A escolha de Gustavo Pimenta para substituir Eduardo Bartolomeo no comando da Vale, a partir de janeiro de 2025, foi bem recebida pelo mercado nesta terça-feira, 27, depois da tentativa do governo de interferir no processo de sucessão. Mas na avaliação de analistas, Pimenta – que atualmente ocupa o cargo de vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores – terá pela frente desafios importantes, como fazer crescer produção e venda da mineradora num momento de desaceleração da demanda da China por minério e lidar com a indenização pelos danos causados pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), em 2015.
O Estadão/Broadcast apurou que, em entrevista com os membros do conselho de administração da Vale, o novo CEO defendeu o enxugamento da estrutura administrativa.
Ontem, puxadas pelo anúncio de Pimenta e pela valorização do minério de ferro, as ações da Vale fecharam em alta de 3,01%, o que representou um ganho de valor de mercado de R$ 8 bilhões (chegando a um total de R$ 271 bilhões). Bradespar, acionista da Vale, também avançou na Bolsa: 2,68%.
“CEO foi resolvido; China não tem o que fazer, e só o tempo dirá. O próximo passo é resolver Mariana, a principal prioridade da empresa”, afirmou Ilan Abertman, analista da Ativa Investimentos. “Vemos o anúncio do CEO mais cedo do que o esperado como um evento de redução de risco para a Vale. Destacamos que a incerteza relacionada ao próximo CEO foi uma das principais preocupações entre os investidores, e o anúncio deve ser bem recebido pelo mercado”, escreveram Rafael Barcellos, do Bradesco BBI, e Renato Chanes, da Ágora Investimentos, em relatório conjunto.
Para o Goldman Sachs, o mercado vai monitorar agora a capacidade de Pimenta de “navegar no diálogo com o governo brasileiro” não só em torno de um acordo final sobre Mariana, como sobre a renovação de concessões ferroviárias.
O relacionamento com os governos, em especial o federal e o do Estado do Pará, tem sido desafiador para a Vale. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a mineradora em diversas ocasiões, citando que a companhia não teria compensado devidamente as vítimas do desastre de Brumadinho, em 2019, e estaria retardando o acordo relativo ao acidente de Mariana, em 2015.
Outro ponto de atrito se refere à renovação antecipada das concessões ferroviárias (Estrada de Ferro Carajás e Estrada de Ferro Vitória-Minas) realizada no governo Bolsonaro. O atual governo se mostra insatisfeito com a negociação e está cobrando R$ 25,7 bilhões adicionais pela outorga das duas linhas.
O Planalto cobra ainda da mineradora mais investimentos alinhados aos interesses nacionais e acusa as grandes empresas do setor de obter licenças de exploração e vendê-las, em vez de utilizá-las.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Júlia Pestana, Beatriz Capirazi, Luana Reis e Isabela Mendes
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