Após um início de semana positivo, o Ibovespa obteve ajuste de alta no fechamento, sem sair dos 131 mil pontos, em dia no qual voltou a contar com apoio de parte do setor financeiro, mas não do segmento de commodities, que determinava o sinal da sessão desde a manhã. Tendo operado em baixa ao longo da maior parte do dia, o índice da B3 mostrava, ao fim, leve ganho de 0,03%, aos 131.043,27 pontos, com giro financeiro a R$ 20,2 bilhões. Nesta terça-feira, oscilou entre mínima de 130.199,82 e máxima de 131.456,51 pontos, saindo de abertura aos 131.005,25. Na semana, o Ibovespa avança 0,81%, com perdas no mês a 0,59% e, no ano, a 2,34%.
À tarde, falas protecionistas do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, mantiveram o apetite por ativos de risco na defensiva, em Nova York como em São Paulo. Por lá, os principais índices de ações anotaram perdas entre 0,75% (Dow Jones) e 1,01% (Nasdaq) no fechamento. Na B3, os carros-chefes das commodities cederam 1,23% (Vale ON), 1,14% (Petrobras ON) e 0,82% (Petrobras PN) nesta terça-feira. Entre os grandes bancos, o desempenho era misto, mas ganhou força no fechamento, com destaque para alta de 1,15% em Itaú PN, uma das principais ações do índice, e de 0,87% para Bradesco PN.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, LWSA (+4,22%), WEG (+2,71%) e JBS (+2,54%). No lado oposto, Azul (-2,97%), Usiminas (-2,39%) e Yduqs (-2,29%)
Com a eleição americana se aproximando e um quadro totalmente em aberto sobre quem sairá vitorioso em novembro, novas declarações de Trump sobre tarifas comerciais, impostos e juros – uma atribuição de direito exclusivo do Federal Reserve – não passaram despercebidas dos investidores. Por aqui, com atenção também voltada ao cenário fiscal doméstico, o dólar à vista subiu 1,33%, a R$ 5,6570, acumulando ganho de 3,85% nesta primeira quinzena de outubro.
A tarde foi também de avanço para a curva de juros doméstica e, nos EUA, de demanda por Treasuries mais longos, de 10 e 30 anos, o que resultou em queda dos rendimentos desses papéis – considerados referência de proteção. Por sua vez, o ouro fechou em alta, perto da máxima histórica, como refúgio seguro também para o cenário de crescentes tensões no Oriente Médio, em meio à expectativa para um ataque direto de Israel ao Irã.
Apesar da tensão militar, a expectativa é de que a ação israelense não tenha como objetivo as instalações nucleares ou a produção de petróleo do país persa, o que contribuiu para que os preços da commodity recuassem mais de 4% nesta terça-feira, em Londres (Brent) e em Nova York (WTI), levando consigo as ações da Petrobras na B3. O dia foi moderadamente negativo para o minério de ferro na China, com o mercado à espera de uma nova safra de estímulos para o gigante asiático.
Não obstante a cautela externa, o Ibovespa foi pouco volátil na sessão, ancorado no patamar de 130 mil pontos, ressalta Felipe Moura, analista da Finacap.
“O índice tem mostrado alguma força na parte compradora, dado que a curva de juros tem abertura relevante nas últimas semanas, refletindo ainda desconfiança do mercado com relação ao governo fazer o ajuste fiscal necessário”, diz Moura, acrescentando que o mercado havia reagido bem, na segunda-feira, aos rumores de que o governo estaria preparando um pacote de medidas fiscais para depois do segundo turno das eleições municipais, no fim do mês.
“A manutenção de bons resultados pelas empresas e uma percepção mais favorável sobre o macro seriam uma combinação interessante para que a Bolsa tenha um bom desempenho em direção ao fim do ano”, aponta o analista, referindo-se à proximidade do início de nova temporada de balanços corporativos, referentes ao terceiro trimestre.
Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, o comportamento recente da curva de juros doméstica tem sido o fator decisivo para a falta de impulso adicional ao Ibovespa – que renovou máxima histórica em agosto, chegando aos 137 mil pontos no melhor momento, no fim daquele mês. Desde então, o índice se acomodou em níveis um pouco mais baixos, rondando agora a marca dos 130 mil ou 131 mil pontos – sem força para subir, tampouco inclinado a uma correção mais forte.
“Parece que após a Moodys elevar a nota de crédito do Brasil, a situação piorou. Atualmente, a curva de juros precifica déficit fiscal para 2025 e gastos excessivos do governo”, diz Pletes em nota, na qual destaca a reversão, em andamento, do movimento “considerável” de fechamento da curva de juros observado em setembro.
Na semana, a sessão que tende a trazer volatilidade ao mercado pode ser a de quarta-feira, com o vencimento dos contratos de Ibovespa Futuro, e na sexta-feira, com o vencimento de opções sobre ações: dois eventos mensais que, em geral, atraem maior volume para a Bolsa e podem envolver oscilações mais agudas do índice, destaca Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
Por Luís Eduardo Leal
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