Mesmo com a surpresa positiva das contas do Governo Central em novembro, a piora na percepção de risco fiscal pelo aumento da pressão dos servidores por reajustes salariais e o comportamento negativo do câmbio impuseram alta aos juros futuros desde a abertura, afetando sobretudo os vértices curtos e intermediários, que concentram as apostas para o futuro da Selic. O exterior, onde as incertezas sobre os impactos da variante Ômicron do coronavírus limitaram o apetite pelo risco, ficou em segundo plano.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular em 11,81%, maior nível desde os 11,82% do último dia 1º de dezembro, de 11,68% no ajuste de ontem. Na estendida, subiu mais, a 11,825%. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,592% para 10,69% (regular) e 10,685% (estendida) e a do DI para janeiro de 2027, de 10,501% para 10,59% (regular) e 10,58% (estendida).
A apreensão com a cena fiscal já influenciava as taxas pela manhã, com o mercado na expectativa do desfecho das assembleias de servidores públicos por reajuste salarial e acompanhando a escalada do dólar. Na reunião realizada hoje pelo Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) foi definido calendário de mobilização da categoria, mas o que seria o pior dos mundos ainda não aconteceu – a decisão sobre uma eventual greve ficou para fevereiro.
“Conseguimos obter o melhor resultado fiscal para meses de novembro desde 2013 e, mesmo assim, estamos preocupados”, comentou o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, sobre o superávit de R$ 3,872 bilhões do Governo Central no mês passado. O número superou com folga a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de saldo positivo de R$ 340 milhões.
A questão é que a melhora nas contas ficais pode estar com os dias contados se o governo ceder às pressões do funcionalismo, que se revolta com previsão orçamentária para reajustes apenas de policiais federais, e considerando ainda a expectativa de menor fôlego da atividade no ano que vem.
Ainda que, no livro-texto, os vencimentos longos sejam normalmente os mais sensíveis aos eventos fiscais, a ponta curta tem reagido ferozmente às sinalizações para as contas públicas nos últimos meses, dado o peso da questão no desequilíbrio do balanço de riscos para a inflação e na deterioração das estimativas de preço, sendo um dos grandes responsáveis pela desancoragem ante as metas.
Cálculos da Greenbay mostram que a precificação de Selic para o Copom de fevereiro é de quase 95% de chance de nova alta de 150 pontos-base, como havia sinalizado o BC, contra 5% de probabilidade de aperto de 125 pontos. Para a reunião de março, as probabilidades são de 70% e 30%, respectivamente. E, por fim, a curva aponta Selic terminal de 12,50%.
Com relação ao IGP-M de dezembro, Serrano acredita que tenha tido algum efeito no mercado “mais pelo dia ruim”. A inflação medida pelo indicador foi de 0,87% este mês, acima da mediana das projeções de 0,74% e também da taxa de 0,02% em novembro. “Se não tivesse o fiscal, talvez passasse em branco”, afirmou.
Por Denise Abarca
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