Após passarem quase todo o dia pressionados, os juros tiveram alívio nos últimos minutos da sessão regular e acabaram fechando em baixa nos curtos e com viés de alta nos longos, mesmo com o dólar mantendo o ritmo de avanço. Na maior parte da quinta-feira, 30, no entanto, o que deu o tom aos negócios foi um movimento de realização de lucros mais acentuado a puxar para cima a ponta longa da curva, que vinha desinclinando nos últimos dias. O contexto geral desfavorável no exterior e um noticiário interno mais negativo deram a senha para a correção, que contudo perdeu força no fim do dia. Num mês em que os efeitos nocivos da pandemia se fizeram mais presentes na atividade, houve redução de prêmios de risco generalizada ao longo da curva.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou com taxa na mínima de 2,775%, de 2,830% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2022 terminou com taxa de 3,60%, de 3,680% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,40%, de 7,36%. No mês, as taxas curtas fecharam em torno de 50 pontos e as longas, de 20 pontos.
“Os juros futuros encerraram a semana dados pela expectativa em relação ao Copom da próxima semana. O spread entre os vencimentos de janeiro de 2021 e de janeiro de 2027 voltou a subir, pela leve alta do longo, mas fechou a semana em baixa. A curva de juros indica aposta de queda da Selic em 50 pbs. Esperamos 75 bps”, afirmam os economistas do Banco Fator, em relatório. Na pesquisa Projeções Broadcast, 48 instituições esperam corte de 50 pontos e 10, de 75 pontos, na atual taxa de 3,75%.
As taxas longas vinham numa sequência de quedas consecutivas desde o começo da semana, apoiadas na ideia de que a saída turbulenta de Sérgio Moro do governo não traria repercussões mais sérias para a governabilidade de Jair Bolsonaro que, ao mesmo tempo, ao aproximar-se de deputados do Centrão, buscava reduzir as chances de um eventual pedido de impeachment ser aprovado na Câmara. Ainda, Bolsonaro relembrou Paulo Guedes como homem forte da economia, abrindo mais espaço para a redução da inclinação.
No balanço mensal, com os longos caindo menos do que os curtos, o sócio-gestor da LAIC-HFM Vitor Carvalho destaca que o ganho de inclinação da curva ocorreu em função de dois fatores. “Dólar e incerteza com Copom”, resumiu. “Houve um certo exagero no ganho de inclinação depois que Moro saiu, mas depois do presidente fortalecer Guedes e que o Pró-Brasil ficou meio escanteado, voltou a melhorar”, explicou.
O exterior hoje não ajudou, com frustração sobre a atuação modesta do Banco Central Europeu (BCE) e indicadores ruins da economia americana, e o ambiente interno também não deu motivo para maior exposição ao risco. Bolsonaro fez pesadas críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), depois que este suspendeu a nomeação para o comando da Polícia Federal, gerando forte repercussão negativa no Poder Judiciário.
Além disso, vai se consolidando a percepção de que o relaxamento da quarentena nas cidades que puxam o PIB brasileiro não será possível no curto prazo, em função do rápido crescimento da curva de contágio da Covid-19 e aceleração no número de mortes.
Por Denise Abarca
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