Depois de uma manhã de muita volatilidade, em meio ao fortalecimento da moeda americana lá fora e a certo ruído político por conta de declarações do presidente Jair Bolsonaro, o dólar perdeu força à tarde e fechou em queda, embora distante das mínimas.
A avaliação é a de que o ambiente benigno no exterior, com avanço das bolsas americanas e das commodities, abriu espaço para realização de lucros e correção técnica no mercado de câmbio local. Operadores lembram que ontem o dólar havia subido 2,64%, levando o real a amargar o pior desempenho entre divisas emergentes, em meio aos temores de que a variante Delta do coronavírus pudesse refrear o crescimento da economia global.
Com mínima de R$ 5,2026, registrada no início da tarde, o dólar à vista encerrou o pregão a R$ 5,2311, em queda de 0,37%, reduzindo a alta nos dois primeiros pregões desta semana a 2,26%. No acumulado de julho, o dólar ainda apresenta valorização de 5,19%.
“Tecnicamente, o mercado está devolvendo um pouco do exagero de ontem, já que o ambiente é positivo para ativos de risco. Até porque ontem foi uma anomalia, com o real sendo a pior moeda e um dos piores ativos do mundo”, afirma Sérgio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital, que atribui a alta pronunciada do dólar na segunda-feira, em parte, a um posicionamento técnico desfavorável de fundos locais e de parte dos estrangeiros, que foram pegos no contrapé pela onda de aversão ao risco no exterior.
Zanini vê o mercado de câmbio doméstico em uma dinâmica assimétrica, em que o real piora em demasia em dias ruins e tem apenas uma leve recuperação em pregões positivos. Dada à volatilidade elevada do real, maior até que a da Bolsa, ele acredita ser prudente, neste momento, montar posições menores no mercado de câmbio.
“Eu continuo construtivo com o real. Acho que o crescimento aqui vai surpreender. E o Banco Central está fazendo o trabalho dele. Vamos ter um patamar de juros bem maiores que dos nossos pares. A questão é que a volatilidade é muito grande”, afirma Zanini, que mantém aposta em um cenário de perda de força da inflação nos Estados Unidos e manutenção de preços elevados das commodities.
O head de mesa de câmbio e operações PJ da Wise Investimentos, Gustavo Gomiero, também vê a perda de fôlego do dólar hoje como uma “correção” natural, já que ontem o movimento de alta foi muito acentuado, em meio a um pregão de volume menor e à aversão ao risco no exterior. “Hoje, o dólar chegou a subir até R$ 5,29 pela manhã, mas se estabilizou com a melhora lá fora das bolsas americanas”, diz Gomiero, que lamenta o fato de o Banco Central ter ficado de fora ontem para “conter a volatilidade”.
Gomiero também lembra que o dólar tem sido muito suscetível ao noticiário político interno, o que, por vezes, acaba potencializando os movimentos da moeda americana frente ao real. “Mas a minha visão é de valorização do real caso as reformas andem no Congresso”, diz o head da Wise, lembrando que a balança comercial é superavitária e as commodities ainda estão em níveis elevados.
Por aqui, o presidente Jair Bolsonaro disse, pela manhã, que acredita na aprovação das reformas administrativa e tributária ainda neste ano. Teme-se, contudo, que os atritos do presidente com o Centrão, aguçados pela questão do fundo eleitoral, possam atrapalhar o andamento das reformas.
Depois de atacar ontem o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), a quem chamou de “insignificante”, o presidente prometeu hoje que vai vetar o trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que prevê elevação do fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões.
Bolsonaro voltou a atacar o presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e disse que vai apresentar provas de que teria havido fraude no segundo turno das eleições de 2014, em que a ex-presidente petista Dilma Rousseff derrotou o candidato tucano Aécio Neves.
Por Antonio Perez
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