A cautela deu o tom aos negócios no mercado de câmbio doméstico nesta segunda-feira, 5, e fez o dólar iniciar a semana em alta firme, aproximando-se do patamar de R$ 5,10. Operadores atribuíram a busca por dólares a três fatores: ao ambiente político interno conturbado – marcado pelo mau humor com a proposta de reforça tributária e pela deterioração do capital político do presidente Jair Bolsonaro -, ao fortalecimento da moeda americana ante às principais divisas emergentes e à agenda carregada de indicadores para os próximos dias.
Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) divulga a ata de sua mais recente reunião de política monetária, o que pode mexer com as expectativas para o início da redução de compra de ativos e, por tabela, afetar a trajetória do dólar. Por aqui, na quinta-feira sai o IPCA de junho, dado relevante para a calibragem das expectativas para a magnitude de alta da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em agosto.
Com mínima de R$ 5,0471 e máxima de R$ 5,0933 a moeda americana encerrou o pregão negociada a R$ 5,0878, alta de 0,68%. Após encerrar junho em queda de 4,82%, o dólar já acumula alta de 2,30% em julho. Na B3, o dólar futuro para agosto, o mais líquido, subia 0,60% perto das 17h, a R$ 5,10250, com giro reduzido (pouco acima de US$ 5 bilhões), por causa do feriado do Dia da Independência nos Estados Unidos.
Para o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, o momento político é “muito delicado”, com o governo sendo alvejado por todos os lados. “Está ficando complicado porque estão vindo denúncias de várias frentes. Isso aumenta a incerteza e deixa o mercado cada vez mais estressado. Acredito que o dólar possa romper o nível de R$ 5,10 já no pregão de amanhã”, afirma Nagem.
Às investigações a respeito de propinas em negociação para aquisição de vacinas e ao superpedido de impeachment juntaram-se reportagem do UOL com indícios de envolvimento de Jair Bolsonaro em esquemas de “rachadinha’ (entrega ilegal de salário de assessores a parlamentares) quando era deputado federal. No fim de semana, houve protestos por todo País pedindo afastamento do presidente.
Alvejado pelas acusações, Bolsonaro vê sua popularidade minguar. Pesquisa da Confederação Nacional o Transporte com o Instituto MDA mostra que a aprovação positiva do governo (ótimo e bom) caiu de 33% em fevereiro de 2020 para 27,7%, o pior nível desde o início da gestão mandatário. E a pesquisa estimulada para as eleições presidenciais de 2022 apresenta o ex-presidente Lula com 41,3% das intenções de voto no primeiro turno, bem à frente de Bolsonaro (26,6%).
Para o diretor de câmbio da corretora Ourominas, Mauriciano Cavalcante, o dólar deve seguir pressionado nas próximas semanas por causa do ambiente político conturbado e do receio do mercado em relação ao desenlace da reforma tributária. “A tendência é que o dólar continue em alta e tente buscar novamente os R$ 5,10, muito por conta da nossa crise política”, afirma Cavalcante, ressaltando que o mercado “não está se estressando ainda mais” porque se desenha um cenário de recuperação da economia brasileira e o Banco Central continuar a subir a taxa de juros. “Se a política não atrapalhasse, veríamos mais entrada de recursos”.
O Boletim Focus desta segunda-feira trouxe elevação da projeção de crescimento do PIB neste ano de 5,05% para 5,18%. A estimativa para o IPCA neste ano saltou de 5,97% para 6,07%. Isso com a manutenção da expectativa de taxa Selic em 6,50% em dezembro. Já a mediana das projeções para a taxa de câmbio no fim deste ano apresentou leve redução, de R$ 5,10 para R$ 5,04.
Por Antonio Perez
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