As ações da Petrobras até ensaiaram uma recuperação ao longo do dia, depois do tombo de mais de 10% na sexta-feira, 8, mas novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltaram a derrubar os papéis nesta segunda-feira, 11. Em entrevista ao SBT, Lula criticou a distribuição extraordinária de dividendos da Petrobras, disse que não é possível atender “apenas à choradeira do mercado” – que é um “dinossauro voraz” – e completou que a estatal deve “pensar no povo”. As falas aumentaram o temor de ingerência política na Petrobrás.
As declarações de Lula foram divulgadas pouco depois das 16h, quando as ações da Petrobras subiam entre 1% (ordinárias) e 2,3% (preferenciais). No fim, fecharam em queda de 1,92% (ON) e 1,30% (PN), puxando para baixo o Ibovespa. Principal indicador da Bolsa de Valores, o índice registrou queda de 0,75%, aos 126,1 mil pontos, o menor patamar desde 7 de dezembro. A queda dos papéis da Vale também influenciou o índice.
“Você vê nitidamente que existe uma certa disputa política que é ruim para a empresa, é ruim para o mercado e acaba afastando os investidores”, afirma o sócio-fundador da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno. “Essa cautela (do mercado) acaba transbordando para todas as empresas que têm exposição ao governo.”
A entrevista ao SBT foi gravada ontem cedo, antes de reunião que Lula manteve, à tarde, com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). A notícia da reunião chegou a animar o mercado, que viu a possibilidade de a estatal voltar atrás na decisão de não fazer a distribuição extraordinária de dividendos.
“O que não é correto é a Petrobras, que tinha de distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, querer distribuir R$ 80 bilhões. É R$ 40 bilhões a mais que poderiam ter sido colocados para investimento, fazer mais pesquisa, mais navio, mais sonda. Não foi feito”, disse Lula. “Tivemos uma conversa séria com a direção da Petrobras.”
Ele afirmou que é preciso a empresa “pensar no povo” e que tem compromisso com a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. “Se for atender apenas à choradeira do mercado, não faz nada. O mercado é um dinossauro voraz, quer tudo para ele e nada para o povo”, afirmou.
“Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome? Será que as pessoas não têm pena de 735 milhões de pessoas que não têm o que comer? Será que o mercado não tem pena das pessoas que dormem na sarjeta no centro de São Paulo, no Rio de Janeiro? Será que o mercado não tem pena das meninas com 12 ou 13 anos que às vezes vendem o corpo por causa de comida?”, questionou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Caio Spechoto e Cícero Cotrim
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