O contexto brasileiro sugere que o BC/Copom em sua próxima decisão surpreenda o mercado financeiro, assumindo que o caos aguardado chegou e que lhe cabe a obrigação de tentar atenuar o quadro caótico a que o país foi levado e agir com firmeza pouco contumaz, e até ao “arrepio” das projeções do nosso mercado financeiro, expressadas no Boletim Focus.
O mercado financeiro sabe que tanto juro quanto inflação podem ir além das projeções externadas, mas parece retraído para cometer a ousadia de ter a iniciativa de apontar nesta direção que se configura, nesta altura, inquestionável.
Então, fica dando tempo ao tempo para que a “areia movediça” que nos dá piso vá absorvendo gradualmente esta realidade, até que nos sintamos efetivamente atolados.
As perspectivas em torno de nossa economia derretem por não terem causas próprias, visto que a interna é integralmente dependente da capacidade de consumo que o governo promove para a população com seus programas sociais, no mais são os benefícios que advinham do “boom” dos preços elevados das commodities beneficiárias conjuntamente com o “dólar alto”, que agora arrefecem a intensidade.
No mais, o governo busca criatividade para driblar gastos cada vez maiores e receitas menores e convive e estimula uma gestão conflituosa que acirra o ambiente político ancorando precoce campanha sucessória ainda que o pleito seja tão somente daqui um ano.
Cabe ao BC/Copom demonstrar maturidade neste cenário e impor à taxa Selic um ajuste minimamente de 2% ou mais, visto que a inflação intensificou-se prematuramente ancorada numa crise hídrica-energética sem precedentes que aniquilou a “visão poética” de que a inflação, que nunca foi, tivesse sido considerada “temporária” induzindo a condução da política monetária a gravíssimo erro.
Uma “paulada” no ajuste da taxa Selic provocaria, certamente, uma reação na formação da taxa cambial, conduzindo-a ao entorno de R$ 5,00, como é unanimemente aceito como preço justo da moeda americana no nosso mercado e isto acarretaria repercussão contributiva para atenuar efetivamente a expansão inflacionária pelos preços relativos da economia.
É imperativo “olhar para dentro” com rigor, pois se observar o externo surge a poderosa China com a Evergrande podendo se transformar na sua “Lehman Brothers 2.0” e causando repercussões negativas extraordinárias e na outra ponta o governo americano com a economia americana bombando, mas sem segurança para reduzir seus programas de estímulo e ajustar sua taxa de juro, o que coloca em perspectiva a ocorrência de um “tantrum” (movimento de venda forte de ativos no mercado) forçando o alargamento das taxas de juros e corrigindo o descompasso de estar crescendo à velocidade de 6% com manutenção do juro em torno de 1,3%.
Enfim, é a hora e a vez do BC/Copom justificar sua independência e agir de forma contundente no enfrentamento da severa inflação presente, que corrói renda e consumo, num cenário de grande desemprego.
Vamos esperar que cumpra seu papel!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO Corretora de Câmbio
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