Os juros futuros fecharam a quarta-feira, 16, em alta, pressionados pela percepção negativa do cenário fiscal. O exterior trouxe alguma apreensão pela via indireta, do câmbio, com a eleição dos Estados Unidos no foco dos investidores.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 12,64%, de 12,61% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, em 12,81% (de 12,73% ontem). A taxa do DI para janeiro de 2029 avançou de 12,72% para 12,82%.
Com as taxas longas subindo mais do que as curtas, a curva ganhou inclinação, movimento típico de momentos de tensão fiscal. O mercado se assustou com os projetos encaminhados ao Congresso que afrouxam regras para que empresas públicas saiam da contabilidade tradicional e passem a gastar como instituições independentes, mesmo que ainda dependam de dinheiro do Tesouro. O Ministério do Planejamento, que assina a proposta, diz que a mudança melhora a situação fiscal, pois hoje os recursos próprios dessas estatais também acabam entrando no Orçamento e concorrem com outros gastos da administração.
Entre os problemas da medida, a Warren Investimentos aponta possível falta de transparência, dado que haverá ausência do registro das operações no Siafi, e a alegação de que as empresas se tornariam mais eficientes e menos dependentes do Tesouro não parece adequada. “Não é a falta de contrato de gestão que as faz menos eficientes ou dependentes. Nada as impede de se tornarem independentes e, assim, deixarem de integrar o orçamento federal”, afirma.
No fim da manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que “não há hipótese de tirar as estatais do arcabouço” Segundo ele, o projeto explora a possibilidade de se reduzir o aporte federal feito nessas companhias e admitiu que, se necessário, pode fazer ajustes na redação para deixar a proposta mais clara. “O objetivo da medida é exatamente o contrário. É fazer com que a estatal não dependa mais de recursos orçamentários”, disse Haddad, que falou com a imprensa porque, segundo ele, o assunto estaria trazendo “muito ruído”.
As declarações conseguiram aliviar pontualmente a pressão da curva, com as taxas de curto e médio prazos chegando até mostrar leve sinal de baixa no começo da tarde e as longas reduziram a alta, mas depois retomaram o ritmo. “O mercado não dará o benefício da dúvida ao governo e quer ver ações de fato. Talvez um aval de Lula ajude e também um compromisso de que deputados petistas vão colocar a digital para aprovar os projetos”, afirmou o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara.
Na mesma linha, o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal, diz que o mercado “precisa do aval de Lula”. Segundo ele, há uma certa angústia trazida pela percepção de que nada na revisão de gastos deve ser definido antes do segundo turno. “Até o fim da eleição, não teremos uma publicidade das medidas, e a tendência é seguirmos com esse fluxo confuso de notícias”, avalia.
No exterior, os juros dos Treasuries e dos bônus europeus estiveram em baixa, mas sem conseguir contagiar as taxas locais, que, além da seara fiscal, ficaram sujeitas também às variações do câmbio. O dólar se firmou em alta à tarde, para fechar em R$ 5,6651 (+0,14%). “O real e o peso mexicano estão sofrendo juntos por causa do ‘trade Trump’. Nos últimos dias, Trump abriu uma margem boa em relação a Harris nas casas de aposta e começou a fazer preço”, afirmou Ihara.
Por Denise Abarca
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