O senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirma que o Centrão não é um bloco político nem de direita nem de esquerda. O parlamentar defende que o melhor termo para definir esse grupo é o de posições “conservadoras”, em oposição aos “radicalismos” de mudanças sociais e econômicas abruptas. O argumento consta em um artigo assinado pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro (PL) no jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira, 3.
O Centrão é o bloco partidário do Congresso que apoia o governo de ocasião em troca de vantagens políticas, como nomeações para cargos e liberação de emendas. O grupo, apesar de não existir de modo formal, possui influência prática na articulação entre os Poderes. O termo é comumente utilizado para descrever uma atuação parlamentar orientada por conveniência, e não por princípios ou ideais.
O artigo de Ciro Nogueira exalta os parlamentares de orientação centrista por meio de um retrospecto histórico. Segundo o ex-ministro, o centro político foi o responsável por “conservar o tecido da sociedade brasileira” na mesma medida em que consolidou avanços e mudanças positivas.
“Só conservar não é suficiente, e não conservar nada é irresponsável. Conservadorismo demais é tacanho. Extremismo demais? Também”, diz um trecho do artigo.
Como exemplos de mudanças “conservadoras” encampadas pelo centro político, Ciro cita desde a redemocratização, em 1985, ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, passando por marcos como o impedimento de Fernando Collor, em 1992, e o Plano Real, de 1994. “O centro não grita e nunca foi protagonista; nem é a sua vocação. Mas ajudou e ajudará sempre o Brasil a corrigir seus rumos”, diz Ciro Nogueira.
Ainda que associe mudanças sociais “radicais” aos setores progressistas do Congresso, o senador afirma que a direita “não possui o monopólio da razão”, criticando os “extremos que se julgam ungidos”.
Ciro Nogueira foi ministro-chefe da Casa Civil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A pasta de Casa Civil é uma peça-chave da articulação política entre Executivo e Legislativo e a nomeação de Nogueira para o cargo, em agosto de 2021, representou uma inflexão no modo como Bolsonaro lidava com o Congresso. Até então, o presidente mantinha uma relação frágil com deputados federais e senadores e, com efeito, não obtinha bons resultados em medidas políticas que dependiam de aval dos congressistas. A nomeação de Ciro Nogueira, egresso do Centrão, representou o aumento da influência do grupo nas negociações com o Planalto.
“Não foi o centro que se aproximou de Jair Bolsonaro. Foi ele que fez uma autocrítica em relação à antipolítica e entendeu a importância do diálogo com o Congresso”, diz o senador no artigo publicado nesta terça, realizando um paralelo com a mudança de postura do Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a eleição de 2002. “Não foi o centro que se aproximou de Lula. Foi ele que lançou a Carta ao Povo Brasileiro, exorcizou os radicalismos que professara.”
Por Juliano Galisi
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