As vendas de carros seguiram aquecidas após o fim dos descontos patrocinados pelo governo, segundo a Anfavea, entidade que representa as montadoras. Conforme números levados nesta segunda-feira, 7, pela entidade à apresentação mensal de resultados, as vendas de veículos leves mostraram na primeira semana de agosto crescimento de 23% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Na avaliação de Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, o programa do governo, que liberou R$ 800 milhões em créditos tributários para que carros que custam até R$ 120 mil pudessem ser vendidos com descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil, despertou o interesse pela troca do automóvel.
Um gráfico levado pela associação à apresentação dos resultados de julho mostra que o mercado de carros não perdeu ritmo na última semana do mês, quando as entregas praticamente não tinham mais os bônus do governo.
Se daqui para frente, as vendas repetirem o volume de igual período de 2022, os emplacamentos de veículos leves vão terminar o ano com crescimento entre 5% e 7%.
A Anfavea, porém, prefere não mudar por ora a projeção de aumento de 4,1% das vendas no segmento em 2023. “É cedo para fazermos qualquer revisão, o mercado tem oscilado bastante”, explicou Leite.
O presidente da Anfavea abriu a coletiva de resultados destacando o ambiente de maior previsibilidade da indústria, dado o fim da crise aguda na oferta de componentes eletrônicos, combinado à melhora de indicadores macroeconômicos, como a redução do desemprego e o crescimento de atividade acima do previsto tanto no Brasil como no restante do mundo, assim como a elevação na nota de crédito do País pela Fitch.
Conforme Leite, o início, na semana passada, da redução dos juros de referência, a Selic, tem efeito imediato no mercado de automóveis. “O crédito é fundamental. Essa redução tem efeito imediato, e o efeito no médio prazo é mais benéfico ainda”, comentou o executivo.
Os estoques de veículos, que chegaram a 251,7 mil unidades em maio, quando a indústria se preparou para a corrida de consumidores às concessionárias, caíram para 223,6 mil no fim de junho e agora estão em 198,8 mil veículos. É o menor volume nos estoques de fábricas e revendas dos últimos cinco meses, sendo suficiente para 26 dias de venda.
Cenário das exportações
O balanço dos resultados da indústria automotiva referentes a julho expôs as dificuldades das exportações do setor frente à retração de mercados vizinhos da América do Sul, onde a indústria também sofre com o avanço de concorrentes asiáticos, e à tributação de produtos brasileiros na Argentina.
Os embarques para o Chile e a Colômbia, que se tornaram destinos importantes para as montadoras nos últimos anos, recuaram 61% e 42%, respectivamente, desde janeiro. Já as exportações para a Argentina recuaram 2,6%, apesar do crescimento de 12% do mercado vizinho no período.
O México, na contramão dos demais mercados da região, aumentou em 89% as compras de veículos brasileiros, tornando-se assim o principal destino das montadoras brasileiras ao superar neste ano a Argentina, país que historicamente ocupa esta posição.
“Não fosse o México as exportações teriam caído consideravelmente”, disse Márcio de Lima Leite, ao comentar a redução de 10,6% das exportações totais, para 257,6 mil veículos entre janeiro e julho.
Imposto argentino
Segundo explicou a direção da entidade, enquanto as exportações ao México se beneficiaram da redução do imposto de importação no comércio de veículos entre os países, zerado no mês passado, a Argentina criou um imposto de 7,5% sobre os produtos brasileiros.
Leite disse que a tributação fez com que a indústria brasileira não conseguisse aproveitar o crescimento do mercado argentino e é “flagrantemente” contra o acordo automotivo bilateral, que prevê o comércio de veículos e peças livre de imposto de importação.
“É um custo a mais para o exportador brasileiro colocar seu produto na Argentina”, disse o presidente da Anfavea.
O tema, informou, está sendo tratado com o ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
“O governo da Argentina, num primeiro momento, criou um imposto sobre carro de luxo, de até US$ 25 mil, e agora ampliou esse imposto para todas as importações … Temos que garantir que o acordo seja cumprido e que haja competitividade dos produtos”, acrescentou Leite.
Por Eduardo Laguna
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