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Reprodução assistida cresce com carreira feminina e LGTB+, atrai fundos e já mira B3

A reprodução assistida está ganhando protagonismo no mercado de fusões e aquisições (M&A) acompanhando o crescimento no número de mulheres que optam por ter filhos mais tarde para privilegiar a carreira, das que preferem não ter um parceiro fixo e da população homoafetiva. A XP, por meio de seu braço de investimento em private equity, e a Hundington, uma rede de clínicas que pertence espanhol Eugin Group, investida do fundo de private equity (de participação em empresas) GED desde o final de 2023, lideram o movimento de consolidação no Brasil.

O fundo da XP II já investiu R$ 200 milhões na aquisição de seis clínicas que estão sob o guarda-chuva da Fertigroup, uma holding. “Quando olhamos para todas as estatísticas sobre fertilização falamos, ‘opa, tem uma tese nova e diferenciada aqui'”, disse sócio e head de Private Equity da XP Asset, Chu Kong. A Fertigroup foi criada como plataforma julho do ano passado e a proposta é que além do congelamento e da fertilização, tenha um braço educacional, de benefício corporativo e um terceiro de financiamento.

Com seis clínicas, a Fertigroup tem atualmente 10% de participação de mercado, de acordo com Chu, e deve ultrapassar os 14% com as duas aquisições previstas para este ano. Em cinco anos, a Fertigroup pretende elevar em cinco vezes o número de ciclos de fertilização já feita, que está em torno de 7 mil ao ano agora. Em cinco anos a ideia é também levar a plataforma para a bolsa, de acordo com Chu.

No processo de consolidação, a cultura e a identidade das clínicas são mantidas e a integração acontece na captura de sinergias em custos e integração técnica e médica, acrescenta o CEO da Fertigroup, Nelson Pestana. “A discussão sempre é liderada pelos profissionais médicos e a partir disso trabalhamos os temas de escala e sinergia, como consequência”, afirma Pestana.

“Existem dificuldades de acesso à reprodução humana que não são só financeiras, mas de informação, entre mulheres que já poderiam estar congelando óvulos”, diz o CEO do Grupo Huntington Medicina Reprodutiva, Fabio Iwai. O Grupo Huntington tem 29 anos e possui nove unidades de atendimento, seis laboratórios localizados em seis cidades.

A Huntington não revela investimentos ou qualquer número relacionado à operação. Mas Iwai diz que a Hundington tem três de suas clinicas completas no Estado de São Paulo, que representa 40% e 50% do mercado brasileiro. Ele cita ainda que a entrada do fundo GED na gestão de sua controladora, a Eugin, potencialmente abre mais espaço para consolidação, à medida que o Brasil passa a ser um dos principais países entre os nove que a Eugin já opera.

Potencial

Embora o primeiro bebê de “proveta” já tenha mais de 50 anos, a reprodução assistida é um campo da medicina ainda novo. Mundialmente, o congelamento de óvulos deixou de ser uma técnica médica experimental somente a partir dos anos 2000 e no Brasil foi após 2013 que começaram a surgir clínicas maiores de fertilização.

No Brasil existem cerca de 200 clínicas de congelamento de óvulos e de fertilização e, aproximadamente, 60 mil tratamentos são realizados ao ano. Os números são relativamente pequenos frente a outros países como Estados Unidos e Espanha, onde o número de procedimentos feitos é, respectivamente, cinco e dez vezes maiores.

s dados ganham relevância maior se confrontados com o ritmo exponencial de queda da fertilidade feminina após os 32 anos, considerado o ápice, e com as estatísticas relacionadas ao número de mulheres que não conseguem engravidar. Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, a probabilidade de gravidez para uma mulher de 25 anos é de 25% a 30% a cada mês. Essa taxa cai quase pela metade a partir dos 35 anos e menos de 5% a partir de 40 anos.

“A infertilidade é uma doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e atinge quase 20% da população mundial. A doença médica só perde para a obesidade no mundo inteiro”, diz o médico especialista em reprodução assistida e sócio da Fertigroup, Dr. Edson Borges. De acordo com ele, 12 milhões de mulheres por ano vão ter um problema para engravidar no Brasil. Borges afirma ainda que atualmente 50% das mulheres optam por engravidar após os 30 anos, um porcentual que era de 24% no ano 2000 e de 38% em 2021.

Como reflexo, o assunto chega também no RH das grandes empresas, que começam a oferecer a seus colaboradores a reprodução assistida como mais um benefício. A Nest Fertilidade, fundada por médicos ginecologistas e especialistas em reprodução humana, tem em sua carteira de clientes grandes empresas, muitas delas estrangeiras. “São empresas que tem preocupação com rotatividade de seus funcionários e, culturalmente, tem a maternidade e serviços relacionados já presentes como benefício”, afirma Patrícia Florida, sócia da Nest.

Para o sócio da Setter, butique de fusões e aquisições (M&A), a consolidação é uma tese que não se restringe aos grandes players. “Pequenas e médias clínicas também já estão mirando a união de forças para se tornarem relevantes no mercado, assim como ocorreu em outros segmentos da saúde no passado, a exemplo da oncologia”, diz Uzum.

Segundo ele, o espaço nesse mercado é diversificado e permite teses para entregas de serviços de luxo e super personalizados, até os mais padronizados, com menor custo. Em média, são tratamentos que envolvem desembolsos acima de R$ 25 mil a 40 mil por ciclo.

Por Cynthia Decloedt

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