O episódio do vídeo no qual o então secretário de cultura Roberto Alvim reproduziu trechos do discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, pode fazer com que o governo de Jair Bolsonaro perca parte importante de sua base, ligada aos religiosos e, sobretudo, à comunidade judaica, afirmam analistas ouvidos pelo Estado.
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“Esse caso envolveu um setor que tem sido um importante aliado do Bolsonaro, que é uma parte da comunidade judaica”, afirmou o cientista político Carlos Mello, que explica que há uma “disputa” nessa comunidade em relação ao apoio ao governo Bolsonaro. “Evidentemente que esses setores que vinham sendo mais simpáticos saíram enfraquecidos nessa queda de braço”, disse.
Para Mello, é difícil mensurar o tamanho desse apoio em termos eleitorais, mas considera importante a influência econômica e empresarial desse grupo. “Ele perde um setor que tem pujança econômica, influência em formação de opinião e articulação política internacional, ele perde nesse sentido”, afirmou.
A Confederação Israelita do Brasil considerou “inaceitável o uso de discurso nazista pelo secretário da Cultura do governo Bolsonaro” e cobrou a demissão de Alvim. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou comunicado em que afirma que a fala “é um sinal assustador” da visão de cultura de Alvim.
Professor de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira afirmou que o rápido afastamento de Alvim amenizou um pouco o impacto do episódio. “A repercussão foi muito forte e afetou algumas áreas com as quais nenhum governo quer comprar briga. Como por exemplo a comunidade judaica nesse momento no Brasil. Ou setores da própria Igreja Católica”, disse.
Nogueira considera difícil avaliar se o governo vai recuar ou recrudescer sua chamada “guerra cultural”, mas acredita a repercussão negativa do vídeo e a posterior demissão de Alvim podem ter um efeito “pedagógico” dentro do governo. “De repente esse episódio faz o Bolsonaro pensar um pouco melhor sobre os rumos que ele quer dar ao governo dele e quem sabe pode servir para impulsioná-lo a diminuir a fogueira que ele acendeu no País”, avalia o professor que, no entanto, considera essa hipótese difícil.
Já o cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie, avalia que o próprio estilo de confrontação do governo Bolsonaro deu vazão às referências nazistas utilizados pelo então secretário de Cultura. “O (Roberto) Alvim subiu um degrau que ultrapassou uma fronteira em que a sociedade e as lideranças políticas iriam se manifestar”, afirmou.
Cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudio Couto, diz que não considera o episódio como um caso isolado e ressalta que ele “diz muito sobre o substrato ideológico do governo”. “São tantas coisas que faltava só alguém do governo usar um símbolo do fascismo e, no caso, pior ainda, do nazifascismo diretamente, que foi o que Roberto Alvim fez”, disse.
Por Vinícius Passarelli
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