Os juros futuros voltaram a subir nesta quarta-feira, novamente espelhando o comportamento dos Treasuries. A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed), lida como hawkish, diminuiu as apostas em cortes nos juros americanos. Aqui, declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, levantaram preocupações com a possibilidade de elevação da meta de inflação e ajudaram a sustentar a alta das taxas.
Os juros de todos os contratos de depósito interfinanceiro (DI) subiam aos maiores níveis desde meados de abril. A taxa do DI para janeiro de 2025 passou de 10,356% no ajuste de ontem para 10,395%; a do DI para janeiro de 2027 avançou de 11,005% para 11,145%; e a do contrato para janeiro de 2029, de 11,496% para 11,620%.
Evento mais aguardado da semana, a divulgação da ata da última reunião do Fed reforçou nos mercados a percepção de que o BC americano está menos disposto a reduzir os juros. Os dirigentes disseram que não houve progresso na desinflação no primeiro trimestre e afirmaram estar “muito atentos aos riscos de inflação”. Vários deles, inclusive, mencionaram que estariam dispostos a aumentar ainda mais as taxas caso os riscos para a inflação se materializem.
“Foi uma leitura mais hawkish do que vinha se esperando, até porque as últimas falas dos dirigentes do Fed não foram tão duras quanto essa ata. Agora, o mercado já está precificando que, se tudo der certo, o Fed vai cortar juros apenas uma vez em 2024”, explica o gestor de multimercados e renda fixa da Mag Investimentos, Ricardo Jorge.
Aqui, as atenções do mercado ficaram voltadas para declarações do ministro Fernando Haddad. Durante a manhã, enquanto participava de uma audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, ele classificou a meta de inflação de 3%, definida pelo próprio governo, como “exigentíssima para as condições do Brasil.”
O comentário renovou temores de que o governo possa, eventualmente, agir para aumentar a meta. O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu, em junho, que manteria a marca em 3% e alteraria o sistema, hoje de ano-calendário, para uma “meta contínua.” Mas o governo ainda não publicou o decreto que regulamentaria essa alteração.
“Se você quiser ser pessimista, tem agora a perspectiva de um governo trabalhando com uma inflação mais alta aqui, o que vai demandar juros mais altos, e também os juros mais altos nos Estados Unidos, o que diminui o espaço para reduzir a Selic”, afirma o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.
Por Cícero Cotrim
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