com fortalecimento da moeda americana no exterior. Moedas de países emergentes sofreram com a queda das commodities, como minério de ferro e petróleo, em meio a temores de perda de fôlego da economia chinesa.
Apesar do crescente ceticismo com o cumprimento das metas fiscais, mesmo após o governo confirmar ontem no relatório bimestral de receitas e despesas a contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano, o real teve perdas hoje inferiores a de seus principais pares, como peso mexicano, rand sul-africano e peso colombiano.
Afora uma queda pontual no fim da manhã, quando registrou mínima a R$ 5,5592 em meio a relatos de fluxo comercial, o dólar trabalhou em alta no restante do dia. A máxima foi na primeira hora de negócios, a R$ 5,6076. No fechamento, a moeda era cotada a R$ 5,5863, avanço de 0,29%.
O economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, observa que o real até chegou “a esboçar um movimento de valorização” amparado na queda das taxas dos Treasuries, mas acabou se depreciando ao longo da tarde em linha com a maioria das divisas emergentes.
“Isso refletiu, entre outros fatores, a recente decisão do Banco do Povo da China de cortar as taxas de juros do país, expondo eventuais problemas de tração da segunda maior economia do mundo”, afirma Galhardo, em referência aos cortes de taxas anunciados pelo PBoC no domingo à noite, considerados insuficiente pelos analistas.
Com temores em relação à demanda global, os preços do barril do petróleo caíram quase 2%, marcando o terceiro pregão seguido de perdas. As cotações do minério de ferro recuaram mais de 3% no mercado futuro em Dailan, na China. E o cobre perdeu valor pela sétima sessão consecutiva.
“Havia uma expectativa de que o governo chinês anunciasse um plano de investimento robusto de investimento no setor imobiliário na reunião do partido comunista, o que não aconteceu. E isso afeta os emergentes exportadores de commodities”, afirma o superintendente da Mesa de Derivativos do BS2, Ricardo Chiumento.
Com agenda doméstica de indicadores esvaziada, analistas se debruçaram sobre os detalhes das estimativas apresentadas ontem à tarde no relatório bimestral de receitas e despesas. As novas projeções sugerem que o governo já abriu mão da meta de déficit primário zero e vai se contentar com um déficit de 0,25% do PIB, limite da banda estabelecida pelo novo arcabouço. Ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que qualquer “resultado dentro da banda significa, sim, o cumprimento da meta”.
Para o consultor econômico da Remessa Online, que se diz otimista com o cumprimento da meta fiscal, a divulgação da contenção de apenas R$ 15 bilhões deixou o governo “com pouca margem de manobra” daqui até o fim do ano. Ele ressalta que pode haver frustração com as economistas estimadas em revisão de benefícios sociais.
“Um déficit primário acima de R$ 28,8 bilhões, que é o limite do novo arcabouço fiscal, poderia minar a confiança no governo e causar um novo ‘overshooting’ cambial, semelhante ao ocorrido no segundo trimestre do ano”, afirma Galhardo.
Chiumento, do BS2, também vê o quadro fiscal ainda “pesando demais” sobre o real diante da percepção de que a contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento ficou aquém do que era necessário. Não bastasse a incerteza quando ao cumprimento das metas fiscais, a formação da taxa de câmbio passou a sofrer nos últimos dias com a influência da corrida eleitoral americana sobre divisas emergentes.
Com a desistência do presidente Joe Biden, no fim de semana, de concorrer à reeleição, a vice-presidente Kamala Harris tornou-se favorita a ocupar a vaga de candidata do partido democrata na corrida à Casa Branca contra o ex-presidente Donald Trump.
“O governo de Trump foi de protecionismo, de imposição de tarifas e retórica agressiva contra a China. Se Trump deixar de ser favorito, pode ser que haja um alívio. Mas, por enquanto, o cenário é mais desfavorável para divisas emergentes”, afirma o tesoureiro, ressaltando que muitos clientes têm preferido “segurar operações” diante do aumento de incertezas. “Isso aumenta ainda mais a volatilidade no mercado”.
Por Antonio Perez
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