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Gigante gaúcha Tramontina estreia na internet das coisas aos 110 anos

Um "inteligente" cooktop será o lançamento da companhia em dezembro (Foto: Pexels/Pixabay)

Aos 110 anos, a Tramontina é mais conhecida pelos talheres, mas, ao longo do tempo, passou a fabricar os mais variados produtos: panelas, ferramentas, mesas, sofás, coifas e até mesmo pequenos veículos elétricos. Na pandemia, com as pessoas dentro de casa, a gigante gaúcha deu um salto: sua receita aumentou 20% neste ano, para R$ 10 bilhões. E agora a empresa se aventura em uma nova área: a internet das coisas.

Um “inteligente” cooktop (conjunto de bocas de fogão independente de forno) que pode ser usado com o auxílio de um smartphone será o lançamento da companhia em dezembro. A novidade foi desenvolvida dentro de casa e testada por Clóvis Tramontina, membro de uma das famílias sócias do negócio e presidente da gigante industrial há 30 anos. Tramontina disse ter conseguido terminar um espaguete a carbonara com a novidade.

O cooktop, apelidado de Guru, ainda não “fala” com o usuário – como fazem caixinhas inteligentes como a Alexa. A comunicação se dá pelo smartphone: ali, o usuário pode encontrar diversas receitas – ao colocar a panela sobre o Guru, o cozinheiro iniciante recebe dicas de peso, tempero e cozimento. Além disso, será possível pedir que o cooktop “elabore” alguma receita a partir de itens disponíveis na geladeira.

Acostumada a testar pequeno para depois dar escala a novos projeto, a Tramontina espera que o Guru seja só o primeiro passo na internet das coisas. Com o 5G, a expectativa é de que haja espaço para outros aparelhos “inteligentes”.

A busca de novos mercados não se resume ao Guru. A Tramontina está prestes a colocar os dois pés no segmento de cerâmica. Depois de um tempo trabalhando com importados, a companhia decidiu estampar o próprio nome em conjuntos de jantar. E para isso construiu uma fábrica, a ser inaugurada em Pernambuco em 2022.

Sucessão

A companhia também prepara uma sucessão para 2022. Aos 65 anos, Clóvis Tramontina, no cargo desde 1990, dá lugar ao sócio Eduardo Scomazzon, hoje vice-presidente. Será uma forma de intercalar o poder das duas famílias que controlam a empresa gaúcha desde o fim dos anos 1940.

Scomazzon, contemporâneo de Tramontina, vai preparar o terreno para a quarta geração assumir o poder. E o candidato natural é Marcos Tramontina, de 36 anos, atual diretor financeiro e filho de Clóvis.

A Tramontina faz parte do rol de empresas brasileiras que conseguem crescer sem ter de diluir o poder dos fundadores. Até agora, diz Clóvis Tramontina, a empresa tem conseguido crescer com caixa próprio e empréstimos que refletem seu histórico de boa pagadora.

Para a presidente da consultoria AGR, Ana Paula Tozzi, a Tramontina mostra que as empresas familiares não ficam, necessariamente, paradas no tempo. “A diversificação faz parte do ponto-chave do crescimento da empresa. Empresas familiares bem administradas são muito poderosas.”

Boa parte das novidades da Tramontina é desenvolvida dentro de casa. O cooktop, por exemplo, foi criado na unidade de Carlos Barbosa (RS). Essa área é liderada por Riccardo Bianchi, que está na Tramontina há 35 anos. O pai de Bianchi também trabalhou na empresa, tendo ajudado a fundar a planta de Farroupilha, nos anos 1970.

Buscar novidades também resulta em fracassos. Nos anos 1980, por exemplo, a empresa decidiu fabricar artigos para pesca. “Compramos terreno, fizemos fábrica, um projeto maravilhoso”, lembra Clóvis. Pouco depois, com a abertura da economia brasileira pelo governo Collor, o cenário virou. “A partir daí passamos a ter o pior produto do mercado – e também o mais caro”, conta. Resultado: a área foi encerrada.

De saída

A decisão de deixar o comando da empresa foi tomada durante a quarentena. “A vida é finita”, diz Clovis Tramontina, que em 1986 foi diagnosticado com esclerose múltipla e, mesmo assim, seguiu firme no comando da empresa. “Tenho limitações”, afirma. Mas isso não quer dizer que ele vá parar de vez. Para 2022, ele já conversa com universidades para preparar um curso de liderança. É mais um mercado para o qual ele vê potencial. “O Brasil hoje precisa de líderes, na política e na economia.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Fernando Scheller e Fernanda Guimarães

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