Os juros futuros cumpriram trajetória de alta nesta quinta-feira, pela terceira sessão consecutiva. A queda do dólar não conseguiu produzir alívio nos prêmios de risco, inicialmente em função do IPCA-15 de julho acima da mediana das estimativas e depois pelo aumento do risco fiscal, dada a possibilidade de o corte de R$ 25 bilhões no Orçamento de 2025 subir no telhado. Com isso, cresceram as apostas num aperto da Selic no Copom da semana que vem e mais ainda nos próximos meses, já voltando aos 100 pontos-base para o fim de 2024.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,785%, de 10,683% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 11,59% para 11,77%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 12,03% (de 11,84%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 12,23% (de 12,13%).
As taxas de curto e médio prazo foram as que mais subiram, refletindo a percepção de que a política monetária terá de ser firme para enfrentar o cenário desafiador que se desenha para a inflação. Cálculos do Banco Bmg mostram que para o Copom de julho a chance de alta de 25 pontos-base para a Selic subiu para 24%, de 16% ontem, e para o fim de 2024 saltou de 11,35% para 11,36%.
Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, a precificação nesses níveis se dá mais em função do estresse e da aversão ao risco do mercado. “Não vejo a Selic subindo até o fim do ano. A atual gestão do BC deve manter a taxa em 10,50%”, afirma.
O primeiro gatilho a puxar hoje as taxas foi o IPCA-15, que subiu 0,30% em julho, ante 0,39% em junho, superando o consenso das projeções de 0,23%. Foi a maior taxa para o mês desde o 0,72% de 2021. Em 12 meses, a inflação chega a 4,45%, perto do teto da meta de inflação de 4,50%.
“Dada a turbulência nos mercados brasileiros, a leitura da inflação acima do esperado dá argumentos para aqueles que veem possibilidade de um aumento da taxa de juros em 2024. No entanto, esperamos que o Banco Central mantenha a taxa Selic em 10,50% por um longo período”, afirma Alexandre Maluf, economista da XP.
Entra ainda na conta do mercado a desvalorização do câmbio. O dólar esteve em queda nesta quinta-feira, mas ainda acima dos R$ 5,60, fechando a R$ 5,6478 (-0,15%), o que tende a desancorar ainda mais as expectativas futuras que, por sua vez, são o grande foco no balanço de risco do Copom.
Também a preocupação com os administrados, que já puxaram para cima o IPCA-15 de julho, deve ser reforçada se estiverem corretas as projeções de consultorias especializadas em energia, de que a Aneel optará por manter o acionamento da bandeira amarela – que representa cobrança extra na conta de luz – em agosto.
O segundo gatilho do dia veio pelo lado fiscal. A informação apurada pelo Broadcast de que a equipe econômica admite não haver condições para um aperto de R$ 25 bilhões no Orçamento de 2025 sem a definição da compensação para a desoneração da folha de pagamentos deu gás extra para o avanço das taxas no meio da tarde.
Nas últimas três sessões de alta, as taxas subiram 30 pontos-base, mas ainda assim é vista com reserva a possibilidade de grandes correções no curto prazo. “O congelamento de R$ 15 bilhões no Orçamento já era considerado bem abaixo do necessário e as incertezas fiscais só crescem. E, com o câmbio nesses níveis, pode ser que tenhamos de trabalhar com esses prêmios elevados por um bom tempo”, afirma Pletes, lembrando que o cenário remete aos anos de governos do PT em que o “descontrole fiscal” catapultava os prêmios de médio e longo prazos na curva.
Por Denise Abarca
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