Em dia de liquidez bastante reduzida, dada a ausência do mercado americano, fechado por causa do feriado do Dia de Ação de Graças, o dólar emendou o segundo pregão seguido de queda, na esteira de valorização dos ativos domésticos, cujos preços estariam em patamares muito atraentes.
As mínimas da sessão vieram no início da tarde, quando a moeda americana tocou momentaneamente a casa de R$ 5,54 – movimento atribuído por operadores à forte venda realizada por uma instituição financeira. A desaceleração das perdas do dólar no restante da etapa matutina foi atribuída a ajustes técnicos naturais e realização de lucros.
Ainda paira no mercado, contudo, certa cautela em torno do andamento da PEC dos Precatórios no Senado, dada as pressões dos partidos por alterações no texto. Dessa forma, não caíram bem as declarações do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que não pode garantir que o texto será votado na próxima semana. Mais cedo, havia ecoado positivamente no mercado a retirada da indexação do Auxílio Brasil à inflação da Medida Provisória que cria o programa, cujo texto-base foi aprovado hoje na Câmara dos Deputados.
Há quem avalie que a aprovação da PEC dos Precatórios sem grandes alterações, com desenlace da novela do Orçamento de 2022, pode levar a uma redução dos prêmios de risco e, por tabela, dar fôlego ao real no curto prazo.
Pela manhã, a alta de 1,17% do IPCA-15 em novembro, embora acima da mediana de Projeções Broadcast (1,14%), não chegou a ter grande influência na formação da taxa de câmbio, embora no mercado de juros tenham sido reduzidas as apostas em aceleração do aperto monetário, com alta da Selic em 2 pontos porcentuais em dezembro.
Afora uma leve alta logo na abertura, o dólar trabalhou em queda durante todo o pregão, respeitando a correlação tradicional com o Ibovespa, que subia mais de 1%, escorado, sobretudo, nas ações de Petrobras, que teve seu plano estratégico para os próximos anos bem recebido pelo mercado.
Com máxima a R$ 5,5983 e mínima de R$ 5,5490 (-0,82%), o dólar à vista fechou a R$ 5,5650, em queda de 0,53% – o que leva a um recuo de 0,78% na semana e de 1,44% em novembro. Na B3, o volume negociado do contrato de dólar futuro para dezembro foi de R$ 5,69 bilhões, bem abaixo da faixa vista normalmente, de US$ 12 bilhões a US$ 15 bilhões.
Lá fora, a moeda americana tem comportamento misto frente a emergentes, embora avance frente ao peso mexicano e o rand sul-africano, principais pares do real. Já o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – tem ligeira baixa após ter tocado ontem nas máximas desde julho de 2020, impulsionado pelos sinais de que o Federal Reserve, cuja ata mais recente foi divulgada ontem, pode acelerar o ‘tapering’ e antecipar a alta de juros.
A despeito do alívio recente no câmbio, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, não vê espaço para uma rodada de apreciação do real. Ele argumenta que a sinalização do Banco Central de que pode manter o ritmo atual de alta da Selic, em 1,5 ponto porcentual por reunião, e a ausência de um fluxo cambial forte dão certa rigidez à taxa na faixa de R$ 5,50. Além disso, há a pressão vinda de fora, com a moeda americana ganhando terreno. “Há possibilidade de o Fed de acelerar o ritmo de redução das compras de títulos no primeiro trimestre de 2022, com um sinal de que o aperto dos juros nos EUA poderia ser até junho”, afirma Velho.
Pela manhã, o BC divulgou que o resultado das contas correntes ficou negativo em US$ 4,464 bilhões em outubro, pouco abaixo da mediana de Projeções Broadcast (US$ 5 bilhões), mas acima do esperado pelo próprio BC (US$ 4,2 bilhões). Já os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 2,493 bilhões no mês passado, abaixo da mediana das projeções (US$ 4 bilhões)
Na avaliação do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flavio Serrano, os últimos meses mostraram piora na margem da conta corrente. Ele pondera, contudo, que os ingressos de recursos têm sido suficiente para financiá-la. “No horizonte mais longo, o déficit em conta corrente na casa de 1,7% do PIB e o IDP em 3,1%. É tranquilo do ponto de vista de financiamento estrutural do balanço de pagamentos”, afirmou.
Por Antonio Perez
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