A BrasilAgro (AGRO3), empresa do setor agrícola e de venda de terras, está otimista para a safra 2021/22, em que antecipou toda a compra de insumos da produção de grãos em um cenário mais aquecido na venda de propriedades, com “bastante coisa para ser concluída no curto prazo”, conta Ana Paula Zerbinati, head de Relações com Investidores e diretora do Instituto BrasilAgro, em entrevista ao Mercado News.
Com a antecipação da compra de insumos para milho e soja, a BrasilAgro conseguiu travar suas margens nos mesmos patamares da safra anterior, diz Zerbinati. Mas isso não deve prosseguir para a safra 2022/23, em caso de continuidade de custos elevados: “O mercado vai ter que dar uma ajustada.”
A cana-de-açúcar foi o grande destaque do trimestre de julho a setembro em meio ao aumento da demanda por etanol. Para a BrasilAgro, ainda há espaço para a commodity subir de preço.
Quanto ao fenômeno climático La Niña, que tende a desfavorecer a safra de cana, a diretora afirma que a BrasilAgro não sente o impacto devido à sua exposição baixa no Centro-Oeste, irrigação de salvação no Maranhão, além de boa localização na Bolívia. “Estamos otimistas para esse ano. Conseguimos plantar toda a safra de grãos, tanto soja, quanto milho, quanto feijão, dentro de uma janela ótima no passado.”
A seguir, leia entrevista completa:
Mercado News – Como é o modelo de negócios da BrasilAgro?
Ana Paula Zerbinati – O modelo de negócios da BrasilAgro é muito único, pois, dentro do setor agrícola, é a combinação da operação por si só – a empresa hoje é uma das maiores operadoras de commodities no Brasil – mais a parte imobiliária das terras. Costumamos falar que a terra também é um produto e não só o que ela produz. Então hoje o modelo de negócios da BrasilAgro consiste em operação agrícola em terras próprias e arrendadas mais a parte imobiliária da comercialização das terras do portfólio próprio.
Mercado News – Como está o cenário para preços de commodities agrícolas vendidas pela empresa?
Ana Paula Zerbinati – Os preços de commodities subiram bastante nos últimos tempos. Hoje estamos produzindo cana-de-açúcar, soja, milho, feijão, algodão e temos pecuária. Percentualmente falando, em área, a parte de grãos é a mais relevante, que é de soja, milho e o feijão. E na parte de receita, cana e os grãos combinados são os nossos carros chefes em percentual do total da receita da companhia. As commodities tiveram crescimento exponencial de preços nos últimos anos, principalmente a soja. Ela tem uma correlação com o dólar. Então a combinação de um câmbio desvalorizado mais a alta do valor da soja em dólares por bushel trouxe para o brasileiro um valor em reais por saca bastante significativo, jamais visto anteriormente. Se você for olhar nos últimos 15,18 meses, mais que dobrou o valor dessa commodity aqui no Brasil.
Hoje, vemos uma estabilização nesse crescimento com relação a soja, porém, por um outro lado, você tem um crescimento importante do preço da cana-de-açúcar, do etanol. Então hoje temos um aumento de mais de 50% no valor da ATR [Açúcar Total Recuperável], que teve um aumento significativo da nossa margem da cana-de-açúcar e é uma tendência de alta nessa commodity. Diferentemente da soja, que acreditamos que tenha chegado a um patamar que vá se estabilizar para a próxima safra. Na cana-de-açúcar já estamos mais otimistas que ainda tem espaço para subir preço.
Mercado News – A BrasilAgro divulgou projeções para a safra 2021/22, prevendo crescimento importante de área plantada de soja e milho, mas também alta dos custos de produção. Como tem sido essa gestão de custos?
Ana Paula Zerbinati – Somos muito ativos na gestão de custos da companhia. Como fazemos nosso orçamento: a partir do momento que definimos o que vai ser produzido na próxima safra, já vamos atrás de travar os custos, e quando começamos a fazer a compra dos insumos vamos travando margem fazendo a venda das commodities no mercado futuro. Para esse ano, tivemos um aumento significativo no preço dos insumos, de fertilizantes, químicos, que já tinha tido um aumento para a safra anterior, devido à desvalorização do real perante o dólar. Mas teve agora um aumento significativo no preço desses insumos. E para a safra 2021/22, a companhia antecipou toda a compra de insumos da produção de grãos. Então conseguimos travar as nossas margens nos mesmos patamares da safra anterior. Cenário que já não vemos para a safra 2022/23, se continuarmos com esses patamares de custos.
Então o mercado vai ter que dar uma ajustada. Acreditamos que de alguma maneira precisaremos de um ajuste de valores, ou no custo ou no preço dos produtos para continuarmos tendo margens positivas na produção agrícola. Mas, para BrasilAgro especificamente, já antecipamos toda a compra de insumos para essa safra 2021/22, de soja e de milho.
Para a safrinha não fizemos essa antecipação. O custo da safrinha vai ser mais alto do que tínhamos previsto inicialmente no orçamento, porém com o preço do milho no mercado doméstico, que é a maioria da destinação da nossa produção, ainda assim estamos com margens interessantes e por isso decidimos continuar produzindo de qualquer maneira.
Mercado News – Por que a projeção de produção por cultura de milho e algodão aumentou?
Ana Paula Zerbinati – Quando iniciamos a produção nas nossas áreas próprias, iniciamos com soja. As nossas fazendas arrendadas estão em áreas que conseguimos ter safra e safrinha. O nosso mix hoje é que a safrinha seja majoritariamente de milho, então isso aumenta a nossa produção de milho. As áreas novas que vamos introduzindo no portfólio começam com grãos.
Com os preços atuais de algodão e uma previsão climática favorável para esta cultura na região que produzimos, que é a Bahia, nós decidimos aumentar um pouquinho mais o mix do algodão dado que com a área de safrinha já teríamos uma superfície interessante para se produzir de milho, principalmente com um custo menor porque na safrinha o custo de produção acaba sendo menor. E há já introdução de novas áreas na parte de soja e de cana-de-açúcar que foi com uma fazenda nova que compramos na Bolívia. Conseguimos deixar o mix, a diversificação de produtos e de regiões, de uma maneira que entendemos que faz sentido e mitiga os riscos que estão dentro da estratégia da companhia.
Mercado News – A empresa prevê novo impacto do fenômeno La Niña na safra de cana?
Ana Paula Zerbinati – Não, mas na verdade essa não é a resposta correta. A companhia tem cana no Maranhão e na Bolívia. A nossa exposição à cana no centro-oeste – onde pode ter um risco de ser afetado por problemas climáticos novamente, igual na safra anterior que foi adiada e outros problemas – é muito pequena e tende a diminuir nos próximos meses que estamos terminando a colheita. Vendemos essa área e estaremos entregando.
Dito isso, e respondendo por que o ‘não’: nas áreas onde temos cana não vamos ter o efeito de La Ninã. No Maranhão porque nossa cana tem irrigação de salvação e lá não tem previsão nenhuma de efeitos adversos climáticos. E na Bolívia esse feito de La Niña é positivo pela região em que as fazendas estão localizadas. Não faz frio extremo a ponto de geada. Estamos em uma altura, longitude que não têm previsões para ter problemas de excesso de frio nessa região que é o que prejudica e queima a cana.
Da região do centro-oeste as previsões climáticas são melhores. Olhamos muito na região que estamos do Xingu. Então estamos otimistas para esse ano. Conseguimos plantar toda a safra de grãos, tanto soja, quanto milho, quanto feijão, dentro de uma janela ótima no passado. A região como um todo está em uma janela de plantio boa. Não olhamos profundamente para a produção de milho, mas dado que indo bem para grãos, acreditamos que também vá bem para cana-de-açúcar.
Mercado News – Em meio a essa alta de preços no setor, como está o negócio de venda de terras e quais as perspectivas?
Ana Paula Zerbinati – Com esses preços de commodities, a correlação do preço da commodity com o preço de terra é altíssima. Hoje, no Brasil, você tem uma moeda de valoração da terra que são sacos de soja. Então o múltiplo acaba sendo bastante alto. Estamos em um momento muito favorável em termos de preço para vender terras. E vindo do nosso principal cliente – que é o produtor pequeno e médio – que vem de uma safra boa, significa que quando vende safras boas a tendência é ele expandir terras. Então estamos no momento em uma posição muito favorável para realizar novas vendas. Acreditamos que ainda tem uma onda para a gente surfar muito positiva para realizar novas vendas no curto-prazo.
E é contracíclico [vender terras agrícolas]. É meio óbvio de falar, mas na prática é difícil de executar. Temos que vender na hora que todos querem comprar e comprar na hora que todo mundo tem que vender, que não é tão simples assim na prática. O importante é sempre estarmos com a nossa estratégia em dia para surfar essas ondas. Sempre temos que ter um percentual importante do nosso portfólio na prateleira para ser vendido. Temos que ter um pipeline de novas aquisições monitoradas, robusto, para quando a oportunidade surgir tenhamos que capturá-la. É importante você ter uma estrutura de caixa robusta para aproveitar a outra ponta.
Estar sempre atento a essas intempéries climáticas que afetam o setor e automaticamente também afetam a liquidez de compra e venda de terras. Temos que ter um olhar não só para safras, do que vamos produzir, quando vamos produzir. Mas também tem que ter esse outro olhar da parte imobiliária para conseguir surfar os ciclos de uma maneira positiva e capturar valor tanto na hora da venda quanto na hora da compra de novas propriedades. Tenho que comprar bem para vender bem lá na frente.
Mercado News – Há alguma venda de propriedade no radar neste momento?
Ana Paula Zerbinati – Temos bastante coisa sendo trabalhada nesse momento. Não consigo entrar em muitos detalhes. O tempo todo temos negociação na mesa. Mas dado esse cenário mais aquecido temos bastante coisa para ser concluída no curto-prazo. Vamos torcer para caminhar para o lado positivo.
Mercado News – Qual foi o grande destaque deste último trimestre?
Ana Paula Zerbinati – Com certeza absoluta a cana. A margem da cana e os resultados que trouxe para a companhia foram bem maiores do que todo o nosso histórico – isso dentro do próprio trimestre. Se você falar de fatos fora a contabilidade tivemos a maior venda da história da companhia, mas que contabilmente falando vai entrar no próximo [trimestre], mas anunciamos em outubro no passado recente, que não entrou dentro do resultado do primeiro trimestre [2022/21]. Em termos de resultado sem sombra de dúvidas a cana foi a estrela do início do ano. Foi o pontapé inicial com chave de ouro.
O preço da ATR no ano passado era alguma coisa em R$ 0,65 R$ 0,70 por tonelada. Para esse ano está um pouco acima de R$ 1, um aumento expressivo de valor.
Mercado News – Quais os diferenciais da BrasilAgro na Bolsa para o investidor que quer aproveitar essa valorização de terras agricultáveis?
Ana Paula Zerbinati – O diferencial da BrasilAgro é a combinação do modelo de negócios. É você estar exposto à um setor que é o agronegócio, que tem movido a economia nos últimos séculos e em um passado super recente nesses últimos dois anos de crise. Realmente o agronegócio não parou. Vide os resultados da companhia nos últimos anos que se traduziram em pagamento de dividendos. Mas não só essa exposição ao agronegócio em si, mas ao imobiliário do agronegócio.
A terra é um ativo real, ela nunca perde o valor. Então a BrasilAgro tem um produto que é um ativo real que faz diferença em qualquer portfólio. O diferencial da BrasilAgro é a combinação das duas coisas, do ativo real que é a terra, mais a commodity.
Mercado News – Qual o principal objetivo da BrasilAgro para 2022?
Ana Paula Zerbinati – O principal objetivo da companhia certamente é continuar crescendo. Estamos super capitalizados. No ano passado fizemos um follow-on [oferta subsequente de ações], emissão de CRA [Certificados de Recebíveis do Agronegócio], entrada de caixa via os acionistas fundadores da companhia. Estamos super capitalizados e o momento é de crescimento. Então vamos mudar de tamanho. A cara da companhia já mudou com o follow-on. Para quem é acionista estamos com uma outra liquidez e volume na Bolsa. Agora é entregar aquilo que sempre entregamos na execução do negócio de uma maneira maior. É crescer a companhia.
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