Após troca de sinais ao longo da tarde, marcada pela divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 21, praticamente estável. A formação da taxa de câmbio se deu sobre forças opostas vindas do exterior, o que trouxe instabilidade ao mercado doméstico de câmbio.
De um lado a onda de enfraquecimento da moeda norte-americana em relação a divisas fortes – com a revisão do número de geração de emprego nos EUA e, sobretudo, após a divulgação da ata do Fed – jogava a favor de uma apreciação do real.
Na outra ponta, a queda das cotações do petróleo e temores de piora mais aguda da atividade nos EUA puniam divisas emergentes. O peso mexicano despencou em razão de questões política internas e desmonte mais agudo do carry trade, o que acabou limitando o fôlego da moeda brasileira.
No início da tarde, o dólar chegou a operar em alta moderada e romper o teto técnico e psicológico de R$ 5,50, com máxima a R$ 5,5102. A maré começou a virar assim que o Fed divulgou sua ata, às 15 horas, revelando que já houve debates para cortes de juros nos EUA em julho e que a “vasta maioria” dos dirigentes do BC americano espera redução da taxa básica em setembro.
Embora não tenha conseguido se aproximar da mínima na casa de R$ 5,45 vista pela manhã, o dólar se firmou em terreno negativo. Nos minutos finais da sessão, quase zerou as perdas, fechando R$ 5,4821 (-0,02%). Na semana, a divisa ainda apresenta valorização (+0,26%). No mês, as perdas são de 3,06%.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene – operou em queda ao longo do dia e chegou a furar o piso de 101,000 pontos, com mínima a 100,923 pontos, nos menores níveis do ano.
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que as divisas emergentes pares do real também não se conseguiram se beneficiar do enfraquecimento do dólar. O peso mexicano amargou baixa de quase 2%, o peso colombiano teve perdas acima de 0,50% e o rand sul-africano operou praticamente no zero a zero.
“A queda da taxa dos Treasuries agora é ruim para emergentes. Há um aumento do receio de um ‘hard landing’ nos Estados Unidos”, afirma Weigt, em relação à possibilidade de uma desaceleração abrupta da atividade nos EUA. “No caso do México, o governo tenta passar um projeto de lei que diminui os poderes do Judiciário. Além disso, o carry trade com o peso mexicano era bem mais pesado do que com o real, e agora há uma reversão”.
Nos EUA, pela manhã o Departamento do Trabalho americano informou que a revisão do relatório de empregos, o payroll, mostrou que a economia do EUA gerou, no período de 12 meses terminados em março, 818 mil vagas do que o divulgado anteriormente.
Após a divulgação da ata do Fed, o mercado ampliou a chance de que a abertura do ciclo monetário seja com uma redução de 50 pontos-base, embora o corte de 25 pontos-base siga como o mais provável, mostra a plataforma de monitoramento do CME Group. Para o final do ano, houve aumento na probabilidade de um corte acumulado de 125 pontos-base. As chances maiores ainda são de um alívio de 100 pontos-base.
O superintendente da Mesa de Derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, observa que o real se apreciou bastante de 5 de agosto, quando o dólar à vista fechou a R$ 5,7414, e agora passa por um período de acomodação. Por ora, ele vê o dólar rodando entre R$ 5,40 e R$ 5,50, sem gatilhos que levem a taxa de câmbio para a faixa de R$ 5,30.
“A postura mais firme do Banco Central ajudou bastante e, obviamente, um aumento da taxa Selic ajudaria o real. Mas ainda temos muitas incertezas no fiscal e até em relação à economia americana”, afirma Chiumento, para que, após a ata do Fed confirmar a expectativa de corte de juros nos EUA em setembro, investidores vão aguardar do presidente do BC norte-americano, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole na sexta-feira, 23, para calibrar as apostas em torno da magnitude da redução.
Por Antonio Perez
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