Após comemorar o recorde trimestral de R$ 4,5 bilhões de lucro no segundo trimestre, a Usiminas (USIM5) segue otimista para o cenário do segundo semestre, esperando preços médios melhores no terceiro trimestre na medida em que ocorre a renovação de contratos junto aos clientes, conta o gerente geral de Relações com Investidores da siderúrgica, Leonardo Karam Rosa, em entrevista ao Mercado News. “O que a gente tem visto é que existe, evidentemente, um carrego do que a gente já fez”, diz.
De acordo com o executivo, o segundo semestre segue em um ritmo bom, coroando um ano em que a projeção do Instituto Aço Brasil é de crescimento de 24% no consumo de aço contra 2020. “Na Usiminas, a gente vai acompanhar esse crescimento do mercado, e mais especificamente o crescimento de cada um dos nossos clientes, cada um dos setores que a gente supre”, afirma Karam.
Olhando adiante, a Usiminas prevê investir na reforma do Alto Forno 3, em Ipatinga, que acontecerá em 2023, no valor de mais de R$ 2 bilhões. Em paralelo, a siderúrgica estuda outras possibilidades: “Temos a possibilidade de investir em uma linha de galvanização, porque esse mercado demanda muito e existe até uma importação de material galvanizado no País.” O investimento implicaria no aprimoramento do portfólio da empresa a partir do revestimento de zinco de seus laminados a frio que impede que o ferro oxide.
A seguir, leia a entrevista completa:
Como está a Usiminas após o momento crítico da pandemia até agora?
O ano passado foi um ano difícil para todo mundo, de muito desafio. Mas a gente conseguiu uma recuperação fantástica para a companhia a partir do segundo trimestre, quando houve realmente um impacto muito forte da pandemia. A partir de junho, julho, a situação começou a melhorar de uma forma que ninguém esperava. Houve uma confluência muito boa de fatores que levaram a essa recuperação. Primeiro o fator internacional, houve uma demanda muito forte por commodities e a China começou a controlar melhor sua produção e venda, controlando a exportação de aço e consumindo bastante minério. Esse preço do minério em um primeiro momento subiu muito, o minério chegou a bater por volta de US$ 220. A China começou a controlar a sua exportação tentando deixar o aço dentro da China, diminuindo a exportação. Hoje a China tem um programa para tentar diminuir a poluição e o governo está fazendo bastante força para ter maior controle sobre isso. Com isso, com o país exportando menos, o preço do aço internacionalmente subiu muito. A gente teve uma pressão muito forte de custo durante o ano e estamos tendo ainda porque tudo ficou mais caro, o minério estava mais caro, as placas que compramos para processar em Cubatão estavam mais caras.
Mas a gente foi muito bem-sucedido em capturar esse bom momento da economia. Aumentamos o preço para compensar esses aumentos de custo e os volumes de vendas melhoraram. E com isso a companhia fechou o ano já em uma situação muito boa. E agora no segundo semestre do ano a gente tem batido recorde em cima de recorde, a gente bateu todos os recordes de produção, de margem, de Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização]. E nesse primeiro semestre fechamos com algo muito importante, atingimos o famoso caixa líquido. Ou seja, a gente tem um caixa hoje que paga toda dívida e sobra cerca de R$ 200 milhões. Isso é maravilhoso. E pensar que no ano passado a gente estava com muito medo. As primeiras ações que tomamos quando veio a pandemia foi justamente preservar o caixa.
Então para preservar caixa, desligamos 2 altos fornos em Ipatinga, desligamos toda a operação em Cubatão, para justamente adequar o tamanho da nossa oferta para o tamanho da demanda que estava tendo naquele momento. E realmente foi muito acertado, em um primeiro momento foi muito difícil.
Temos uma participação muito grande no automotivo, e eles sofreram muito. A queda de produção de veículos no segundo trimestre foi impressionante, mais de 90%. Então a gente sentiu com isso também, só que a coisa foi melhorando, outros setores também foram melhorando mais rápido. Até mesmo impulsionado pelo auxilio-emergencial do governo, houve um consumo a mais. Principalmente na parte de construção civil, pequenas reformas, então a turma dentro de casa quis fazer reforma, quis melhorar a qualidade de estar trabalhando dentro de casa. E o auxílio-emergencial ajudou muito essas pequenas reformas também, isso trouxe muita gente para o consumo, que foi muito saudável naquele momento. E isso reflete muito na distribuição. A distribuição é o retail, o varejo, ele compra grandes volumes e pulveriza a oferta para a gente vender para todo mundo. E houve ao longo do ano e até agora no primeiro semestre um movimento de reestocagem, o consumo aumentou muito, as distribuidoras não conseguiram repor esse estoque na quantidade que estavam vendendo. Isso também foi um fator que ajudou muito.
Ou seja, a gente teve bons volumes, bons preços e conseguimos controlar com um custo maior, mas conseguimos melhorar as nossas margens durante esse período. Então acho que esse caixa líquido mostrou um esforço muito grande, um trabalho de equipe, como o nosso CEO Sergio [Leite de Andrade] costuma frisar sempre: a gente tem uma equipe capacitada. E estamos prontos para os desafios. A Usiminas tem muitos anos de estrada, já passamos por muita coisa e estamos vivendo um momento muito bom, muito prazeroso de ver que a coisa virou.
Quais as perspectivas para os próximos trimestres após o forte resultado do segundo trimestre, na esteira da alta dos preços do minério de ferro e do aço?
A demanda que estamos vendo está muito dentro de níveis similares ao que a gente estava vendo nos meses anteriores, porém, como a gente já previa, desde o fim do trimestre, os estoques das diferentes cadeias têm apresentado uma recomposição gradual ao longo desses últimos meses. Setores industriais, relacionados a agricultura, setor de construção, esses mantiveram um ritmo bem aquecido ao longo desse último trimestre. E também sinalizam perspectivas positivas para o resto do ano. O único ponto de atenção seria em relação ao setor automotivo, que tem sido muito impactado pela falta de semicondutores, outros insumos, ao longo do segundo trimestre e, segundo a Anfavea, isso deve permanecer pelos próximos meses. Mas a expectativa é muito boa.
O Instituto Aço Brasil, a associação dos fabricantes de aços no Brasil, aponta para um crescimento de 24% no consumo de aço neste ano contra o ano passado. Então é uma recuperação forte, a gente vê que todo mundo está sendo beneficiado com esse crescimento. Na Usiminas a gente vai acompanhar esse crescimento do mercado, e mais especificamente o crescimento de cada um dos nossos clientes, cada um dos setores que a gente supre. No caso do setor automotivo, ao mesmo tempo que é um desafio resolver esse problema de escassez de componentes, é uma oportunidade, porque em algum momento, pode chegar a necessidade de recompor os estoques de carros para atender as necessidades do mercado. Está difícil comprar um carro hoje. E isso pode ser uma oportunidade muito boa para a gente suprir essa cadeia importante e melhorar os volumes.
Então isso aponta realmente para a gente fechar o ano muito bem, da forma que a gente tem conseguido até agora, e até o fim do ano a gente espera manter esses bons resultados.
Há perspectiva de continuidade deste cenário de reajustes de preços?
Qualquer informação de futuro de preços, por Compliance, não podemos dar nenhum guidance. O que a gente tem visto é que existe evidentemente um carrego do que a gente já fez. Se você pega, por exemplo, junho, o preço médio de junho no mercado doméstico foi cerca de 4,4% acima do preço médio do segundo trimestre. Ou seja, é uma curva ascendente. Existe um carrego natural.
E tem setores da indústria não automotiva que esses aumentos vão acontecendo gradualmente, porque para a indústria a gente tem contratos trimestrais, semestrais, tem projetos que a gente não altera o preço no meio do projeto: definimos o volume em um prazo e aquilo não vai ser alterado. E à medida que você vai renovando esses projetos e contratos, você vai tendo preços novos na indústria em geral. Então não estou falando em aumentos de preços, mas há de se esperar preços médios no terceiro trimestre melhores do que no segundo.
Qual o principal objetivo da empresa?
Na parte de investimento, por exemplo, o principal investimento anunciado é a reforma do nosso maior equipamento, o Alto Forno 3 de Ipatinga, e essa reforma vai acontecer em 2023. Mas desde agora a gente já está trabalhando com isso. É um investimento de mais de R$ 2 bilhões. A vida útil de um forno desse é muito longa. Depois disso, a gente chama de reforma, mas é um investimento muito grande nesse equipamento. E temos hoje um caixa robusto, que dá para a gente discutir várias possibilidades, de possíveis investimentos. Não temos nenhuma definição ainda, mas a gente tem algumas possibilidades no radar.
Temos a possibilidade de investir em uma linha de galvanização porque esse mercado demanda muito e existe até uma importação de material galvanizado no País, por falta de capacidade de terra no País de fornecer. Então são projetos que estão sendo estudados e que podem ser viáveis e assim a gente poderia investir.
Na mineração, temos um projeto muito aguardado pelo mercado que a gente chama de Compactos. A gente lavra o minero friável, esse minério vai acabar. Essa reserva de friáveis, com alguns acordos, aquisições que foram feitas a gente tem friável até 2029. É um projeto grande, caro, precisa de muito estudo e é o que nós estamos fazendo. Não temos uma data prevista para ter uma definição e temos tempo. Um projeto grande como o Compactos leva cerca de 3 anos para ficar de pé, então nós temos tempo para tomar a decisão e com isso a gente poder divulgar alguma coisa nesse sentido. E a mineração está em um ritmo muito bom, nós temos um guidance de cerca 9 milhões de toneladas de vendas para esse ano. Então está nesse ritmo muito bom agora no segundo semestre. A gente deve fechar o ano com esses preços de minério, apesar de haver uma flutuação muito alta nessas últimas semanas, a China tentando controlar muito essa variação, esse preço alto do minério. Então existe uma flutuação, mas ainda assim estamos falando de minério em patamares bem elevados.
E, claro, a gente tem também uma atuação muito forte, e tem feito vários desenvolvimentos em relação à sustentabilidade. E nós estamos estruturando com essa agenda mais em relação à mudança de clima, carbono. Isso tudo são temas de muita discussão interna e de preocupação em relação a dar um retorno para a sociedade. Temos metas de diversidade e inclusão e temos metas de segurança de barragens.
A gente está sempre tentando e correndo atrás de inovação, é um pilar importante. Hoje a gente tem uma relação muito forte com as startups. Temos 37 startups trabalhando conosco hoje. Já executamos 15 projetos só na siderurgia, entre eles podemos até destacar o robô de marcação de bobina, controle de esgotamento do cadinho, predição de parada de torre de resfriamento. Então é muito importante para a Usiminas esse pilar da inovação.
A Usiminas voltou a avaliar a instalação de uma nova linha de galvanização em sua usina siderúrgica em Ipatinga (MG), poderia me explicar sobre o que é isso e o que implica em termos de crescimento para a companhia?
Significa enobrecimento de mix, porque hoje a Usiminas tem um portfólio completo, chapas grossas, bobinas a quente, tiras a quente, laminados a frio.
Parte dos laminados a frio a gente recobre com zinco, para aplicações que requerem resistência a corrosão, porque o zinco cria aquela camada e não deixa o oxigênio chegar lá no ferro e oxidar o ferro. O que acontece? Se a gente fizer isso a gente enobrece o mix, parte que a gente venderia como laminado a frio, a gente vai estar vendendo um produto com maior valor agregado, que é o galvanizado.
Qual a perspectiva de expansão da empresa e do setor siderúrgico? Quais são os setores que estão demandando mais neste momento e quais as perspectivas?
O que a gente tem visto muito recorrente são demandas principalmente dos setores que estão indo melhor, segmentos ligados a safra. O Brasil tem batido recordes de safras, isso puxou muita demanda principalmente dos setores industriais, agrícolas. Você tem maquinas agrícolas, silos. Setor da construção tem se mantido bem aquecido. E de resto você tem demandas interessantes para ações para geração de energia limpa, por exemplo, aços para fazer torre eólica. O interessante é que o aço está muito ligado a crescimento do país, é PIB porque todo crescimento vai ter demanda. Ou é uma geladeira, ou vão ser carros, construção. Infraestrutura demanda muito aço. Então de uma maneira geral o PIB dita esse crescimento possível que a gente pode ter no futuro. E nós estamos muito capacitados, temos possibilidade de fornecer e acompanhar esse crescimento.
Como a empresa está posicionada em inovação?
Buscamos muitas parcerias com as startups. Não só com startups, mas universidades, empresas de tecnologia e projeto, que envolve a indústria chamada 4.0, e por meio de execução de várias iniciativas piloto. Tudo com objetivo de melhorar a produtividade, qualidade, reduzir risco operacional, reduzir custo, gerar nova receita. Isso tudo está no radar, a gente alavanca nossos indicadores com uso de inteligência artificial, machine learning, visão computacional para conferencia, rastreamento, detecção automática de defeito no produto, aprimoramento do processo de segurança, redução de custo utilizando a internet das coisas, algoritmos de predição, monitoramento de equipamentos na área industrial. É um mundo que se abre quando se fala aí de inovação.
No ponto de vista de geração de novas receitas, temos um caso bem bacana de um novo modelo de negócios nas Soluções Usiminas, que é nosso braço de serviço e distribuição. A gente lançou a plataforma online de venda de aço. Você pode entrar no site e comprar aço da Usiminas por meio das Soluções Usiminas.
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