A tensão já era perceptível na sexta-feira (6), segundo dia da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Os preços do petróleo vinham caindo aceleradamente devido às perspectivas de desaquecimento econômico global provocado pelo coronavírus. A Opep propôs um corte na produção. A Rússia não aceitou. E, no sábado (7), inesperadamente, o governo da Arábia Saudita anunciou que ia comprar a briga. Ao contrário de cortar a produção, os sauditas – principais exportadores mundiais – anunciaram não apenas uma redução entre seis e oito dólares por barril em seus preços de venda, mas também informaram que vão elevar a produção em 9,7 milhões de barris por dia. Além de ameaçar concorrentes que têm custos de produção mais elevados e mirar em cheio na indústria americana do gás de xisto (shale gas), a medida levou o caos aos mercados.
Os preços do petróleo sofreram a maior queda em 29 anos, desde a Guerra do Golfo, e recuaram mais de 30% na abertura. Os contratos futuros de petróleo Brent recuaram a um mínimo de US$ 31,02 por barril, menor cotação em quatro anos, mas retornaram a 37,05 dólares por barril, uma baixa de “apenas” 22%. Os contratos futuros do petróleo americano do tipo West Texas Intermediate (WTI) caíram 33% na abertura, para 27,34 dólares, também o menor nível desde fevereiro de 2016, mas recuperaram parte das perdas e estavam cotados a US$ 33,20 por barril, queda de 24%.
A desintegração do agrupamento denominado OPEP + – formado pela OPEP mais a Rússia e outros produtores – encerra mais de três anos de cooperação para apoiar o mercado. Isso ocorre em um momento adverso para a indústria. Os bancos esperam uma queda na demanda. O Goldman Sachs anunciou esperar uma contração na demanda global em 150 mil barris de petróleo por dia. Já a Agência Internacional de Energia afirmou esperar uma retração na demanda de 90 mil barris por dia. Será o primeiro retrocesso do consumo desde 2009.
Como era de se esperar, essas baixas nas cotações do petróleo tiveram um efeito devastador sobre as ações das petrolíferas. Os negócios com os contratos futuros do índice de ações americanos chegaram a ser interrompidos durante a noite, pois as quedas superaram o limite estabelecido de 5%. Na retomada dos negócios, os contratos futuros do S&P 500 estavam cotados a 2.819 pontos, queda de 4,9 por cento. No pré-mercado, as ações das petrolíferas americanas Chevron e Exxon chegaram a cair mais de 12%. No caso do índice Dow Jones, as 30 ações estavam em queda no pré-mercado e os prognósticos são de uma abertura com baixa de 1.300 pontos.
Esse movimento não deixou ilesos os papéis brasileiros. Os ADRs da Petrobras começaram o dia negociadas com queda de 14,05% no pré-mercado de Nova York, a 8,50 dólares. Os ADRs da Vale cedem 10,60%, para US$ 8,52. E entre os bancos, os recibos do Bradesco recuam 6,05%, enquanto do Itaú perdem 8,59%.
Por aqui, a repercussão sobre o mercado promete ser pesada. Os contratos futuros de Ibovespa estavam sendo negociados com uma baixa superior a 9%, indicando fortes probabilidades de acionamento do “circuit breaker”, que interrompe os negócios quando a baixa supera 10%. E os primeiros negócios indicam que o dólar pode testar o limite de R$ 4,80, a depender da postura do Banco Central (BC).
INDICADORES
A edição mais recente do relatório Focus mostra que os prognósticos de desaceleração da economia já são oficiais. Pela primeira vez no ano, a projeção de crescimento para 2020 está abaixo de 2%. É uma diferença mínima, o crescimento projetado é de 1,99%, e o efeito prático é limitado. No entanto, em termos psicológicos, é uma indicação importante de que a cabeça do mercado mudou de chave. A projeção para o IPCA avançou levemente, de 3,19% para 3,20%. Os prognósticos para o dólar e para a taxa Selic no fim deste ano permaneceram inalteradas em, respectivamente, R$ 4,20 e 4,25%.
A combinação entre alta dos preços do petróleo e desaceleração econômica vai fazer os investidores globais se retirarem dos ativos de risco e preferir portos mais seguros para seu dinheiro. Assim, o movimento geral das ações é negativo, e o Brasil não é exceção.
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