O goiano Rafael Stark nem precisa abrir a boca para dizer que é um nerd. O sobrenome “artístico”, que batiza também a sua startup, é claramente inspirado em Tony Stark, o alter ego do herói dos quadrinhos e do cinema Homem de Ferro. O Stark Bank, porém, tem uma missão bem mais terrena do que salvar a humanidade de supervilões: oferecer um serviço bancário moderno e tecnológico para os “unicórnios” (startups avaliadas em US$ 1 bilhão) do País.
Para isso, o Stark brasileiro reuniu nomes que o Stark da Marvel adoraria ter por perto. A companhia anuncia nesta segunda que recebeu um cheque de US$ 45 milhões em rodada liderada pela Ribbit Capital, firma americana especializada em fintechs – também participaram SEA Capital, Lachy Groom e K5 Global.
Um outro nome na lista de investidores, porém, se destaca: Jeff Bezos, fundador da Amazon. O segundo homem mais rico do mundo participou da rodada por meio de sua empresa de investimentos pessoais, a Bezos Expeditions. É a primeira vez que o fundo participa de um aporte no Brasil – na América Latina, já havia investido na NotCo., unicórnio chileno de alimentos feitos à base de plantas.
Nas palavras do executivo brasileiro, fica no ar a ideia de que o Stark Bank quer ser uma espécie de “Nubank das grandes empresas”, uma instituição tecnológica que quer abalar o domínio dos “bancões”. Stark, porém, explica as diferenças: “Para pessoa física ou pequenos negócios, o cliente quer fazer tudo no app e ter uma experiência fluida. Em uma grande empresa, o cliente não quer ‘poucos cliques’. Ele quer controle e escalabilidade (crescer sem elevar custos).”
Além de cartão corporativo com controle de gastos, o banco oferece produtos como gestão de cobrança via boleto e Pix e fluxo customizado de aprovação de pagamentos. Com o aporte, a companhia deve oferecer produtos financeiros, como investimentos e linhas de crédito. “Conforme o ecossistema de startups cresce e empresas tradicionais passam por transformação digital, cresce a demanda por produtos financeiros e soluções personalizadas. Há uma oportunidade bacana para o Stark”, diz Bruno Diniz, especialista em inovação e sócio da Consultoria Spiralem.
X-Men
Os investidores parecem ver as oportunidades. O novo aporte chega apenas quatro meses depois de um cheque de US$ 13 milhões, que teve participação de fundadores do Dropbox, do Rappi, da Wildlife e do Slack. “Nos últimos três anos, triplicamos a receita e o volume transacionado. Estávamos sendo assediados por vários fundos globais”, diz Stark. O objetivo neste ano é crescer dez vezes.
Entre os 300 clientes, o Stark reúne um time de estrelas. Na lista estão unicórnios, candidatos a unicórnios e outros nomes promissores: Quinto Andar, Loft, Daki, Buser, Isaac, Flash e Pipo Saúde.
A ideia de enfileirar nomes importantes parece se aplicar também aos contratados da startup. O quadro atual de 30 pessoas deve chegar a 60 até o final do ano, mas Stark (o executivo) não embarca no discurso de expansão veloz de time, algo comum quando startups recebem aportes. Ele recorre aos quadrinhos novamente. “O Stark Bank é tipo os X-Men: eu sou o Charles Xavier, que tenta localizar pessoas excepcionais. Um time com 200 ou mil pessoas não será composto apenas por pessoas excepcionais”, diz
Talvez Stark esteja buscando profissionais com histórias como a dele. Nascido em 1989 em Goiânia, começou a trabalhar aos 16 anos após a morte do pai. “A família de classe média virou ‘média baixa'”, diz. Aos 20, foi aprovado no ITA, onde se formou em engenharia mecânica aeronáutica. Na reta final do curso, passou um ano na Califórnia, onde estudou em Stanford e na Universidade Politécnica Estadual.
Por lá, começou a programar, algo que seguiu fazendo na volta ao País até que, em 2018, fundou o Stark Bank, após realizar projetos com a Colgate. O CNPJ “S/A” do Stark Bank é o mesmo que ele utilizava nos tempos de MEI.
Infra
Com o aporte, o Stark Bank vai criar também uma nova unidade de negócios, a Stark Infra, que vai fornecer infraestrutura para fintechs e instituições financeiras, como APIs (interface) para o Pix e emissão de cartão com a marca da empresa. Segundo especialistas, é mais uma boa oportunidade.
Com um horizonte promissor, agora só falta Stark conhecer de perto Bezos. “Ainda não rolou, mas ele costuma realizar encontros com os fundadores das startups no portfólio”, diz ele, que encerra a conversa com uma frase que jamais sairia da boca do Stark fictício. “Eu valorizo muito o papel de mentores. Quero estar sempre perto dos melhores”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Bruno Romani
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