O secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Youssef, comunicou aos funcionários da pasta que vai deixar o cargo até o dia 20, quando termina o prazo legal de desincompatibilização para os integrantes do Executivo que pretendem disputar as eleições deste ano. Ele vai ser substituído pelo ator Hugo Possolo, diretor do Teatro Municipal, que deve assumir no dia 23.
Alê foi convidado a se filiar no Cidadania e é cotado para ser candidato a vice na chapa do prefeito Bruno Covas (PSDB). Tanto o prefeito quanto o governador, João Doria (PSDB), disseram que ainda não há decisão sobre a composição da chapa.
“Não convidei ninguém. Nem é o momento. Estou fechando os partidos. O Cidadania convidou o Alê para se filiar e oferecer seu nome como opção de vice”, disse Covas ao jornal O Estado de S. Paulo. Questionado sobre o assunto nesta terça-feira, 10, em Brasília, Doria disse que “o nome dele (Youssef) não foi nem pensado”.
A decisão de deixar a pasta para se filiar ao Cidadania contraria o discurso adotado por Youssef até doze dias atrás. Na sexta-feira, 28 de fevereiro, o secretário foi indagado sobre a possibilidade de filiação em entrevista ao Estado publicada no domingo, 1º, e respondeu: “Não tem nenhuma pretensão de filiação nem de eleição no meu horizonte. Meu horizonte está entre três aspectos. Um é o apoio ao prefeito Bruno na sua reeleição. O segundo é a construção de linhas de continuidade e institucionalização do programa São Paulo Capital da Cultura. E o terceiro é a construção de um movimento cívico em torno da centralidade da cultura como elemento de desenvolvimento econômico e social das cidades, dos Estados e do País. Eu realmente quero no pós-secretaria me dedicar a isso”.
Aos 45 anos, Youssef foi filiado ao PT e ao PV, partido pelo qual disputou uma vaga de deputado federal em 2010, junto ao grupo de Marina Silva, mas não foi eleito. Durante a gestão de Marta Suplicy, então no PT, na Prefeitura, ele foi o coordenador municipal de Juventude.
O passado petista do secretário levou muitos tucanos a torcerem o nariz quando Covas anunciou o nome de Youssef para a secretaria. Com o passar do tempo, no entanto, ele ampliou seu espaço e se tornou peça fundamental na estratégia tucana de se diferenciar do bolsonarismo e ocupar o centro do espectro político.
Realizações como a Virada Cultural, o projeto São Paulo Capital da Cultura, o Carnaval de Rua e o Festival Verão Sem Censura se tornaram marcas da gestão Covas e aproximaram o prefeito do eleitorado de esquerda. É um caso raro em que a Cultura, historicamente relegada a segundo plano, chegou ao centro do debate político e eleitoral no Brasil.
Perguntado doze dias atrás se faria o papel de ligar Covas ao eleitorado de esquerda durante o processo eleitoral, respondeu: “O prefeito tem dito que quer fazer a valorização do centro democrático. Entendo que centro tem que ter tanto a direita quanto a esquerda. Não existe centro sem esquerda. Se eu cumpro esse papel fico muito feliz porque sinto a necessidade também de a gente buscar o centro democrático. A gente tem que fugir das radicalizações polarizadas que nos levaram a essa situação que estamos vivendo de um governo totalmente descompromissado com valores democráticos”.
Covas viaja e se licencia até domingo
Covas vai se licenciar da Prefeitura na próxima sexta-feira, 13, e deverá ficar fora até domingo. É a primeira vez que ele se afastará desde que descobriu que tem câncer no sistema digestivo. Segundo a Prefeitura, o afastamento não tem nenhuma relação com a doença, que está sendo tratada e já apresentou regressão. Covas fará uma viagem de dois dias com o filho para o interior do Estado. (Colaborou Camila Turtelli)
Por Ricardo Galhardo e Bruno Ribeiro
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