Os seres humanos não são os únicos animais do planeta que realizam rituais para lidar com a morte de seus entes queridos. Essa foi a conclusão de uma pesquisa que registrou pela primeira vez elefantes na Ásia enterrando seus filhotes. Além de observarem que os elefantes mortos eram colocados na cova na mesma posição, os pesquisadores notaram que a manada vocalizava durante o ritual e, em seguida, passava a evitar o local da cova.
“A maneira com que os não humanos lidam com a morte e os mortos reflete o seu lado cognitivo e emocional”, observa o artigo, que foi publicado na revista Journal of Threatened Taxa. Outros animais, como da ordem dos cetáceos (grupo de mamíferos marinhos do qual fazem parte as baleias) e primatas também apresentam fortes reações a mortes de seus filhotes. No caso dos elefantes, diz a pesquisa, o carinho em relação à cria ultrapassa o âmbito da mãe e atinge toda a manada.
CINCO COVAS. Os autores da pesquisa observaram cinco covas em uma área de cultivo de chá no nordeste de Bengala, Estado da Índia. Eles constataram que, em todas essas covas, os corpos de filhotes de elefantes foram colocados na mesma posição: de barriga para cima, com a terra os cobrindo de forma parcial e deixando à mostra as patas.
Isso indica que a manada arrastou as carcaças dos filhotes até um local considerado apropriado, com baixa presença humana e de animais carnívoros. A terra também precisava estar úmida para facilitar o escavamento. Por isso, eles levavam as carcaças até áreas de cultivo de chá, distantes de povoados.
RITUAL COLETIVO. Ao analisar as covas, os pesquisadores notaram que havia uma série de pegadas de elefantes em todo o entorno delas. Isso significa que o ritual do enterro é coletivo e conta com a colaboração de toda a manada. Enquanto enterravam a prole, os elefantes vocalizaram durante 30 e 40 minutos.
A posição em que o corpo foi deixado indica que os animais priorizaram a cabeça do filhote em vez dos pés no enterro. A pesquisa também afirma que os filhotes foram postos de forma delicada, com ajuda de vários membros da manada. Um comportamento que denota carinho e sociabilidade.
O estudo destaca que os elefantes são apegados a seus filhotes por conta da comprida gestação de 22 meses e por ter no organismo a presença de ocitocina, hormônio que promove contrações musculares uterinas durante o parto e a ejeção do leite durante a amamentação, também conhecido como hormônio que promove sentimentos de amor, união social e bem-estar.
Depois do enterro, os animais passavam a evitar a cova em seus trajetos, mesmo que para isso tivessem que percorrer um caminho paralelo ao local. O comportamento difere, por exemplo, dos elefantes africanos, que visitavam as covas em variados estágios de decomposição. Apesar das diferenças, em ambos os casos o local do sepultamento se mostrava importante para a manada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Ramana Rech
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