O dólar apresentou alta firme nesta terça-feira, 3, voltando a fechar perto do nível técnico de R$ 5,65. O real foi castigado pela onda de aversão ao risco que tomou conta dos mercados globais após dados fracos da indústria norte-americana avivarem temores de recessão nos Estados Unidos.
Investidores abandonaram bolsas e divisas emergentes para buscar abrigo nos Treasuries e em moedas tipicamente vistas como refúgio em momentos de turbulências, como o iene e o franco suíço. O minério de ferro amargou mais um dia de forte baixa, diante de preocupações com a economia chinesa, e os contratos do petróleo recuaram quase 5%.
Nas primeiras horas de negociação, o real chegou a ignorar o tombo das commodities e esboçou uma apreciação pontual, depois de o resultado acima do esperado do PIB brasileiro no segundo trimestre reforçar a perspectiva de que o Banco Central inaugure um novo ciclo de alta da taxa Selic neste mês.
Com mínima a R$ 5,5771 e máxima a R$ 5,6527 o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,6404 – maior valor de fechamento desde 6 de agosto. O real, que costuma ser mais castigado em episódios de aversão ao risco, desta vez teve perdas menores que moedas pares, como o peso chileno e o rand sul-africano.
“Tivemos um movimento de aversão ao risco bem grande hoje. O minério de ferro e o petróleo caíram com força. O mercado já vinha preocupado com a China e os PMIs nos EUA acabaram exacerbando a fuga do risco, principalmente de emergentes”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrício Velloni.
Divulgado no fim da manhã, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria dos EUA, medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) subiu de 46,8 em julho para 47,2 em agosto, aquém do esperado por analistas (47,5). Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade. Além disso, os investimentos em construção nos EUA recuaram 0,3% em julho, quando a expectativa era de alta de 0,2%.
Ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou que houve aumento das apostas em corte de 50 pontos-base dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) neste mês, embora as chances de redução menor, de 25 pontos-base, sigam majoritárias. As atenções se voltam agora aos indicadores do mercado de trabalho, em especial o relatório mensal de emprego (payroll) de agosto, que sai na sexta-feira, 6.
“Um payroll mais fraco que o esperado, especialmente se mostrar desaceleração mais pronunciada do mercado de trabalho, poderia incitar o Fed a adotar uma postura mais agressiva no corte de juros”, afirma o head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa.
Por aqui, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,4% no segundo trimestre em relação ao primeiro, acima da mediana de Projeções Broadcast (0,9%). Investimento e consumo das famílias puxaram o resultado positivo, sob a ótica da demanda agregada. Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o PIB cresceu 3,3%, superando também a mediana de Projeções Broadcast (2,6%).
Para Velloni, da Frente Corretora, com a economia rodando acima das expectativas e a bandeira vermelha para tarifa de energia em setembro, não há perspectiva de alívio da inflação. “É preciso entender como o Banco Central vai se comportar nesse cenário, ainda mais porque o Brasil tem um quadro fiscal mais deteriorado que pressiona o câmbio”, diz Velloni, que não descarta uma nova escalada do dólar para além de R$ 5,70 no curto prazo.
Casas relevantes, como Citi e Barclays, elevaram a projeção para o PIB deste ano após o resultado do segundo trimestre e estimam altas da taxa Selic. O Barclays vê um ciclo de aperto monetário de 1,5 ponto porcentual. O Citi trabalha com quatro altas seguidas de 0,25 ponto, a partir de setembro.
Em tese, a combinação de corte de juros pelo Fed com elevação da taxa Selic tende a beneficiar o real, já que aumenta a atratividade para as operações de carry trade. Analistas ponderam, contudo, que as incertezas sobre o ritmo da atividade nos EUA pode manter os investidores na defensiva e limitar o apetite por moedas emergentes com o real.
Por Antonio Perez
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