Sem a perspectiva de que exista espaço no Orçamento para aumento de gastos públicos nos próximos anos, o mercado avalia que os candidatos à Presidência da República deverão abandonar o discurso populista e encarar a delicada situação dos cofres públicos com pragmatismo.
Às vésperas das eleições presidenciais, e em meio ao crescente clima de polarização política, analistas, economistas e casas de investimentos começam a olhar com mais cautela para a postura dos concorrentes ao Palácio do Planalto, especialmente com relação a temas como responsabilidade fiscal e reformas econômicas, entendendo que o equilíbrio das contas públicas já se tornou uma demanda da sociedade, mas sem ignorar o risco trazido pelas posturas populistas dos candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto.
Mesmo com a ligeira melhora fiscal observada nos últimos meses, que contou com a ajuda da inflação mais alta, permitindo que a dívida bruta do governo recuasse a 83,8% do Produto Interno Bruto (PIB), a perspectiva é que a situação fiscal siga delicada no Brasil nos próximos anos.
Risco fiscal
Eliz Sapucaia, Heloise Sanchez e Regis Chinchila, do time de research e estratégia da gestora Terra Investimentos, avaliam que o principal fator de risco para as contas públicas no momento atual é o que os mercados têm chamado de “economia de eleição”, ou seja, medidas que entram no radar de aprovação com finalidade de atrair o eleitorado, sem que o governo esclareça qual será a fonte de recursos para sustentá-las, colocando em risco o respeito ao teto de gastos.
“Esse cenário de possível rompimento do teto de gastos faz com que o mercado comece a analisar o risco-país, dentro disso já vimos alguns movimentos que aconteceram no período de comunicação inadequada aos mercados sobre a utilização dos precatórios, quando vimos uma fuga para ativos considerados seguros como juros e dólar.”
Além disso, Flávio Conde, analista da Levante, destaca que a maneira como o Congresso Nacional lida com a questão orçamentária também dificulta a busca por uma melhora fiscal. “Nós já temos um Congresso populista no Brasil. Os parlamentares não podem ver nenhuma folga de R$ 10 bilhões ou mais no orçamento, que eles gastam”, complementa.
Eleições
Daniel Delabio, portfólio manager da gestora Exploritas, enxerga um cenário de incerteza para a agenda de reformas econômicas, e não vê grande apreço pela responsabilidade fiscal da parte do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores) ou do atual presidente Jair Bolsonaro, que lideram as pesquisas de intenção de voto para a chefia do Executivo Federal.
Sobre a possibilidade de Lula ser eleito, Delabio afirma que “é de se esperar um governo mais gastador, que quer fazer coisas para o povo, um pouco mais populista, e não existe espaço para aventuras fiscais hoje em dia”. Pensando na possibilidade da reeleição de Bolsonaro, o gestor não acha que um eventual segundo mandato seria melhor do que o atual. “Sobre uma terceira via, que tem uma chance menor, pode ser que apareça uma opção um pouco melhor, alguém mais comprometido”, conclui.
A equipe da gestora Chess Capital, por outro lado, avalia que a responsabilidade fiscal e a agenda de reformas já se tornaram demandas da sociedade, e devem ser levadas adiante independentemente de quem obtenha a vitória nas urnas. “O candidato que conseguir cativar os eleitores de centro deve sair vencedor e, para isso, deverá naturalmente ter uma proposta mais moderada e menos populista em relação a temas econômicos.”
Mercado brasileiro
Geraldo Mellone Junior, analista da Bresser Asset Management, entende que o mercado brasileiro hoje pune a irresponsabilidade fiscal com aumento do preço do dólar e das taxas de juros longas, fazendo com que os políticos adotem uma postura mais madura com relação aos gastos públicos. “A classe política entende que, ao flertar com o aumento dos gastos acima do que é responsável, as consequências podem ser piores.”
Soma-se a isso o aumento do número de investidores pessoa física na B3, o que deve contribuir para o engajamento da população na defesa de uma política econômica responsável. “Há 4 anos, o Brasil tinha pouco mais de 800 mil pessoas físicas na Bolsa, e hoje esse número passa de 4 milhões. E qualquer decisão política errada acaba afetando muito o bolso dessas pessoas, e isso influencia o voto desses investidores”, diz Daniel Delabio.
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