Os juros futuros avançaram nesta quinta-feira de alta tensão na cena política. O mercado passou a precificar na curva do DI o risco de um processo de impeachment em meio ao escândalo de suposta corrupção na compra de vacinas contra a covid-19. O acirramento da crise acontece em meio a um processo de desgaste e perda de capital político por Jair Bolsonaro iniciado nos últimos meses. As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) encerraram em alta mais pronunciada nos contratos intermediários e longos, o curtíssimo encerrou com viés de alta, o que provocou aumento da inclinação da curva.
Sobre o impeachment, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que o “superpedido não pode ser banalizado”. O presidente da Câmara, Arthur Lira, disse, porém que não vê “materialidade” para levar adiante os pedidos de impedimento. Ele tem mais de cem pedidos em sua gaveta.
Na sessão regular, o DI para janeiro de 2022 fechou a 5,720%, ante 5,687% no ajuste de quarta. O DI para janeiro de 2023 encerrou a 7,12%, ante 7,07% no ajuste de quarta. O DI para janeiro de 2025 ficou em 8,17%, ante 8,07% no ajuste de quarta. O DI para janeiro de 2027 fechou a sessão regular a 8,61%, ante 8,49% no ajuste de quarta.
“Se o governo continuar se enfraquecendo, existe uma chance de o Centrão pular fora”, afirmou Helena Veronese, economista-chefe da Consulenza.
Para ela, atualmente, em particular, o que penaliza os ativos é a CPI da Covid, seus desdobramentos, “se houve pagamento ou não de propina” e o que vai acontecer com o pedido de impeachment do presidente da República. Ela lembrou que, até surgirem as denúncias de corrupção e do superpedido de impeachment, a CPI trouxe novidades e questões polêmicas mas não estavam sendo precificadas pelo mercado.
Para ela, o principal risco para os preços dos ativos hoje é crise política no Brasil e o surgimento de novas variantes do coronavírus. A variante Delta, a mais presente nas novas contaminações nos Estados Unidos segundo notícia publicada nesta quinta, tem cobertura das vacinas, como pontuou Veronese. “Embora mais transmissível, a Delta tem tido cobertura de vacinas com um alto porcentual de imunização”, disse.
Para o operador da mesa de renda fixa de uma grande gestora de fundos, a rapidez com a que a variante Delta se dissemina pelos países é preocupante. “É uma notícia que está pegando nos preços”, comentou.
Sobre o leilão de títulos do Tesouro Nacional, esse mesmo profissional considerou o resultado positivo, sobretudo na oferta de LFTs. “Achei muito bom que houve demanda para as LFTs longas”, disse.
O mercado tem também no radar o desdobramento da reforma tributária. O presidente da Câmara afirmou que há chance de os projetos de lei serem aprovados antes do recesso parlamentar. As propostas levantaram críticas do empresariado e também de gestores de fundos, como do sócio-fundador da Perfin Investimentos, Ralph Rosenberg. “A proposta de reforma tributária é um absurdo completo. Não tem ‘pé nem cabeça’. Imagino que não vai seguir adiante dessa forma”, disse Rosenberg esta semana no programa de entrevistas Cabeça de Gestor do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Por Karla Spotorno
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